L-k Yi u '.•,.-'"■ DICCIOMRIO-ALBITM A historia do amor é a historia do género humano. Carlos Nodier. Typographia da Voz Feminina íd aias, a wmm a a ra/arara PENSAMENTOS, POESIAS, PROVÉRBIOS, ANECDOTAS ETC. COMPILAÇÃO DE GRANDE PARTE DO QUE SE TEM DITO E ESCRIPTO A RESPEITO DAS MULHERES E DO AMOR, COLLIGIDA DOS MELHORES AUTORES, TANTO NAGIONAES COMO ESTRANGEIROS E AUGMENTADA POR L DE CLARANGES 1869 'S8 mmtoDuccAO Este livro, (assaz o indica o seu titulo de diccionario) não é dos que se podem ler de um fôlego. Convém antes folheal-o, espaçar as leituras, e principalmente consultal-o com frequência. Um escriptor abalisado, Carlos Nodier. disse : «A historia do amor é a historia du género humano.» Escrever essa historia seria impossível : nem é esse o nosso intento. Conhecer o amor; levantar, se é possível, uma ponta do \èo que encobre o coração humano; sondar, por assim dizer, o oceano dos sentimentos, e os abysmos da paixão; apontar em fim as causas que produzem o movimento do eter- no e agigantado actor da scena do mundo, o amor; tal é o nosso propósito ! Para conseguir este Qm, aqui reunimosoque disseram e escreveram acerca do assumpto não só os homens dislinctos de todos os pai- zes, mas até as mulheres mais espirituosas, de modo que o livro éuma collecção varia- díssima de opiniões e conselhos por elles da- dos em matéria que preoccupou, preoccupa e ha de preoccupar eternamente a humanidade. O homem encontrará n'este livro pensa- mentos cuja rectidão será por elle apreciada, a mulher conselho e luz, e ambos em muitas paginas o próprio retrato, e a norma de pro- ceder dictada por um magestoso areópago de espíritos superiores que vem, atraves- sando o espaço e saccudindo o pó dos túmu- los, pronunciar a sentença apontada pela ra- zão, e mais que tudo pela experiência, tão indispensável a gente moça. Juntámos ás idéas de muitos escriptores estrangeiros, paginas de escriptores portu- guezes para qne o livro, como ura ramo de flores, captive a attenção do leitor, pelo ma- tiz -e pelo aroma. Depois das definições, seguem-se paginas em branco onde se poderá registrar os pró- prios pensamentos, formando d'esta collec- ção ura álbum chamado com razão, o álbum do coração. L. de C. ©l€€10MAB10»AE,Blffif -&SSSS&- Querendo escrever um dia mal que tanto estimei ; Cuidando no que poria, Vi Amor que me dizia : Escreve, qu'eu notarei. E como para se ler Não era historia pequena A que de mi quiz fazer, Das azas tirou a penna Com que me fez escrever. E, logo como a tirou, Me disse: Aviva os esp 'ritos, Que pois em teu favor sou, Esta penna que te dou, Fará voar teus escriptos. E dando-me a padecer Tudo o que quiz que puzesse, Pude emfim d'elle dizer, Que me deu com qu'escrevesse O que me deu a escrever. Tirou das azas a penna E lavrou aqui Amor, Is 'este livro de primor, Sentença que já condenina, Por sacrílego e traidor, A todos o que a mão impura K'estas paginas pozer, Tomando, com falsa jura O seu sancto nome em vão, Para n'ellas escrever O que impresso não tiver Bem fundo no coração. Vise. d'Álmeida Garrett. Camões. ÁLBUM ABANDONO O amor accende muitas vezes fogos mais ar- dentes que os de Vulcano. Os seus furores in- sensatos fazem, com que a donzella abandone a casa paterna, e a esposa o leito nupcial. Theocrilo. abandono é ás vezes o caminho para o suicidio. L. de C. Ha no abandono uma espécie de desprezo ao qual nunca nos devemos expor. É mister aban- donar, mas não ser abandonada. Mad. de Rieux. ACASO Em amor, o acaso é tudo; deveis sempre ter o anzol prompto, pois no sitio onde menos se espera, encontrareis peixe. Ovidio. amor que nos domina mais, é ás vezes aquelle que nasce ao acaso. J. J. Rousseau. A troca de duas almas, a fusão de dois co- rações em um só, nunca pôde ser filha do acaso, mas sim obra da Providencia, que nos conduz por caminhos desviados ao encontro sympalhico de uma alma irmã. L. de C. ACÇÃO É um insignificante meio para alcançar, o fallar constantemente no nosso amor; se os dis- cursos lisongeiam as mulheres, as acções so- mente teem o poder de as convencer. Ovidio. Uma mulher desculpa até as más acções, que a sua belleza obriga a commetter. Lesage. As mulheres teem pouca sympathia pelos contempladores, e prezam muito mais aquelles que põem as suas palavras em acção. E de facto fazem bem, porque, obrigadas pela posição so- cial a calarem-se e a esperar, preferem natu- ralmente aquelles que se lhes dirigem e faliam: assim podem sair de uma situação falsa e abor- recida. T. Gaulier. Todas as nossas acções, filhas do amor, de- vem gravitar para Deus, como centro do todas ellas. Fora deste movimento ha a perdição das glorias promettidas; porque, no reino do céu no tribunal do Eterno, não ha a infracção das leis geraes do espirilo. Castello Branco. ACEIO Ordem, economia, aceio, pequenas virtudes que fortalecem as grandes. Uma mulher que não tem arranjo em casa é como um soldado sem valentia diante do inimigo. Richard. primeiro adorno de uma senhora, quer seja moça quer seja edosa, é o aceio. Mad. Deffand. único atavio das mulheres deveria ser o aceio. Bugny. Não ha no mundo nada mais repugnante do que a mulher pouco limpa; o marido que se enoja d'ella tem razão. Uma senhora não deve só cuidar em bem fazer as cousas, deve também fazel-as com aceio. /. /. Rousseau, O aceio é o enfeite da velhice. Mad. Necker. A mulher enxovalhada enoja quem olha para cila, e envergonha quem a possue. liaras vezes a mulher desacciada é mulher honrada. Faz-se pouco caso do conceito alheio quando se não faz nenhum do próprio. A mulher suja não é mulher, é um monstro. Rétif de la Breíonne. ACOMMETTIMENTO Em amor, ou se não acommetle, ou se ga- nha a praça.' Ovídio. Quando os homens acommettem a mulher, se- guem a sua inclinação, mas quando as mulheres se defendem, não seguem a sua; por isso, o que, em amor, é para unsvictoria, para outros é derrota. Fontenelle, Não devemos acommetter a mulher pelos sen- tidos mas pelo coração, pela imaginação, ou pela vaidade. Sainí Prosper. Acommetter para vencer. Provérbio. ÁLBUM ADIVINHAR O amor é um sentimento tão delicado, que um amante nunca deve saber se é amado senão adivinhando-o. Mad. de Sartory. As mulheres adivinham que são amadas muito antes de lh'o dizerem. Marivaux. Dos sentimentos da mulher só devemos adi- vinhar o que lhe pôde agradar. O amor não precisa ser adivinhado; dá-se a conhecer, e muitas vezes quanto mais se quer occultar, mais se torna evidente. ADMIRAÇÃO As mulheres louvam de boa vontade os que as admiram. /. /. Rousseau. A belleza é como uma taboleta que attrahe o amor. Uma admiração muito viva torna decisiva a mais pequena esperança. Stendhal. Aos quinze annos, as mulheres admiram os homens esbeltos por tolice ou por interesse, aos quarenta por convicção. Mad. de Girardin. Quando admiramos uma mulher bonita, obe- decemos assim a uma inclinação natural. L. de C. ADORADOR A felicidade de muitas mulheres consiste ás vezes no numero dos adoradores, e o seu orgu- lho em os ter sempre novos. Rochebrune. Não é necessário queimar a mulher que ado- ramos para saber que de um idolo nunca po- derá ficar mais que um pouco de pó. Stahl. A necessidade de amar para a mulher não é mais que o desejo de ser amada. Mad. Necker. Os verdadeiros adoradores são os sacerdotes do amor. L. de C. DICCIONARIO ADULAÇÃO Quando se trata de adular uma mulher, tudo 1 le podemos dizer; a sua vaidade é tanta que todo acredita. Rica rd. As mulheres bonitas são como os monarchas; não se adulam senão por interesse. L. de C. Com assucar e com mel até as pedras sabem Lem. Provérbio. ADULTÉRIO O adultério é a curiosidade do amor e dos prazeres alheios. Plutarco. Não ha maior criminoso que aquelle que de- seja a mulher alheia. Aquelle que cubica uma mulher commette um adultério em pensamento. Jesus Christo. Aquelle que rouba um carneiro ou um vestido pódc restituil-os; mas os que rompem os laços sagrados do casamento nunca mais os poderão reatar : por isso devem ser mortos, e os que morrerem sentirão menos a sua deshonra que os que ficarem vivos. Mafoma. As mulheres não podem commetter os males de que são arguidas, sem que os homens sejam seus complices, por isso também elles são cul- pados, e se, no adultério o crime é egual, por- que deixará de sel-o o castigo ? Facimus quos inquinai acquat crime torna eguaes todos aquellesquenello se envolvem. Mad. de Sartory. Ha no mundo social um monstro que causa grandes estragos; quebra a paz, separa os es- posos que se amavam, e obriga-os a commelte- rem assassínios. Fallo no adultério, crime hor- roroso pelo qual se castigam as mulheres, mas não bastante os homens, porque elles são quem fizeram as leis. Blondel. adultério é uma quebra, com a differença que o credor é que fica deshonrado. Champfort. No Egypto dizia uma lei que toda a mulher apanhada em adultério teria o nariz cortado e o homem os olhos tirados. Se essa lei estivesse em vigor entre nos, quantos cegos e mulheres sem nariz se haviam de ver por este mundo! Ricard. Um marido enganado que recorre aos tribu- naes é um doente louco que augmenta os seus males. Ricard. ÁLBUM A lei de Moisés condemnava á morte as adul- teras, os Egypcios cortavam-lhes o nariz, a lei Júlia em Roma condemnava-as a terem a ca- beça decepada ; hoje entre nós quando uma mulher é surprehendida com o amante, faz-se cscarneo do marido. Champfort. adultério, que no Código Civil é um facto imraenso, não passa, em coisas de galanteio, de um negocio de baile de mascaras. Napoleão i. adultério está no pensamento de toda a mu- lher que vê um homem que lhe agrada, e nos olhos de todo o homem que vê uma mulher for- mosa. R içar d. adultério é um abuso de confiança; em vez de se roubar dinheiro, rouba-se honra. AFAGOS As solteiras julgam que os homens casados acariciam constantemente suas mulheres, e os frades julgam que os militares andam sempre de espada na mão; todavia, fazem-se ás vezes dez campanhas sem que a espada saia da bainha. Turenne. Em amor, os afagos offerecidos poucas vezes teembom êxito, e ainda é mais raro queseof- fereçam quando merecem ser procurados. Duelos. Gritae, dizia Fontenelle, já velho, a uma me- nina que fugia dos seus carinhos, gritae, será isso lisongeiro para nós ambos. Os amantes usam no seu idioma grande mul- tidão de palavras das quaes cada syllaba é um afago. Rochpèdre. Os pequenos afagos levam-nos a maiores. A mulher que pouco se defende d'elles, convida a renoval-os. Invitat culpam quae peccatum praeter. Mear d. A mula e a mulher com a dados. Provérbio. A mulher tem tudo a ganhar com a meiguice; com o orgulho e os desabrimentos de um cora- ção duro, nada. A. M. de Castilho. 14 AFFECTAÇÃO A natureza, pormuito simples que seja, é pre- ferível á affectação a menos ridícula; defeito por defeito antes os que são naturaes de que os do- tes fingidos. Saint-Evremond. k affectação n'uma mulher é insupportavel, n'um homem torna-se repugnante. L. de C. L'ma senhora que, por affectação costumava carregar no r de um modo que chegava a ata- car os nervos dos circumstantes, dizia um dia a certo sujeito: —As senhorrras parrisienses costumam rrirr por qualquerr rridicularria. — É ve'dade, (respondeu elle) minha senho'a, as fancezas são muito aleg'es. —O senhor é gago? perguntou ella já meia desconfiada, e esquecendo o engraçado defeito — não pronuncia os rrr? — Pois v. ex. a fazd'elles tão grande despeza, que ohriga os outros a economisal-os para se não acabarem. L. de C. AFFECTO Todcmos, por meio de um affecto fingido, en- ganar uma mulher, se não sentimos um ver- dadeiro por outra. La Bruzet. O verdadeiro affecto engrandece-se com os sacrifícios. L. de C. Quem tem affeição não tem inteira razão. Prov. Por affeição te cas aste, a trabalho te entre- gaste. Prov. AFOUTEZA A afouteza agrada ás mulheres pouco hones- tas; as que teem sentimentos elevados prezam mais a timidez. Molière. As mulheres gostam dos valentes, mas ainda mais dos afoutos. Lemesle. Todo o homem que foi afouto para com uma mulher, 6 criminoso no pensamento d'ella logo que deixe de o ser. Reveroni. A afouteza do amante parece-se com a do soldado: não olhar a obstáculos. L. de C. ÁLBUM AGRADAR Agradar, amar e reinar, eis a mulher. O desejo de agradar nasce nas mulheres an- tes da necessidade de amar. Ninon de Lenclos. Quando queremos agradar ás mulheres deve- mos convidar as moças para dançar e as ve- lhas para jantar. Moncrif. Não se é amado por se amar, mas sim por se agradar. O motivo pelo qual se agrada é um não sei quê tão difficil de dizer, que é melhor convirmos de boa fé que se ama e se é ama- do, sem se saber porque. M. d' Arconville. O destino das mulheres é agradar, amar e ser amadas; aquelles que as não amam são mais loucos que aquelles que as amam de mais. Rochebrune. Feita para agradar, nascendo a bem dizer com esse designio, não vivendo senão para pol-o em pratica, a mulher morre com pena de já não agradar e com desejo de agradar ainda, La Beaumelle. Nas mulheres, o cuidado de se adornar não d mais que o desejo de agradar. Marmontel. As mulheres procuram agradar antes da eda- de da razão, nascem já com essa inclinação, mas ignoram que buscando agradar, encontram também quem lhes agrade e que, querer rou- bar a liberdade alheia 6 expôr-se a ficar sem a própria. Dupmj. Quasi sempre aquelle que mais ama, é o ul- timo a entender que deixou de agradar. Rochpèdre. Quando a mulher deixa de querer agra- dar ainda lhe fica uma ultima garridice, o não Desnoyers. Quasi sempre as mulheres sacrificam o ho- mem honrado que ama sem lhes agradar, ao li- bertino que lhes agrada sem as amar. Dizes que Fileno é tosco, Molle, feio, e sem sabor; Não levas á paciência Terem-lhe as moças amor: Nenhum mérito lhe encontras Porque o devam attender, Que mais mérito lhe queres t Agradar é merecer. Bocage. DICCIONARIO A> mulheres estimam mais ainda os seus en- cantos que as suas paixões. Não ha mulher que possa mais facilmente ser virtuosa que aquella a quem faltam os agra- ALEGRIA Um dos maiores segredos para ser amado consiste em agradar e divertir. Podem-se en- ternecer corações tanto pela alegria como pe- las lagrimas. Mad. de Sartory. Quando a alegria entra no coração de uma mulher deixa a porta aberta para o amor. A. Dupuy. A alegria dos francezes vem-lhes do espirito de sociedade; a dos italianos da imaginação; a dos inglezes da originalidade do caracter, a dos allemães é philosophica; gracejam mais com as coisas e com os livros que com os seus simi- Ihantes. Mad. de Stael. Alegria secreta, candeia morta. As primeiras alegrias do amor são as mais ívas e as menos duradouras. L. de C. ALEIVOSIA Muitas vezes é um amante enganado por uma falsa esperança, e todo o ardor que mos- tram as mulheres não serve senão para enco- brir outros fogos. Molièrc. A aleivosia das mulheres serve ao menos para nos curar do ciúme. La Bruyère O nome de aleivosa é depois de o de des- apiedada, o que agrada mais ao coração de uma mulher, e o menos difficil de merecer. Formoso e aleivoso. Laclos. Prov. ÁLBUM E a alma e não o corpo que torna o casa- mento indissolúvel. Publio Syro. Quando se ama, a alma brilha nos olhos. Eunapio. amor é a paixão das grandes almas, e faz-lhes merecer a gloria quando lhes não faz perder a cabeça. Mad. de Pompadour. No amor, ao marido só pertence a estatua, a alma ao amante. Crébillon, filho. amor ennobrece ou envilece segundo o ob- jecto que o inspira. Mad. de Beaumont. Eu não tenho na terra os meus amores ; Alma afinada pelos sons da minha Só existe nos céos, é nivea estrella. João de Lemos. Um sopro divino formou a alma do homem, a da mulher de um beijo delicioso deveu ser formada. A. F. de Castilho. A corrente, que beija aquella areia, Esta rosa, que ao zephiro abre o seio, A viração, que as arvores menêa, Nos dizem que é o Amor doce recreio. A pura chamma egual d'um par constante Em dobro o faz feliz, o faz contente: Tem um'alma, não mais, o indiífrente, Duas almas encerra um peito amante. amor não se ganha senão com amor. Se ser amado, amai primeiro. Para sermos amados 6 mister sermos amá- veis. Ut ameris, amabilis esto. Ovidio. Um amante que tem certeza de ser amado, deixa de ser amável. Mad. Deshoulière. As mulheres amam melhor quando começam pela edade a tornarem-se menos amáveis. Rochebrune. Quando uma mulher se torna amável para com os homens, parece-lhes tudo quanto quer e até virtuosa. A difficuldade é parecer amável quanto tempo se desejaria. Fontenelle. 18 DICCIONARIO A maioria das mulheres couvcnce-se que é amável, e basta que um homem só, ainda que ioIo ou cego, lb'o diga, para que ellas caiam n'essa vaidade particular, sobretudo aquellas que a menos favoreceu. Saint-Evremont. As mulheres podem tudo quanto única differença que vai d'ellas a nós é serem mais amáveis. Voltaire. Ha muitas mulheres qne seriam extremamente amáveis se podessem esquecer que o são. Marivaux. Amantes, quereis conservar um coração? sede ainda mais amáveis depois de felizes de que antes. Mad. Dufrenoy. Para as mulheres feias, a amabilidade é o veneno da sua feialdade. L. de C. AMANHA Amará amanhã aquelle que nunca amou. Cras amet qui nunquam amavit, quique amavit, eras amet. Quando amamos, o dia de hoje é tão lindo que não nos podemos lembrar do de amanhã. Em negócios d'amor, antes hoje que amanhã; ventura differida é ventura perdida. Um amante crê tudo quanto teme. Amans semper, quod timet, esse putat. Ovidio. Amantes velhos que faliam na sua juven- tude não podem olhar um para o outro sem rir ou chorar. Publio Syro. Um dos effeitos do amor é transformar os amantes e tornal-os similhantes ao objecto amado. Petrarca. Uma mulher conserva sempre o primeiro amante em quanto não toma segundo. La Rochefoucauld. Uma mulher é digna de todo o conceito quan- do procede com um amante de modo que o obrigue a ficar sempre seu amigo. Mad. de Puisieuz. As mulheres consideram os amantes como cartas de jogar. Servem-se cTellas para jogar algum tempo e depois de ganharem, deitam-as fora, pedem cartas novas e ás vezes perdem com estas tudo quanto ganharam com as pri- meiras. Pope. Os amantes obsequeiam de melhor vontade os seus amigos namorados que os outros. Mad. de Sartory. Os amantes nunca se aborrecem de estar jun- tos, porque faliam sempre de si mesmos. La Rochefoucauld. Uma mulher não se pode fiar de um amante depois de perder a belleza, mais que um ho- mem de um amigo quando perdeu as suas ri- quezas. Pope. È preciso mais virtude a uma mulher para ter um amante só que para não ter nenhum. primeiro amante de uma mulher nunca é o ultimo. Dupuy. Os amantes apaixonados parecem-se com os ÁLBUM grandes falladores, contentam-se com serem es- cutados e dispensam as respostas. Chabanon. Quer se chegue cedo ou tarde pouco impor- ta; quando se consegue, sempre se é o primei- ro amante da mulher. Lados. Uma mulher de espirito disse-me uma pala- vra que bem poderá ser o segredo do seu sexo: é que quando uma mulher acceita um amante considera mais o modo por que elle é olhado pelas outras mulheres que o modo por que ella mesma o olha. Champfort. Um amante é um homem ás mãos do qual uma mulher entrega a sua reputação e a sua felicidade. Mad. Adanson. Um amante é um arauto que proclama ou o mérito ou o espirito ou a belleza de uma mu- lher. que proclamará o marido ? Balzac. Com as mulheres fracas devemos ter ciúmes i9 do amante que foi, com as mulheres fortes do amante que será. P. Limayrac. Ainda mesmo que as mulheres fossem immor- taes, nunca conheceriam o seu ultimo amante. Lamennais. Um amante que já se não ama serve ainda para alguma coisa: para oceultar o que se ama. Ricard. que é uma amante ? uma mulher junto ã qual nos esquecemos d'aquilio que sabemos de cór, quero dizer dos defeitos do seu sexo. Champfort. É ás vezes mais difficil desfazer-se d'uma amante que adquiril-a. Ninon de Lenclos. Quem julga amar a sua amante só pelo amor d'ella, engana-se. La Rochefoucauld. 20 DICCIONARIO V. melhor abolir a nobreza que a virtude; c a mulher de um carvoeiro é mais respeitável ;.:nante de um príncipe. J. J. Rousseau. Um dos maiores soffrimentos é sentir a perda de um bem que ainda existe, mas que não exis- te para nos. Por isso é que mais facilmente nos consolamos da morte de uma amante que da sua infidelidade. Jfr. (TAvconville. A cabeça de um amante é coisa sem expli- cação, elle adora a sua amante por ella ser vir- tuosa e lastima-se por ella não querer deixar de o ser. Champfort. É fácil encontrar uma amante e conservar um amigo, e muito difficil encontrar um amigo e conservar uma amante. Levis. Quando se tem só uma amante, torna-se tão incommoda como uma mulher. As amantes parecem-se com a sombra do re- lojio do sol, vão-se com a claridade do dia. Levis. A amante de quem menos caso fazemos, logo que mostre cuidar n'outro homem tira-nos o descanço e semeia no nosso coração todas as apparencias da paixão. Stendhal. Fazer de uma amante nossa mulher é mu- dar um vinho soffrivel cm péssimo vinagre. Blondel. AMBIÇÃO A maior ambição das mulheres é inspirar amor. São esses os seus cuidados, e a mais or- gulhosa sente o coração satisfeito ao ver as conquistas que fizeram seus olhos. Molière. amor, hoje, é toda a ambição da mulher; no homem pelo contrario, não é as mais das vezes, senão o somno momentâneo da ambi- ÁLBUM AMIGO Uma mulher perde quando faz de um amigo um amante, mas ganha quando de um amante sabe fazer um amigo. Mad. de Puisieuz. Perdemos mais da metade de um amigo quan- do elle se torna namorado. Mad. de Sartory. Nada ha mais perigoso para uma mulher que as fraquezas da sua amiga; o amor, já não pouco seductor por si mesmo, torna-se ainda mais por contagio. Ninon de Lenclos. Tornar-se amigo de uma mulher que se amou, é um meio honesto de a esquecer; o amor sub- stituído pela amizade já não é amor. #. elle de 1'Espimsse. Um coração cheio de amor precisa derramar- se, e da necessidade de uma amante nasce a ne- i um amigo. /. /. Rousseau. Senhor, dizia um dia a condessa de Teucin ao visconde d'Hervigny, seu protegido, fazei por ter antes amigas que amigos, com a aju- da das mulheres obtem-se tudo dos homens. Mear d. Não ha amigo tão agradável como uma aman- te que nos ame sinceramente. Bernardin de Saint Pierre. As mulheres novas partilham com os reis a infelicidade de não terem amigos mas não o sabem porque a grandeza de uns e a vaidade das outras oceulta-lhes esta triste verdade. Champfort. Em todos os tempos o amor e a amizade fi- zeram prodígios, mas hoje, quantos maridos de- vem aos seus amigos a fecundidade de suas mulheres. Sophie Arnoud. As mulheres amam com mais duração os ami- gos velhos que os seus jovens amantes; enga- nam por vezes o amante, nunca o amigo. Mercier. Não se 6 o amigo de uma mulher quando se pôde ser seu amante. Balzac. A mulher é a amiga natural do homem e comparada com essa, qualquer outra amizade é fraca ou suspeita. Bonald. Preso e captivo não tem amigo. Amigos que se desavem por um pão de cen- teio, ou a fome é muita, ou o amor pequeno. DICCIONÀRIO O amor sò recorre á amizade quando teme ou deseja. Mad. de Sartory. A maioria das mulheres enternece-sc pouco com a amizade, porque esta é insípida comparada com o amor. La Rochefoucauld. amor e a amizade querem-se como dois irmãos que se preparam para partilhas. Oxenstiern. Em amor, as mulheres são mais entendidas que os homens, mas em amizade os homens levam-lhes a palma. La Bruyère. que torna as amizades tão frias e de tão pouca duração entre as mulheres? São os inte- resses do amor e a inveja das conquistas. /. /. Rousseau. amor, quando existe só não passa de um fogo passageiro, de um desejo ou de uma pai- xão, mas quando se ajunta com a amizade re- cebe d'este sentimento a plenitude e a duração da sua existência. Labouisse. A amizade é a palavra preferida pelas mu- lheres quer seja para receber o amor quer seja para o despedir. Sainte Bcuve. Como poderia o amor satisfazer-se com a ami- zade se nella vê não o que dá mas o que re- cusa. Latena. Uma amizade nova pôde distrahir de um amor antigo. A amizade entre duas mulheres dura tanto como uma rosa entre duas tempestades. Entre Paulo e Virginia a primeira amizade já era amor: nas almas innocentes estes dois sentimentos accendem-se ao mesmo foco. Rochpèdre. amor pôde fazer esquecer a amizade, mas não consolar-nos da sua perda. Massias. sentimento mais perfeito é a amizade que vem substituir o amor entre um homem e uma mulher que não teem que corar de se terem amado nem de terem acabado de se amar com o primeiro ardor da juventude. Daniel Stern. Passar do amor para a amizade é coisa ra- ríssima entre homens e mulheres que se ama- vam; todavia não é impossível similhante caso, basta que para isso haja um bom espirito e um bom coração. Saint-Evremonl. Poucas mulheres quando são moças, nos agra- decem a simples amizade. Dufresne. A amizade de um homem é ás vezes um en- costo, a de uma mulher é sempre uma alivio. Rochpèdre. ÁLBUM A amizade de duas mulheres nunca passa de uma conspiração contra outra mulher. A. Karr. De amigo lisongeiro e de frade sem mosteiro, não cures. Provérbio. AMOR É difficil definir o amor : o que podemos di- zer, é que na alma é uma paixão de reinar; do espirito, uma sympathia, e no corpo um desejo oceulto e delicado de possuirmos o que amamos apoz muito mysterio. La Rochefoucauld. Não se pôde conhecer a causa e a natureza do amor; é um não sei o que, que vem não sei de onde, fórma-se não sei como, e nos encanta não sei porque. P. clu Bosc. É um mal contagioso que torna phrene ticos os que possue. Hamilton. amor tem mais fel que mel. ímpia sub dulci melle venena latení. Ovidio. De todas as paixões, o amor é a que per- turba mais a razão, a que excita mais des- ordem na alma e a obriga a commetter os maio- res erros. Não vai quasi diferença alguma de um namorado para um doido ; as acções de um teem bastante analogia com as do oulro,e se a loucura perturba o juizo, o amor perturba o espirito, e desarranja a razão. Se considerarmos os que amam, veremos um ter amor por o que não é amável', outro ter ódio ao que é digno de amor; que um acha feio o que é lindo, e outro lindo o que é feio; que um estima o que deveria desprezar, e ou- tro despreza o que é digno de estima. Veem-se, alguns que seguem o que lhes foge, outros que fogem de quem os quer; e certamente, cegos poderiam muita vez escolher com mais acerto. Se, pois, a razão é o melhor de todos os bens, segue-se necessariamente que aquillo que nos tira a razão é o peior dos males. Para conhecer o pouco discernimento d'eata paixão, basta observar com que pequenas coi- sas ella se satisfaz, das quaes ella faz os seus mais queridos thesoiros. Um olhar, um sorriso, uma palavra, um pequeno bilhete, uma insi- gnificante fitinha são o fim dos seus desejos; o objecto das suas esperanças, a recompensa dos seus trabalhos e a recompensa dos seus servi- ços. E todavia para obter bens tão valiosos é preciso gemer, suspirar, aturar muito e por muito tempo sem queixas ; é necessário ter um cuidado continuo, estar n'uma inquietação per- 2'. DICCIONARIO rder o appetitc c o somno, nãofallar, Dão dormir, não rir; andar pallido e desfigurado, pensativo e melancólico. K mister, para poder entregar-se a tão agra- dável occupação, desprezar amigos, interesses, repntaçie; è necessário proceder como se só i-xistisse uma pessoa em todo o mundo, olhar eómente para ella, estimar só a ella, e não a deixar mais que a sombra o corpo, tornar-se maçador, e depois de ser amante feliz tornar- se objecto de ódio por tanto querer ser amado. Mas nada isto é, comparado com o ciúme que segue sempre o amor. Não, não tem o inferno supplicio egual a essa paixão atroz que desordena a alma, perturba os sentidos, avoca phautas- mas que não existem, impinge mentiras por verdades e sonhos como realidades. O ciúme nuíre-se de veneno, é uma d'estas serpentes que matam os que lhes dão o ser; as suas mais doces distracções teem por objecto, precipícios ou despenhadeiros, venenos ou punhaes, a morte de um rival ou a própria. Esta fúria deulogar a mil assassínios, a mil crimes horrendos. Por isso os poetas que pintaram o amor, o representaram creançapara exprimir seu pouco siso, com uma faxa para figurar a cegueira d'aquelles que o sentem, e com armas para mostrar os estragos que ellc causa, e emlim, pozeram-lhe na mão um faxo para dar-nos a entender o incêndio que abraza a alma e que destroe ás vezes, casas, cidades, províncias e monarchias inteiras. il/. ell ° de Scudéri. O amor é uma creança que sempre devemos trazer pela mão para elle se não perder. Éum cego manhoso que deseja tirar os olhos a quem o conduz para poderem desencaminhar-se am- bos. P. du Bosc. amor é filho da pobreza e do deus das ri- quezas. Da pobreza porque sempre pede, do deus das riquezas por ser dadivoso. Platão. amor é o arebitecto do universo. Hesiodo. amor 6 o perturbador do mundo. Bacon. amor é uma lona dada pela natureza e bor- dada pela imaginação. Voltaire. amor 6 o mais agradável e o melhor dos moralistas. Bacon. amor ensina-nos todas as virtudes. Plutarco. O amor tem todas as perfeições e nenhuns defeitos. Athêneas. amor é uma gota celeste que o céo deitou no cálix da vida para combater-lhe o amargor. Rochester. amor é uma loucura que dá ao homem os maiores prazeres que lhe seja permittido gozar n'este mundo. Stendhal. amor é o desejo do incógnito levado até ao furor. Petiet. O amor é a aza que Deus deu á alma para o poder alcançar. Michel Aiujc. amor sae de Deus e a Deus volta. P. Lcraux. amor é a aspiração santa da parte mais etherea de nossa alma para o desconhecido. Gcorgc Sana, amor é serem dois e ser um só, um ho- mem e uma mulher que se transtornam em um só anjo; o amor é o céo. Victor Hugo. amor é um puro orvalho que desce do céo sobre o nosso coração quando Deus quer. Arsénio Houssage. amor é um fogo devorador que dura tan- to menos quanto mais depressa se ateou. Poucos sabem o que 6" o amor, e d'aquelles que o sabem poucos o dizem. amor seria melhor conhecido se se disses- se que é uma amizade cujo êxito é aquillo pelo que nos parecemos com os brutos. Oxenstiem. amor é um appetite desregrado que nos le- va sem sabermos porque, para um manjar e não para outro. Ninon de VEnclos amor é o egoísmo partilhado. A. dela Salle. amor parece-se muito com um jardim ao fim do qual chegaríamos com três passos se não fossem as muitas ruas extravagantemente dispostas e cheias de flores e perfumes. amor ê um privilegio para todas as asnei- ras e todas as extravagâncias. Jouy. amor é como a fé nos milagres: é um tra- balho da imaginação para excitar o coração e paralysar o raciocínio. G. Sand. amor é mais forte que a guerra. P. DuponL amor fere os mortaes e prende os deuses. Danchet. amor é mais poderoso que Deu?, pois 1 uma só alma de duas. Abouisse. amor é o mais orgulhoso dos déspotas; ou.é tudo ou nada. Síendhal. amor vence tudo. Omnia vincit amor. Virgílio. Ninguém é tão máu que o amor o não • os- sa tornar um deus pela virtude. DICCIONARIO O amor tem compensações que não tem a amizade. Montaigne. Amar ou não, uão está no nosso poder. CorneUle. ú que ama sem ser amado tem mais certe- za que outro de amar verdadeiramente. Meilhan. Querer afugentar do nosso coração o amor que o domina é o mesmo que não querermos que a nossa sombra appareça quando estamos ao sol. Mad. de Rieuz. Em amor, ha tantos motivos para já não amar como para amar sempre. La Bmyère. amor é o rei dos mancebos e o tyranno dos velhos. Oxenstiem. O amor reside nas mais Lellas almas como o verme devorador no mais lindo botão de rosa. Shakspeare. amor verdadeiro parece-se com as almas do outro mundo, todos faliam n'ellas e poucos as viram. La Rochefoucauld. É mais difficil encontrar quem nos ame que quem possamos amar. Dufresny. amor parece-se com o fogo, quanto mais fechado melhor se conserva. Dupuy. Amae, só isso é bom na vida. G. Sand. Ha só um amor verdadeiro mas ha mil co- pias d'elle. La Rochefoucauld. amor que na vida dos homens é unica- mente um episodio, a historia inteira da vida das mulheres. Ma l. de Stael. amor agrada mais que o casamento por isso que os romances agradam mais que a his- toria. Champforl. Prendemo-nos ao amor quando elle nos tra- ta mal, deixamol-o quando elle nos trata bem. Dorat. amor entra mais facilmente n'um cora- ção que o vento em casa aberta. A imagem do que amamos é como a nossa sombra, segue-nos por toda a parte. amor decresce quando pára de crescer. Chateaubriand. Um amor apagado pôde novamente atear-se, um amor gasto, nunca. Guyard. Amar, é pedir a outrem a felicidade que nos falta. Rochpèdre. Todas as virtudes estão contidas n'uma só pa- lavra —amor. Legouvé. Não ha cárceres bonitos nem amores feios. (Provérbio.) amor põe a nossa alma no céo e o nosso corpo no inferno. L. de C. amor é a loucura do coração. L. de C. Amor he um fogo que arde sem se ver; He ferida que doe e não se sente; He um contentamento descontente; He dôr que desatina sem doer; He um não querer mais que bem querer; He solitário andar por entre a gente; He um não contentar-se de contente; He cuidar que se ganha em se perder; He um estar-se preso por vontade; He servir a quem vence o vencedor; He um ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode a seu favor Nos mortaes corações conformidade Sendo a si tão contrario o mesmo Amor? Camões. O amor é como a aragem que murmura Da tarde no cair, pela folhagem; Não volta o mesmo amor á formusura Bem como nunca volta a mesma aragem. Gonçalves Dias. Por amor que não convém nasce muito mal e pouco bem. Provérbio. Amores de freira, flores de amendoeira, cedo vêm e pouco duram. Provérbio. Quem tem amores não dorme. Provérbio. Amor e reino não quer parceiro. Provérbio. Contente vivi já, verulo-me isento Deste mal de que a muitos queixar via: Chamão-lhe amor; mas eu lhe chamaria Discórdia e semrazão, guerra e tormento. Camões. Amor, amor, principio mau e fim peior. Provérbio. As sopas e os amores, os primeiros são os melhores. Provérbio. Amor, fogo, e tosse, a seu dono descobre. Provérbio. amor e a fé nas obras se vé. Provérbio. amor verdadeiro não soffre cousa em i berta. Provérbio. amor não tem lei. 28 DICCIONARIO . amor a ninguém dá honra e a muitos dá Provérbio. Amor com amor se paga. Provérbio. Amor c senhoria não quer companhia. As paixões viciosas são sempre um compos- to de orgulho e as paixões virtuosas um com- posto de amor. Chatcaubriand. bomem ama pouco e com frequência, a mulher muito e raras vezes. coração das mulheres é tão naturalmente inclinado ao amor que amam mesmo antes de conhecerem a quem devem amar. amor é um oceano incommensuravel em que os espíritos incompletos vêem monotonia e em que as almas grandes se enlevam cm per- petuas contemplações. Balzac. amor é como uma arvore que por si mes- ma se debruça, lança profundas raizes em todo o nosso ser, e continua muitas vezes a viçar sobre as ruinas de um coração. V. Hugo. Nenhuma cousa tem sido mais experimenta- da no mundo e mais vezes definida que o amor; nenhuma é tão mal e imperfeitamente compre- hendida como o amor. Fallo do amor dos homens, único de que os homens podem fallar; o das mulheres é ainda mais incomprchensivel e certamente muito mais espantoso, quando verdadeiro. A. F. de Castilho. Amor é tudo quanto ha bom na terra, Tudo que é santo se resume aqui; Rebentam lyrios na escarpada serra, Florescem piados quando amor sorri. E. A. Vidal. Ama-se uma mulher, sem o procurar, sem o cuidar, sem arbítrio, a despeito dos votos, co- mo á rosa, como á lua, como á harmonia, co- mo aos sabores dos fructos deliciosos. A. F. de Castilho. Nasceu amor para encantar os homens, Não para ser dos corações tyranno. Menino, ama o brincar e quer ser livre. Cura o tempo as feridas que elle forma : Depois de alto clarão, que cega os olhos, Seu facho, pouco e pouco enfraquecendo, Vem por fim apagar-se; a Natureza, Nada produz que não succumba á morte. A. F. de Castilho. Amor, dinheiro e cuidado não está dissimu- lado. Provérbio. Amar, que doce que é! Oh! quam ditoso Quem sabe e pode amar! Prazeres meigos, Graças louçans e risos brincadores De entorno lhe esvoaçam, A existência lhe doiram. ÁLBUM Toda lhe ri de gosto a natureza Esmalta-se-lhe o prado de boninas O bosque se lhe copa de verdura Crystaes lhe jorra a fonte Perlas lhe verte a aurora. Garrett. Não existe na terra um peito humano, Que amor vencer não possa: E' justo galardão, que elle somente Formou a essência nossa. E' doce instincto amor! soffrem seu jugo. As mesmas cruas feras : Provam n'elle delicias, e não acham As suas leis severas. F. E. Leons. AMOR PLATÓNICO mais raro de todos os amores é o amor casto. Poincelot.. Todas as mulheres amam espíritos que as- sistem em corpos novos, c almas que tenham olhos bonitos. Joubert. Quasi todas as mulheres apregoam o amor platónico, mas a maioria d'ellas parece-secom os avarentos que faliam muito nas despezas alheias sem nunca as fazerem. Saint Prosper. amor platónico é a utopia do coração. L. de C. Ama quem te ama, responde a quem te cha- ma, andarás carreira chã. Provérbio. amor é a vida da mulher; a que o não sente pelo homem, está enamorada de si mesma. A. M. de Castilho. Pouco ama quem pode fullar no muito amor que tem. amor é um affecto que só se define quando deixa de se sentir. A. M. de Castilho. amor do poeta é maior que o de nenhum homem, porque é immenso como o ideal que elle comprehende, eterno como o seu nome que nunca perece. A. Herculano. Não le creias nunca muito amado por uma D ulher que se ama a si mesma. Pythagoras. Quem quizer alcançar os seus fins junto de uma mulher deve lisongear o seu amor-proprio: napre agradece. Mad. de Rieux. amor-proprio obriga as mulLeres a mais loucuras que o amor. Dupuy. As mulheres teem tanto amor-proprio que quando já nos não amam, sentem-se despeita- das ao ver-DOs seguir-lhes o exemplo. D'Argens. amor-proprio é um balão cheio de vento que derrama tempestades quando lhe damos uma picada. Quando o amor-proprio domina no ciúme, já o amor perdeu o seu império. Lingrêe. que lisongeia mais o amor-proprio de uma mulher é ser amada sem que se lh'o diga; contanto que o silencio não seja eterno. L. Desnoyers. As mulheres antes querem que se lhes enxo- valhe o vestido que o amor-proprio. Commerson. ANCIÃO Em amor, os loucos velhos são mais loucos que os novos. La Rochefoucauld. amor parece-se com as bexigas, porque quanto mais tarde apparece peior é. Venit amor gravius, quo serius. Bussy Rabutin. Um ancião namorado é uma deformidade da natureza. La Bruyère. Pensar em amor quando se é mancebo e bo- nito é um peccado venial, mas quando se é velho e feio é um peccado mortal. que torna o amor dos velhos mais ridículo é o desejo que elles teem de o inspirar. M. ette de 1'Espinasse. ÁLBUM Um ancião que mantém amantes parece um cego que traz óculos. Oxenstiem. Aos sessenta annos o amor mostra por tal modo o desarranjo do espirito, que devemos sempre desconfiar da cabeça de um ancião na- morado. J. J. Rousseau. Amar uma menina quando já se está perto dos cincoenta annos é querer sustentar uma pe- leja impossível contra dois terriveis inimigos, a juventude e o galanteio. J. Lecomte. Um velho serve tanto ás mulheres como a um musico uma rabeca sem cordas. Rochebrune. Os velhos são sempre ciumentos, parecem-se com aquellas creanças gulosas, que por força querem guardar até os pasteis que já não po- dem comer. Ricard. Os velhos gostam de dar bons conselhos pa- ra se consolarem de já não poderem dar maus exemplos. Dupuy. A natureza deixa aos velhos um amor de fá- cil satisfação, o amor do repouso. O amor nos velhos é como o sol sobre a ne- ve; deslumbra-os não os aquece. Os velhos teem mais inveja dos vicios da mo- cidade que das suas virtudes. Junto ás mulheres os rapazes são ricos en- vergonhados, e os velhos pobres atrevidos. amor no velho traz culpa mas no mance- bo frueto. Provérbio. Homem velho, sacco de azares. Provérbio. Velho amador, inverno com flor. Provérbio. ANNEL lia annel í o primeiro tributo que um homem sua amante. amor dá ferros a quem .-lima. Ricanl. A espada e o annel segundo a mão em que estiver. Provérbio. Dá-me um annel ; mas que seja Como o annel em que cingida Tem gemido a minha vida. Dá-me um annel ; mas de ferro, Negro, bem negro, da côr D'esta minha acerba dór, D'este meu negro desterro ! Dá-me um annel ; mas de ferro... Sempre comungo hei de tel-o ; Ha de ser o negro 01o, Que me prenda á sepultura. Quero-o negro... seja o estigma. Que decifre o escuro enigma D'uma grande desventura. Dá-me um annel; mas de ferro, Que resista mais que os ossos Dum cadáver aos destroços Entre ;is cinzas al\aceulas. Como espolio das tormentas, Appareça o ferro só. E o teu nome impresso n'elle, Fallará d'um grande amor, Nutrido cm anciãs de dôr, Pelo fel da sociedade... Que teu nome n'elle escripto, N'esse padrão infinito, Vá eommigo á Eternidade. C. Caskllo Branco. AMIMES No coração de uma mulher que não ame o seu amante nem o seu marido, um animal ob- tém sempre o primeiro logar. A vida de um marido estaria por vezes bem arriscada se fos- se mister, para salval-a sacrificar a de um cão, de um gato ou de um passarinho. Juvenal. Pastor se fez um tempo o moço louro. Que do sol as carretas move e guia; Ouviu o rio Amphriso a lyra d'ouro, Que o seu claro inventor alli tangia. Io foi vacca, Júpiter foi touro : Mansas ovelhas junto d'agua fria. Guardou formoso Adónis; e tornado Em bezerro Neptuno foi já achado. Camões. Quem ama a Beltrão ama a seu cão. Provérbio. — Minha senhora,— dizia a madame de Sa- blière um severo e grave magistrado, —sempre, sempre amor, não pensa n'outra cousa! ÁLBUM Os brutos ao menos para o amor teem uma estação própria. —Por isso são brutos— respondeu madame de Sablière. anjo que se amou até á loucura torna-se a vezes com o tempo um diabo bem detestado. Por uma mulber a quem se possa chamar anjo, ha mil a quem se deve chamar demo- Anjo— encanto, mulher, que és tu na terra Quem n'alma te gravou scismar tão triste, Tão triste pallidez quem te ha gravado No semblante formoso. Gonçalves Dias. Anjo de luz, porque te despenhaste no in- ferno? A historia escrevia o teu nome na pagi- na das benções: tu mesmo o riscaste e o foste escrever na pagina das maldições. A. Herculano. Houve tempo em que eu pedia Uma mulher ao meu Deus Uma mulher que eu amasse, Um dos bellos anjos seus. Gonçalves Dias. DICCI0NAR10 Aí mulheres sempre são melhores para o an- uo que vem. Provérbio. Aos trinta e seis annos começam as mulhe- res a socegar como os cata-ventos que princi- piam a enferrujar-se. Dancourt. Uma velha estouvada dizia um dia para Ri- varol— E vós, senhor, quantos annos me dais? —Para que lhe havia eu dar alguns, minha senhora; respondeu elle, não tendes já bastan- Vinte annos de vida são para nós bem aus- tera lição. Mad. de Stael. Uma mulher de quarenta e cinco annos só pode ganhar importância pelos seus filhos ou seu amante. Stendhal. Passados os quarenta annos, uma mulher tor- -se um engrimanço impenetrável, só uma ve- lha pode entender outra velha, Balzac. Aos dezoito annos adora-se, aos vinte ama- se, aos trinta e seis deseja-se, aos quarenta medita-se. Paulo de Kock. Uma rapariga de quinze annos deixa-searaar, uma mulher de trinta faz-se amar. pôr do sol dura dez minutos no horizonte; e dez annos no coração da mulher, os annos que vão dos trinta aos quarenta. Nimium ne crede colori. Não vos fieis nas ap- parencias. A apparencia da virtude é mais seduetora que as virtudes mesmas, e aquelle que finge tel-as tem mais vantagem que aquelle que as possue realmente. Mad. Riccoboni. Tudo è apparencia na mulher menos a bel- leza. L. de C. Não vos fieis em apparencias, nem acrediteis levemente em palavras; o tambor faz mui la. bulha e não está cheio senão de vento. Máxima oriental. ÁLBUM O ardil existe nas palavras e nas acções de toda a mulher namoradeira. Vauvenargues. O homem adquire argúcia, a mulher com ella nasce. Dubay. O ardil das mulheres augmenta com os ân- uos. P. du Bosc. As mulheres são tão ardilosas que muitas ve- zes encontram uma teia de aranha onde os homens encontram um muro de ferro. A natureza deu a astúcia ás mulheres para compensar a força do homem. O ardil é legitimo no amor. À's vezes, um homem finge ter ciúmes de uma mulher para que ella, os não tenha d'elle e por vezes tam- hem vai arguil-a de falsidade para melhor oc- cultar a própria. Walsh. Vens debalde, oh bellissima perjura, Co lindo ro.«to em lagrimas banhado: Já fui por ti mil vezes enganado, E sempre me affectaste essa ternura. Esse alvo peito que é de neve pura, Mas de aço e fino bronze temperado, Encobre um coração refalseado, Um coração de viva rocha dura. Em vão trabalhas, se enganar-me queres, Vejo correr com animo sereno Esse pranto em que fundas teus poderes : Mal inventado ardil ! ardil pequeno ! Tu mesma me ensinaste, que as mulheres Misturam com as lagrimas veneno. ARREPENDIMENTO Tal casou de manhã que á tarde está arre- pendido. Provérbio . sábio não se arrepende, emenda-se. povo não se emenda, arrepende-se. As mulheres dei- tam á penitencia sem se arrepender nem se emandar. A penitencia é o ultimo prazer das mulheres. Lemontey. As mulheres chamam arrependimento adoce lembrança das suas culpas e á lastima de as não poder renovar. Bcaumanoir. Cuidado, donzellas, entre aboccaeoheijoha sempre logar para o arrependimento. Uma mulher pódc-se arrepender de ter amado pouco, nunca de ter amado muito. niCCIONARIO As mulheres estimam os valentes, mas ainda mais os^ arrojados. Lcmcslc. Todo o homem que foi arrojado para com uma mulher, é criminoso logo que deixa de o ser. Revcroni. arrojo de um amante agrada tanto às mu- lheres como o arrojo dos seus soldados agrada a um general. L. de C. Quem se não aventurou não perdeu nem ga- nhou. Provérbio. Não será possível descobrir-mos a arte de sermos amados pelas nossas mulheres? La Bruyère. Nas mulheres o amor é como a arte, quanto mais se deixa ver, menos vale. Bruis. As mulheres são naturalmente artistas. Como o artista tudo quanto brilha as embriaga, como elle também o mundo real aborrece-as. Mas ellas teem mais que o artista uma grande vir- tude; elle, no enthusiasmo, na gloria, no amor, vê só a si, ella mesmo na gloria vê só o amor, quero dizer, outro ente. Legouvc. ASNEIRA Os homens nunca acham tola uma mulher bonita. Seria necessário para que elles vissem uma asneira sair de uma bocca linda, que es- sa asneira fosse do tamanho de uma casa. Stahl. —Sois linda. —Ora. —Sois bella. — Deixe-se d'isso. — Sois um anjo. —Lisonja. — Amo-vos. —Não diga asneiras. ÁLBUM ASSIDUIDADE A assiduidade agrada ás mulheres, o desleixo, prcnde-as. Desnoyers. amor desagrada ás vezes quando mais trata de agradar; a demasiada assiduidade tor- na-se aborrecida. As mulheres gostam de po- derem dispor de um olhar para outro homem, e, como o sol, desejam alumiar a todos. Mad. de Sartory. A assiduidade de alguns homens parece-se com o fio d'agua que fura a pedra mais dura. Alcança quem não cança. L. de C. ATAVIO luxo é o que mais alegra as raparigas. Molière. As mulheres vestem-se mais por ataviarem- se que por se vestir. A sós com um espelho lem- bram-se mais dos homens que de si mesmas. Marivaux. Os atavios de uma mulher velha e feia mos- tram mais que tudo as extravagâncias da lou- cura. Jl/. ell ° de Sommery. Ha mulheres que necessitam de atavios; pa- recem-se com certas carnes que precisam gran- des temperos para excitar o appetite. Rochebrune. Em um rio de diamantes tem-se affogado a honra de muitas mulheres. Houdetot. A moço ataviado, mulher ao lado. Provérbio. Foi ao Manique um homem aceusado Por contrabandos ter; ellc sciente Chama a quadrilha, corre diligente, Entra, busca, e não acha o malsinado. Acha a mulher que tinha por toucado A torre de Belém: elia que o sente, Banhada em pranto, desmaiada a frente, Prostra por terra o corpo delicado. Co boléo se esbandalha a mata espessa Saem d'ella esguiões, cassas lavradas E de belbute trinta e uma peça, Fivelas, espadins, rendas bordadas Até tinha escondido na cabeça O marido, e trez arcas encoiradas. DICCIONARIO ATREVIMENTO Quando, nas mulheres, o descaramento se ajunta á fealdade, torna-se mais sensível e re- pugnante; e seguramente haveria mais prazer cm encher uma cara feia c atrevida de bofetões que de beijos. J. J. Rousseau. Será por causa do mortal enojo que o pudor impõe ás mulheres que algumas só apreciam o atrevimento dos homens? ou julgam ellas que tísc atrevimento é firmeza de caracter? atrevimento do homem tem desculpa, o da mulher não tem perdão. L. de C. Nunca em amor damnou o atrevimento, Favorece a Fortuna a ousadia, Porque sempre a encolhida covardia De pedra serve ao livre pensamento. Camões. ATTENÇftO primeiro erro dos casados é a falta de at- tenções. Macl. de Puisicuz. Um homem de bem deve sempre ter as mes- mas attenções para a sua mulher que teve para a sua noiva. Dupuy. As attenções lisongeam as mulheres até mes- mo vindas do ente o mais insignificante. Onde a mulher domina e governa, raras ve- zes mora a paz. Provérbio. A auetoridade é o fim a que aspiram todas as mulheres. Desmahis. Não ha paz aonde canta a gallinha e calla o gallo. Provérbio. A mulher que não 6 dominada, domina : o homem ganha ficando senhor da sua casa, a ridiculez a menos paz a mais. P. Limayrac. A dominação da mulher é essência de ty- rannia. L. deC. ÁLBUM AUSÊNCIA A ausência diminue as paixões medíocres e augmenta as grandes assim como o vento apaga as luzes e acccnde o fogo. La Rochefoucauld. A ausência é a época da inconstância do co- ração, para algumas pessoas o dia da partida é o fim da amizade. Mad . de Rieux. A ausência augmenta sempre o amor que não está satisfeito e a philosophia não o pôde diminuir. Voltaire. As pequenas ausências dão vida ao amor e as grandes causam-lhe a morte. amante que se não vê, depressa é esque- i eido. Ovidio. — Voltai,— escrevia uma senhora, pouco de- vota, ao seu amante— se me tivesse sido possí- vel amar um ausente, teria amado a Deus. A ausência é a pedra de toque do amor. L. de C. Longe da vista, longe do coração. Provérbio. A morte, que da vida o nó desata, Os nós, que dá o Amor, cortar quizera, Co a ausência, que é sobre elle espada fera E co'o tempo, que tudo desbarata. Camões. Sinto afflição quando choras, Se te ris sinto prazer; Se te ausentas, fico triste Que eu preferira morrer. Farei que Amor a todos avivente, Pintando mil segredos delicados, Brandas iras, suspiros magoado*, Temerosa ousadia, e pena, ausente. 10 DICCIONARIO AVAREZA O amor érea mais pródigos que avarentos. JV. clle de Scudery. O amor do dinheiro mata qualquer amor. L. de C, AVERSÃO A aversão de uma mulher para seu marido é quasi sempre o reflexo de uma paixão por um amaute. Latina. Quando o amor vôa com quatro azas, adian- ta muito era pouco tempo. Se não fossem as azas do amor, não nos se- ria possível alcançar o céo. ÁLBUM B Em noite de baile, a nossa amante já nos não pertence. Quando começam os atavios, o homem torna-se marido, e o baile amante. X. de Maistre. Fum baile os homens tornam-se o sexo fra- co, o sexo timido e decente; porque são elles que se cançam primeiro. Alphonse Karr. Uma mãe n'um baile é um tabellião disfar- çado. L. Gozlan. As mulheres gostam dos bailes e dos thea- tros, como os caçadores dos sitios em que se encontra bastante caça. Latem. Foi n'um baile, os prelúdios da orchestra Já frementes vagavam nas salas, O murmúrio dos risos, das falias, Começava a crescer mais e maisj As grinaldas de vividas flores Despargiam seus doces perfumes, Reflectia-se o brilho dos lumes Nos espelhos, nos raros crystaes. Oh! que noite de enlevo e poesia, Que transportes, que immenso Cada olhar ressumbrava alegria, Cada gesto fallava de amor ! O QUE É UM BAILE O que é um baile ? é um prado Onde avultam poucas flores, E essas poucas tem espinhos, E esses espinhos são dores. O que é um baile ? é um riso Precursor de amargo pranto ; É illusão, que nos mente Pelo prisma d'um encanto. Esse encanto é sonho, e estrella; Mas é sonho improvisado; Mas é estrella que só brilha D'um fulgor imaginado. E, por tanto, amigo Augusto, Não te deixes fascinar.... Cautella !... astros são fogo, E o fogo podo abrazar! C. Castello Bramo. DICCIONARIO BANHO l/m pintor foi encarregado de fazer uma ta- boleta para uni estabelecimento de banhos, e rei a seguinte:— Banhos a quatro vinténs para as seuhoras com fuudo de madeira — Não ten- do o dono do estabelecimento gostado muito daquella taboleta, fez o pintor outra em que dizia — Banhos com fundo de madeira para as senhoras a quatro vinténs — . Foi Maria ao banho, teve que contar todo o anno. Provérbio. Outros por outra parte vão topar Com as deusas despidas, que se la vão: Elias começão súbito a gritar, Como que assalto tal não esperavão. Hunias fingindo menos estimar A vergonha que a força, se lançavão Nuas por entre o mato, aos olhos dando O que as mãos cubiçosas Yão negando. Camões. Deus, na sua divina providencia, não deu barba ás mulheres, porque não se teriam podi- do callar em quanto lha fizessem. As mulheres que teem bigodes, riem a prin- cipio d'esse defeito, mas depois choram. Slahl. Barba com dinheiro, honra ao cavalleiro. Provérbio. BEIJO Um ratão ao sair de um theatro mandara a uma actriz de quem tinha gostado, um bilhete com estas palavras : —Dez libras por cinco beijos. A actriz não querendo ficar atraz com simi- lhante laconismo, respondeu : — Tudo dobrado ou nada. Ricard. —Atrevido— gritou um dia uma menina para um maganão que lhe roubara um beijo. —Não se amofine, respondeu elle— se o beijo que lhe dei a incommoda, dóm'o cá outra Desejaria, dizia Byron, que todas as mulhe- res tivessem uma só bocca para dar a um tempo um beijo n'ellas todas. A pensar em ti não durmo Não sei que cuidado é este ! Será causa d'isto tudo O beijo que tu me deste? \:\ O beijo que tu me deste A qual de nós deu mais gosto? A mim faz-me andar scismando A ti a côr sobe ao rosto! Theophilo Braga. Assim, beijar-te receio, Contra o seio Eu tremo de te apertar, Pois me parece que um beijo É sobejo Para o teu corpo quebrar. Gonçalves Dias. A lympha que suspira não exprime o som mavioso d'um faminto beijo. Theophilo Braga. Ditosa, contente, Risonha, sem pena, Sentava-se Helena No monte d'além, Fui pôr-me ao seu lado, Protestos fizemos E os beijos que dêmos Andaram por cem. BELLEZfl A belleza é um bem para os outros. Bion. que éa belleza, perguntavam um dia ao philosopho Aristóteles. —Essas perguntas só as fazem os cegos — respondeu ellc. A belleza é uma carta de recommendação cujo credito dura pouco. Ninon de Lenclos. Aquella cuja belleza é superior a das outras mulheres é olhada por todos de uma maneira differente. As mulheres bonitas olham para ella com inveja, as feias com despeito, os velhos com saudades, os moços com admiração. D'Argens. A belleza só começa quando o coração pode amar. La Bruyèrc. Deve-se julgar a belleza de uma mulher, não pelas suas feições, mas sim pela impressão que ella produz. Mad. de Lambert. Aquelle que ama uma mulher por causa da sua belleza, não ama verdadeiramente, porque as bexigas tirando-lhe a belleza tiram também o amor do coração d'esse homem. Contemnunt spinam cum cecidere rosae. Pascal. A belleza é o primeiro presente que a natu- reza dá ás mulheres, e o primeiro também que Uma mulher bonita é o paraizo dos olhos, o inferno das almas e o purgatório da algibeira. Uma mulher bonita deve temer tanto de uma feia como um homem intclligente de um estú- pido. Pope. Quem tem mulher bonita, castello na fronteira e videiral na estrada, nunca verá o fim da guerra. A belleza é uma armadilha que a natureza offerece á razão. Lê vis. DICCIONAÍUO Se lia fructa que se possa comer crua, é a telleza. A. Karr. Uma mulher sem belleza conhece só a metade ca vida. Mad. de Montarem. As mulheres satisfeitas da sua belleza entre- i.am-sc ao prazer com mais abandono que as outras. Joubcrl. A belleza pôde inspirar desejos, mas nem sem- pre inspira amor. L. de C. Deu ao toiro a natureza duras pontas por defeza, ao corcel a pata bruta, pe valente á lebre hirsuta, ao leão presas tyrannas. Deu ao peixe as barbatanas, voo ao pássaro; ao varão deu emfim, deu a razão. Á mulher a natureza ja não tinha mais que dar tinha apenas a belleza, só com isso a pôde armar. Quem por lança e por escudo tem belleza, que muis quer í 1 os encantos da mulher. A. F. de Caslilho. Os crespos fios d'ouro se espargião Pelo co!Io, que a neve escurecia; Andando, as lácteas tetas lhe tremião Com quem amor brincava, e não se via : Da alva petrina flammas lhe sahião, Onde o menino as almas accendia; Pelas lisas columnas lhe trepavão Desejos, que como hera se enrolavão. Cluun delgado cendal as partes cobre De quem vergonha lie natural reparo; Porém nem tudo esconde, nem descobre O véo, dos rouxos lírios pouco avaro : Mas para que o desejo accenda e dobre; Lhe põe diante aquelle objecto raro. Ja se sentem no céo, por toda a parte Ciúmes em Vulcano, amor em Marte. Camões. A belleza é um Lem do céo. Anacrcontc. A belleza é uma lyrannia que dura pouco. Sócrates. A belleza é um bello mal. Théocrito A belleza ê uma rainha sem guardas. Cameadas. Oh Belleza ! oh potencia invencível, Que na terra despótica imperas, Si vibras teus olhos Quaes duas espheras, Quem resiste a seu fogo terrível? D. J. G. de Magalhães. Formosura de mulher não faz rico ser. Provérbio. Em madrugada gentil Surgiste; Ao primeiro sol de Abril Sorriste. Da primavera entre as flores Viveste A luz do ceu por amores Tiveste. Quando o orvalbo matutino Passava, Mel em teu cálix divino Deixava. Porém o sol do verão Crestou-te Do outono o furacão Murchou-te!.... Assim é toda a belleza, Fugidia Capricho da natureza Flor d'um dia. mais precioso bem para uma mulher 6 o amor do seu marido. Stobée. De todos os bens, aquelles que devemos gas- tar com mais economia são os do amor. Ninon de Lendos. Se o amor é um sentimento divino, tudo quauto o possa prolongar e firmar é um bem. /. /. Rousseau. Nunca se poderá aconselhar bastante ás mu- lheres que digam bem das outras e que façam com que o digam d'ellas. Ségur. melhor dos bens é o amor. C. Pougens. Depressa nos cançamos de uma mulher bo- nita, nunca de uma que tenha bondade. Nihil o Cyrene, suavius uxore bona! Quando uma mulher chama a outra boa, é porque essa outra tem a bondade de não ser bonita. Marivaux. A bondade é uma virtude, mas nunca é por virtude que uma mulher tem bondade paru com um homem. Jouy. A bondade é a força do homem e a fraque- za da mulher. A. M. de Castilho. CABEÇA Pittaco costumava dizer que todos teem seu defeito, e que o delle era a cabeça de sua mu- lher. Bicard. Por muito boa que seja a cabeça nada pôde contra o coração. J/. ellc de Scudèri. amor é a paixão das almas grandes, e faz- lhes merecer a gloria quando não lhes vira e cabeça. Mad. de Pompadour. Um marido queixava-se a Rivarol de não ser feliz : — A minha mulher, dizia elle, é má, acinto- sa e mesmo quer-me parecer que... —Que quereis, meu caro, interrompeu o es- cri ptor; uma cabeça como deve ser, contenta- se com qualquer travesseiro. Ricard. Dois homens que tratam de partir a cabeça um ao outro, por causa de uma namoradeira, mostram de sobejo que já a perderam. Ricard. Ha alguma analogia entre o coração do aman- te e a cabeça do marido; um enfeita a mulher, a outra [è enfeitada por cila. L. de C. Não ha maior cadeia para ligar uma multan- do que o saber-se amada. Mad. de MolteviUe. Em amor, entregar-se a cadeias fortes è ar- ranjar grandes pezares para quando ellas se rom- perem. Prcvost. Vejo-te a face mimosa Porque a tanto amor se atreve, Vejo sorrir d'entre a neve Uma rosa, e outra rosa ; Vejo-te a mão preciosa, Que tem dos jasmins a côr ; Vejo-te o rosto inda em flor, Que é iman do meu desejo, E adoro, idolatro, beijo «Os duros grilhões de amor.» Bocage. ÁLBUM O amor gosta de solidão, c só no campo 6 {jue um amante verdadeiro pôde ser feliz. Que alegre campo e praia deleitosa ! Quão saudosa faz esta espessura A formosura angélica e serena Da tarde amena ! Quão saudosamente A sesta ardente abranda, suspirando, De quando em quando o vento alegre e frio! No fundo rio os mudos peixes saltão ; Os céos se esmaltão todos d'ouro e verde, E Phebo perde a força da quentura. Por a espessura levão, passeiando, O gado brando ao som das canfoninas, Pizando as finas e formosas flores, Os guardadores, que cantando o gesto Formoso e honesto das pastoras qu'amão Por o ar derramam mil suspiros vãos. Camões. Campo 1 nas syrtes d'este mar da vida, Apoz naufrágios sem taboa segura; Claras bonanças em tormenta escura, Habitação da paz, de amor guarida ; A ti fujo : e se vence tal fugida, E quem mudou lugar, mudou ventura, Cantemos a victoria ; e na espessura Triumphe a honra da ambição vencida. Em flor c frueto de verão e outono ; Utilmente murmurão claras agoas ; Alegre me acha aqui, me deixa o dia. Amantes rouxinoes rompem-mc o sono Que ata o descanço; aqursepulto magoas Que já foram sepulcros de alegria. Camões. Que belleza não reflectem Os ares, a terra, o mar ! Mas que silencio que guardai:) Tão próprio para chorar ! J. J. Junqueira Freire. Junto de ti contemplo a graça, o encanto De tanta ingenuidade que fulgura No leve riso de infantil candura, No arfar do seio que te esconde o manto. Theophilo Braga. Scisma a virgem mansamente Em pensamentos do céo, Mais cândida que as rolinhas Mais cândida que seu véo. J. J. Junqueira Freire Não moram em palácios estucados Almas singelas, almas extremosas : Nutrem da corte as damas enganosas Em tenros peitos corações dobrados. Venham por longos mares conquistados As indianas sedas preciosas Cubram-lhe as carnes alvas e mimosas Ricos vestidos em Paris bordados. São isto effeitos da arte e da ventura; Estimo mais que Ioda a vã grandeza l*in limpo corarão, uma alma pura. Náo na corte : das serras na aspereza. Fui adiar innoceneia e formosura, - Jons da simples natureza. Silencio grato da noite Quebram sons d'uma canção, Que vae dos lábios d'um anjo Do qne escuta ao coração. Eu cantei já, e agora vou chorando O tempo que cantei tão confiado : Parece que no canto já passado Se estavam minhas lagrimas creando Camões. Pelo campo cantando vai contente O lavrador seguindo o curvo arado E canta na prisão o desgraçado Ao triste som de uma áspera corrente. Canta o caminhante ledo No caminho trabalhoso Por entre o espesso arvoredo ; E de noite, o temeroso Cantando refreia o medo. ("anta o preso docemente, Os duros grilhões tocando, Canta o segador contente ; E o trabalhador, cantando O trabalho menos sente. D. dos Reis Quita. ÁLBUM CARIDADE O amigo dá quanto tem de sobejo, a mulher da mesmo quando lhe faz falta. As mulheres teem o génio da caridade. Um homem que dá, dá só o seu dinheiro, a mu- lher dá o seu dinheiro e o seu coração. Umluiz, nas mãos de uma mulher boa soccorre mais pobres que vinte nas mãos de um homem: a caridade feminina renova todos os dias o mi- lagre da multiplicação dos pães. E. A verdadeira lei do progresso moral é a ca- ridade ; sem o seu impulso é impossível a per- fectibilidade humana; e quantos esforços em- pregue o homem por attingil-a, n'um alvo ex- cêntrico ao Amor de Deus e do próximo, serão 3 improfícuos. C. Castello Branco. CARINHOS As mulheres quasi todas teem mais inclina- ção para os carinhos que os homens. Fontenelle. Os carinhos crescem com a compaixão. Mad. Dafrenoy. CARNAVAL Os homens que fazem a corte a uma mulher mascarada, parecem gulosos que se apromptam a comer um fricassé sem saber se é de gato ou lebre. Commerson. Um americano recem-chegado a Paris em tempo de carnaval, perguntou a um soldado que estava á porta de um baile de mascaras, qual o motivo porque as mulheres cobriam o rosto com um pedaço de velludo preto. — É para melhor poderem mostrar outra coisa, respondeu o folgazão camarada. Ricard. Durante todo o anno as mulheres fazem en- louquecer os homens, durante o carnaval os ho- mens é que fazem enlouquecer as mulheres. L. de C. DICCIONARIO (mando se escreve a quem se ama, já não são cartas, são trovas cTamor. /. J. Rousseau. Por muito extensa que seja uma carta de mu- lher, nunca o pensamento mais querido appa- rece senão no fiai-. Bcrnardin de Sainl Picrre. Um sugeito ameaçou a amante de publicar- lbe as cartas. —Podeis fazel-o, disse, ella, não teem ellas nada que me envergonhe a não ser a direcção. Ricard. Deitar areia sobre uma carta é ás vezes ati- rar a terra do esquecimento sobre sentimentos nascidos mortos. Petit Senn. As cartas de amor sempre são compromette- doras, cedo ou tarde o acaso pôde desencami- nhar alguma. Diderot. Para escrever bem uma carta de amor, de- vemos começal-a sem sabermos o que ha de dizer-se, c concluil-a ignorando já o que disse. Raisso?i. Só é mulher casta aquella que não teme sel-o. Ovidio. Nem sempre as mulheres são castas por cas- tidade. La Rochefoucauld. As mulheres- ricas e as mulheres pobres que não teem virtude, guerreiam a castidade por diversos modos. As ricas compram-na, as po- bres vendem-na. P. du Bosc. Por muito castas que sejam as mulheres na apparencia, parecem-se quasi todas com aquel- la fonte de Ammon, cujas aguas corriam frias de dia e ferventes de noite. A castidade é a fonte da belleza physica e moral nos dois sexos. mancebo puro faz o homem sábio e valente. Bemardin de Saint Pierre ÁLBUM nj Já que conhecemos a verdade da pintura que mostra o Amor com um facho na mão, não de- víamos collocar a castidade sobre um barril de pólvora. Levis. Obra de modo que não comprometias o teu socego, a tua reputação nem a de outra pes- CASAMENTO Para que um casamento fosse feliz, seria ne- cessário que o marido fosse surdo e a mulher cega. D. Affanso d' Aragão. O casamento de dois amantes apaixonados é um contrato feito no momento da febre. Aquelles que mais se amavão antes de ca- sar são aquelles que ás vezes se amam menos b sempre perigoso casarmos por amor com aquella a quem o não podemos inspirar. Mad. d'Arconville. O nó do casamento é ; que fere profundamente ; vezes tão apertado uelles que une. Varenne. Ha casamentos bons, mas nenhuns deliciosos. La Rochefoucauld. Nos casamentos infelizes as mulheres são me- nos culpadas do que os homens, porque estive- ram menos habilitadas para escolher. Mad. de Ricux. Ha raros casamentos em que ao receber-se o sacramento do casamento não se receba ao mesmo tempo o da penitencia. Dupuy. O casamento é ás vezes uma asneira feita por dois, e um castigo para três. Shakspeare. casamento só dá pezares áquelle que não tem já gosto para os prazeres da ínnocencia. Moníesquieu. O casamento é de todas as coisas sérias a mais caricata. Beaumarchais. — Cazareis? —Não. —Porque? DICCIONARIO — Porque andaria pezaroso. — E porque andareis pezaroso? — Porque teria ciúmes. — Porque teríeis ciúmes? — Porque seria enganado. — Porque serieis euganado? — Porque o teria merecido. — E porque o teríeis merecido? —Por me ter casado. Champfort. As solteiras desesperam-se por não serem ca- sulas, e os maridos por sel-o. casamento communica ás mulheres os ví- cios do homem, e nunca as suas virtudes. Aconselhavam a um patusco que casasse com a sr. a D. E.— Nada, dizia elle, physicamente el~ la é feia, e moralmente... não tem vintém. casamento muitas vezes não passa de uma troca de murmúrios durante o dia e de roncos durante a noite. Commerson. amor antes do casamento parece um pre- facio curto a um livro comprido. Petit Scnn. casamento é coisa tão má que se deveria estudar o meio de continuar o mundo sem mu- lheres. Sarrazin. — Se tu casares, dizia um pae a sua filha, farás bem, e se não casares, farás ainda me- lhor. — Sendo certo o que diz, respondeu a filha, procure-me depressa um marido, contentar-me- hei com o bem deixando a outras o melhor. A. M. de Castilho. Quem ama a mulher casada traz a vida em- prestada. Provérbio. Quem casa por amores, maus dias peiores noites. Provérbio. Antes que cases, olha o que fazes; que não é nó que desates. Provérbio. Cada um canta como tem graça e casa como tem ventura. Provérbio. Quem casa com mulher rica e feia tem ruim cama e boa mesa. Aquella é bem casada que não tem sogra nem cunhada. Provérbio. Casar, casar, soa bem e sabe mal. Provérbio. CEGUEIRA O amor faz cegos aquellcs que teem mais penetração. Mad. de Rieux. amante tolhido e o marido farto são egual- mente cegos; um não sabe ver, o outro não olha. CEGUEIRA DE AMOR Fiei-me nas promessas que affectavas, Nas lagrimas fingidas que vertias, Nas ternas expressões que me fazias, N'essas mãos com que as minhas apertavas. Talvez, cruel, que quando as animavas, Que eram d'outrem na ideia fingirias, E que os olhos banhados mostrarias De pranto, que por outrem derramavas. Mas eu sou tal, ingrata, que inda vendo Os meus tristes amores mal seguros, De amar-te, nunca, nunca me arrependo. Ainda adoro os olbos teus perjuros, Ainda amo a quem me mata, ainda accendo Em aras falsas holocaustos puros. Os celibatários são os caçadores furtivos do casamento. Greuze. Estender e favorecer o celibato é esquecer que todo o homem que não casa entrega uma menina á corrupção. Bernardim de Saint Pierre. casamento e o celibato, ambos teem incon- venientes; devemos escolher aquelle cujos in- convenientes teem cura. Champfort. Um celibatário é um ente a quem falta al- guma coisa; parece-se com a metade de uma tesoira que sem a outra metade nada vale. Franklin. celibato do homem rico oceulta quasi sem- pre uma vergonha mysteriosa ou vicios infa- mes. Ricard. DICCIONARIO O homem sem mulher nem filhos poderia es- tudar mil annos o mystcrio da familia que nunca o poderia conhecer. Micheleti Havia uma festa na Grécia antiga, durante a qual as mulheres tinham direito de arrastar pelo templo os celibatários e de lhes dar pan- cadaria de deitar abaixo. CHARACTER A maioria das mulheres não teem caracter, são ternas de mais para poderem conservar uma impressão duradoira; o ellas serem loi- ras ou trigueiras é o que as faz melhor distin- guir umas das outras. casamento é a pedra de toque dos cara- cteres, o que se julgava ser oiro é muitas ve- zes cobre. Dupvy. Não ha coisa que defina melhor o caracter de um homem ou de uma nação que a ma- neira por que as mulheres são por elles tra- tados. Herder. Nos amores da terra, afadiga-se o homem por ataviar-se de todos aquelles dotes que de- vem fazel-o querido aos olhos de quem mais deseja sel-o. Tortura-se o espirito em adivi- nhar-lhe os desejos ; sacrificam-se os próprios por lisonjear os alheios, e, á custa de penosas decepções e difficeis constrangimentos, procu- ramos fortalecer os vínculos do amor pela si- milhança dos génios, que è verdadeiramente o ponto de contacto que estabelece as sympathias humanas. Castello Branco. ÁLBUM 55 CIRCUIY1STANCIA A virtude depende muitas vezes das circums- tancias. Mad. de Rieux. No amor, o principio e o fim dependem das circumstancias. L. de C. I CtURlE De todas as moléstias, o ciúme 6 aquella que se alimenta com mais coisas e que se cura com menos. Montaigne. r O ciúme grosseiro é a desconfiança dos ou- tros, o ciúme delicado é a desconfiança de si mesmo. M. m de UEspinasse Só as pessoas que evitam causar ciúmes é que merecem que os tenham por elles. La Rochefoucauld. Ha no ciúme mais amor próprio do que amor. Idem. As mulheres detestam o ciumento que não é amado, mas teriam pena que aquelle que ellas amam não o fosse. Ninon de Lenclos. As mulheres não podem soffrer os ciúmes de um marido e soffrem os de um amante sem custo. ciúme nasce com o amor mas nem sempre com elle morre. La Rochefoucauld. Um homem cioso sempre acha mais do que procura. il/. ellfl de Scuderi. ciúme é o maior dos males, e o que menos compaixão faz a quem o causa. La Rochefoucauld. cioso passa a vida á procura de um se- gredo cuja descoberta causa a sua infelicidade. Oxenstiern. amor dos ciosos parece ódio. Molière. Ha varias espécies de ciúme; o mais raro é o do coração. Levis. Os ciosos merecem indulgência por isso que ainda soffrem mais do que fazem soffrer. DICCIONARIO Oh ! mio poder-te ior — cruel ciúme, Tua funda raiz e a imagem delia No peito em sangue espedaçar raivo; Gonçalves Dias. Alma namorada, de pouco é assombrada. O monstro horrendo... Qual ? treme ; o ciúme ! Vês-lhe o peito? olha... um cancro ascoso roe-lh'o. Chega-lhe ao coração, eiva-lhe o sangue, Empeçonha-lhe a vida Nega-lhe o bem da morte. Garrelt. Ciúmes mal fundados e mal pedidos, mais parecem buscados que temidos. Morre a luz, abafa os ares Horrendo, espesso negrume, Apenas surge do Averno A negra fúria Ciúme. Sobre um sólio côr da noite Jaz dos infernos o nume, E a seus pés tragando brazas A negra fúria Ciúme. Crespas viboras pentêa Dos olhos dardeja lume Respira veneno e peste A negra fúria ciúme. Arrancando á Morte a fouce De buido, hervado gume, Vem retalhar corações A negra fúria Ciúme. Ao cruel sócio do Amor Escapar ninguém presume Porque a tudo as garras lança. A negra fúria Ciúme. Todos os males do inferno Em si guarda, em si resume O mais horrível dos monstros A negra fúria Ciúme. Amor inda é mais suave Que das rosas o perfume, Mas envenena-lhe as graças A negra fúria Ciúme. Nas azas do amor voamos Do prazer ao áureo cume Porém de lá nos arroja A negra fúria Ciúme. Do férreo cálix da morte Prova o funesto azedume Aquelle a quem ferve n'alma A negra fúria Ciúme. Do escuro seio dos fados Saltam males em cordume : O peor é o que eu soffro, A negra fúria Ciúme. Dos immutaveis destinos Se lê no edoso volume Quantos estragos tem feito A negra fúria Ciúme. Amor inda brilha menos Do que subtil vagalume Por entre as sombras que espalham A negra fúria Ciume. ÁLBUM COCHEIRO A memoria dos cocheiros é implacável; se ten- des relações com uma mulher casada, não vades de carruagem até á casa d'ella. Villcmol. Em amor, sempre a cólera é mentirosa. Publio Srjro. A cólera de uma mulher é o peior mal com que se pode ameaçar um inimigo. Chillon. As cóleras dos amantes são como trovoadas de verão que tornam os campos mais verdes e mais aprazíveis. Mad. Necker. As mulheres são mais inclinadas á cólera do que os homens. As almas mais fracas são as mais sujeitas á cólera; cedem-lhe em propor- ção da sua fraqueza. Plutarco. Não te alteres por bagatellas, ou por acci- dentes ordinários e inevitáveis. Em amor a mulher é vencida logo que com- bate; o coração cede desde que tenta defen- der-se. género humano está dividido em duas fac ções; os homens sustentam a guerra offensiva, as mulheres a guerra defensiva. amor exalta os dois partidos; embravece-se a peleja; Cupi- do atira-se ao meio da refrega, agitando o seu facho; mas contrariamente ás outras batalhas, esta, em vez de destruir os combatentes mul- tiplica-os. S. Marechal. DICCIONARIO COMEÇO 'juamlo se começa a amar, começa-se a vi- ver. M.** e de Scudcri. No amor, toda a importância está no come- ). O mundo bem sabe que aquclle que dá um lará mais alguns; o que devemos tra- tar de que o primeiro seja acertado. Fontenelle. >o os começos do amor são encantadores; por isso não me admiro que haja prazer em começar muitas vezes. O Príncipe de Ligne. amor começa sempre bem de mais, para bem acabar. C. Daumas. COMMERCIO O commercio de mais lucro foi sempre o ven- der o prazer, a felicidade, ou a esperança; é o dos autores, das mulheres, dos padres edos refe. Mad. Rol and. COMPAIXÃO Se uma mulher só por compaixão cede, pre- firo não viver do que viver de esmolas. Montaigne. A compaixão, junta com a amizade, forma em algumas mulheres um tão vivo sentimento, que as leva a commetter os mesmos erros que a mais forte paixão. Mad. d'Arconvilk. Nada está tão perto do amor como a com- paixão. Mad. Valmore. Em tomo da mesma idéa Meu ardente pensamento Constantemente volteia, Que horas estas de tormento ! E pode viver-se assim? Que força tens, coração? Pois tudo que sinto em mim És capaz de supportar? Oh ! basta! por compaixão Deixa emfim de palpitar. Bulhão Pato. ÁLBUM COMPARAÇÃO Quando acaba a embriaguez do amor, rimo- nos das comparações que Ninon de Lenclos. Louvar uma mulber por comparação é um mo- do infallivel de lhe fazermos perder a cabeça; porque fica lisonjeada na inveja e na vaidade. CONCÓRDIA que faz com que poucas vezes os casados vivam em concórdia, é que quasi sempre os homens se casam para terem um fim, e as mu- lheres um principio. Dupuy. Ser-me-hia mais fácil estabelecer a concór- dia em toda a Europa do que entre duas mu- lheres. Luiz xiv. Para os entendidos, acenos bastam. Provérbio. CONDESCENDER No amor, como na guerra, quanto mais o inimigo resiste, menos se deve ceder. Maurício de Saxonia. As mulheres que resistem não amam menos do que as que cedem. Mod. Lambert. DICCIONARIO CONFIANÇA Aquclle que se fia cm mulher fia-se cm la- drão. Hcsiodo. Mo nos devemos fiar em mulher morta. Provérbio. Em amor fiarmo-nos antes de conhecer, é dar logar ao arrependimento depois de conhe- cermos. Oxenstiern. As mulheres fazem sempre da confiança a primeira necessidade do amor. Macl. de Stael. Uma confiança arrojada não desagrada ás mulheres. Byron. CONFIDENCIA amigo mais intimo de uma mulher nunca Será tão estimado como o confidente do seu amor. Meílhan. Quasi sempre e para evitar as grandes con- fidencias, que as mulheres fazem pequenas con- fidencias aos seus maridos. Rochebrune. que une as mulheres entre ellas, é menos o effeito da sympathia do que as reciprocas confidencias. Dupuy. A única confidencia que sem perigo se pode fazer a uma mulher, é dizer-lhe que é linda. CONFISSÃO Um chapeleiro foi confessar-sc; —Qual é o vosso officio? perguntou o padre. — Sou chapeleiro. —Qual é o peccado que commetteis com mais frequência? —Festas ás meninas, meu padre. —Muito a miúdo? —Bastante. —Uma vez cada mez? —Mais. —Uma vez por semana? — Mais. — Uma vez por dia? — Mais. —De manhã e á noite? —Mais. —Safa! então quando é que trabalhaes pelo officio. Champfort. Segredos queres saber, busca-os no pezar e no prazer. Provérbio. Quem seu segredo guarda, muito mal escusa. Provérbio. ÁLBUM CONHECIMENTO Para sermos amados pelas mulheres, deve- mos deixal-as crer que as não conhecemos. Não se podem capacitar que 6 possível serem amadas por quem as conhece hem. ChampforL Aquelles que casam sem conhecerem hem com quem, jogam a vida a cruzes ou cunhos. A. Guyard. É difficil dizer se conhecemos melhor as mu- lheres quando as amamos ou quando já não as amamos. Meilhan: —Imporia pouco que os amantes se amem antes de se conhecerem, diziam, mas os espo- sos devem conhecer-se antes de casar. —Ora essa, respondeu Champfort, se assim fosse, ninguém casaria. Ricard. | CONQUISTA I Uma mulher que nada ama, inveja ás vezes ás outras as suas conquistas; uma mulher que ama, ainda menos perdoa as que se fazem á sua custa. A. Dupuy. A mulher que se mette á cara, é conquista pouco lisongeira; a melhor é a que custa a al- cançar; e a mais difficil de conservar, é aquel- la que alcançamos sem trabalho. Mad. de Rieux. As primeiras e as ultimas conquistas são as que as mulheres mais prezam. Basta ás vezes ser amado por uma mulher para conquistarmos muitas. Uma mulher não se deve satisfazer somente com a sua consciência; deve ainda procurar o conceito do mundo. Mulher que mette a mão na consciência, já não pôde fallar mal da visinha. Prov. É só ditoso na terra, Quem vive em paz com sua alma, Quem das penas que aqui soffre, Só do céo espera a palma. D. J. G. de Magalhães. A nossa consciência é o que nos julga. Re- prehendemo-nos antes que Deus nos reprehen- da. Somos indignos aos nossos próprios olhos, antes de o sermos na presença de Deus. Castello Branco. 62 DICCIONARIO CONSIDERAÇÃO A natureza disse á mulher: sê bella se po- ' virtuosa se quizeres; mas sê consi- derada, que é preciso. Bcaumarchais. A consideração para com as mulheres ê a medida dos progressos de uma nação na vida social. Grégoire. Onde as mulheres são consideradas, são os li omens livres e virtuosos. Cabanis. CONSOLAÇÃO Um homem quando deixa de ser amado, faz muita bulha e consola-se logo; uma mulher no mesmo caso cala-se e fica muitas vezes incon- solável. La Bruyère. que pôde consolar um marido enganado, é a lembrança que fica proprietário de um ca- pital de que os outros só gozam os juros. Sophie Arncud. A constância no amor é uma bigorna, que quanto mais batida mais rija fica. Demosthenes. A constância é a chimera do amor. Vauvenargues. Pode-se contar com a constância das mulhe- res, quando se lhes não exige nem a apparen- cia da fidelidade. Duelos. No amor, a inconstância dá o prazer, a fe- licidade. Trublet. As mulheres não prezam a constância, por- que é contraria ao prazer. A verdadeira constância é a que resiste ao tempo, á indiferença e aos favores. ÁLBUM As mulheres comparam o homem constante com o avarento que possue thesoiros e não sa- be dispendel-os. Blondel. A constância é como a ferida em que o me- dico prohibiu que se mexa ; quasi sempre lã vamos com as unhas. A. Karr. Vós que as rosas gentis buscaes, amantes, Nos jardins do prazer, E, em vez da flor, espinhos penetrantes Só chegaes a colher, Resignados soffrei, sede constantes Que a desventura Que e a magoa e dôr Sempre em doçura Converte Amor. Garrett. CONSTRANGIMENTO I O constrangimento que oppõe o amor, longe de o enfraquecer, muitas vezes o fortalece. Mad. Riccoboni. O constrangimento é o pae dos desejos. Op- por-se aos de uma mulher é dar á sua imagi- nação mais força e mais elasticidade. D'Argem. CONTRADICÇÃO Prohibir alguma coisa a uma mulher é des- pertar-lhe a curiosidade. A prohibição ateia os desejos que costumam ser ardentes para as coi- sas licitas e insaciáveis para as cousas prohi- bidas. Blondel. Eis o génio das mulheres : Se quereis uma coisa, ellas não a querem; não a quereis mais, hão de ellas querel-a. Novi ingenium mulierum Nolunt ubi velis, ubi nolis cupiunt ultro. Terêncio. que o marido prohibe a mulher o quer. Provérbio. Nil magis amant mulieres, quam quod non licet. Publio Syro. 64 CONTENTAMENTO Não lia ninguém mais difficil de contentar do que aqnelles que nos amam demais, ouaquel- les que já não amamos. Mad. cVArconville. amor é como o amor-proprio, contenta-se com pouco e aspira a tudo. Dupuy. floras breves do meu contentamento, Nunca me pareceu, quando vos tinha, Que vos visse mudadas tão asinha Em tão compridos annos de tormento. As altas torres que fundei no vento, Levou, emfim, o vento que as sostinha : Do mal que me ficou, a culpa e minha, Pois sobre cousas vãs fiz fundamento. Amor, com brandas mostras apparece, Tudo possível faz, tudo assegura; Mas logo no melhor desapparece. Estranho mal, estranha desventura! Por um pequeno bem que desfallece, Dm bem aventurar, que sempre dura. DICCIONARIO CONTESTAÇÃO A contestação é para o amor como o sopro para o fogo : fal-a crescer, mas ter menos du- ração. Lingrée. Nas contestações dos amantes, aquelles que menos amam é que pensam ter mais que per- doar. Jiochpèdre. Arrufos de namorados são amores dobrados. Provérbio. De ciúmes Amphriso envenenado A bella Nize um dia, «Entrega-me (dizia) A fita que te hei dado, Entrega-me o meu cão, e o meu cajado» Ella, para applacar-lhe os vãos furores, Meiga lhe respondeu: «Sobre estas flores Mais terno que sisudo Sem respeitar-me a candidez e o pejo Também me deste um beijo, Não quero nada teu, recebe tudo.» Bocage I CONVERSAÇÃO Não ha conversação mais fastidiosa que a de um amante que nada tem que desejar nem que temer. Mad. de Sartory. Só um homem pôde conversar com uma mu- lher duas horas dizendo-Ihe a mesma coisa sempre. Mad. de Stael. Tudo o que se diz e tudo o que se não diz; tudo o que se sabe e tudo o que se ignora; os boatos, as vozes, os receios, e as esperanças do mundo, um tanto de calumma, bastante maledicência, um certo fundo de justiça, a adu- lação para os que nos escutam, a implacável censura para os ausentes, eis como em rigor se pode definir essa coisa indefinível chamada conversação. /. Janin. Uma conversação de mancebos, embora aman- tes, não se detém senão em rebaixar o mérito das mulheres : nascidos, os disséreis, das pe- dras de Deucalião e creados ás tetas das lo- bas. A. F. de Castilho. ÁLBUM CORAÇÃO Nada está mais fora do nosso poder do que o nosso coração; não só não o podemos governar como também somos obrigados a obedecer-lhe. coração tem as suas razões que a razão não conbece. Bossuet. No amor, o coração é um soberbo; estima o que lhe resiste e gosta de vencer o que outro não venceu. Mad. de Sartory. coração concilia as coisas contrarias e ad- mitte as incompatíveis. La Bruyère. O coração da mulher é um abysmo de que ninguém conhece o fundo. Mad. de Riccoboni. Não se podem comprehender os caprichos do M. elle de Fontaines. I Não se conserva a paz do coração senão pe- | lo desprezo do que a pode perturbar. coração de uma mulher namoradeira é uma rosa da qual cada amante leva uma fo- lha, deixando só os espinhos ao marido. Sophie Amoud. A infelicidade dos corações que amaram i não achar nada que possa supprir o amor. Só para amar é que o céo nos deu o cora- ção. Não se contesta com o coração: ou se que- bra ou se lhe cede. Rochpèdre. coração de uma mulher não envelhece ; quando acaba de amar é porque acabou de palpitar. Rochpèdre. coração que nunca amou foi o primeiro atheu. Mcnicr. coração das mulheres está á mercê do? seus olhos e dos seus ouvidos. S. Marechal. Comparo o coração das mulheres com aquel- las caixinhas que se compram nas feiras, e das quaes saem diabos de todos os tamanhos e de todos os feitios, logo que se abrem. Alexandre Dumas. coração de uma mulher honrada é uma sala em que só se entra depois de se ter espe- rado na antecâmara. Commerson. coração das mulheres é uma parte dos céos, mas como elles,muda de dia e de noite. Em amor, os corações justos são os primei- ros vencidos. Sénancourt. DICCIONARIO 1 1 coração de uma mulher casada é uma pro- le hypollieeada. Commcrson. coração das mulheres ó como as amêndoas envolvidas em charadas. Pelit Semi. Raiva de coração faz passar dôr de dentes. Provérbio. Corações ha de homens que sem ser effemi- nudos, não desdiriam n'um peito feminino. A. F. de Castilho. Na face e nos olhos se lê a lettra do cora- Proverbio. Um coração é espelho de outro. Provérbio. Coração partido sempre combatido. Provérbio. Como a abelha diligente Que busca a singela flor, Uni singelo coração Também só procura amor. Garrett. Que é do teu fogo, coração que ardias Em fogos de paixão se te abrasavam Os olhos de mulher, vista n'um sonho? E os mundos meus tão mágicos de crenças, Quaes lúcidas visões de accesa febre Que é d'elles? — vi-os eu em poucos dias Passar, fugir, no resvalar dos annos, E com elles sumirem-se nas trevas D'esse abysmo, chamado a consciência! Castcllo Branco. As mulheres teem ás vezes coragem bastante para sacrificar seus amores, nunca teem força sufticiente para os esquecer. Beauchêne. Uma mulher chegada ao termo da juvenlude não deve suppôr que pode ter commercio com as paixões, ainda que seja para vencel-as, a sua força deve estar no socego e não na cora- gem. Mad. Guizot. Em amor, a coragem diminue com o tempo.. Mad. d'Arconville. CORAR Córa-se mais vezes por araor-proprio que por modéstia. Mad. Guibert. Coramos ás vezes de amar, e continuamos ! Saurin. Gorar é nas meninas, ora o bilhete de visita, ora a carta d'enterro da innocencia. Alexandre Dumas. Quando uma menina já não cora, perdeu o encanto mais poderoso da belleza: Gregoiy. ÁLBUM CORPO Pôde encontrar-se um coração constante n'um corpo infiel. Staht. A virtude parece mais bella n'um corpo per- feito. Gratior et Pulchro veniens in corpore vir- tus. Virgílio. Um corpo lindo promette uma bella alma. Sócrates. CORRECÇÃO Uma boa correcção servo mais ás mulheres do que um collar de pérolas. Salamão. Corrigir uma mulher é querer branquear um tijolo. Lados. As mulheres resistem muitas vezes as melho- res maneiras, e deixam-se vencer pelos peio- res tratamentos. Tilly. As mulheres são como as costelletas, quaislo mais batidas mais tenras. Bater no que se ama é o effeito mais natu- ral do amor. Amar e bater são uma só coisa. Ira mistus abundai amor. Ovidio. DICCIONARlO Não se deve bater em uma mulher nem com uma flor. Provérbio indio. homem que levanta a mão para uma mu- lher é um miserável para o qual ainda seria lisongeiro o nome de covarde. Os homens que teem bons costumes são os verdadeiros adoradores das mulheres. J. J. Rousseau. Onde os povos tiveram bons costumes, as mulheres reinaram. Bcrnardin de Saint Pierre. Os costumes severos conservam as affeições sensiveis. Mad. de Stael. Os homens fazem as leis, as mulheres fazem os costumes. Ségur. COISA Ha só duas coisas lindas n'este mundo, as mulheres e as rosas, e só duas coisas boas, as mulheres e os melões. Malherbe. Ha três coisas que as mulheres deitam pela janella fora. seu tempo, o seu dinheiro, e a sua saúde. Mad. de Geoffrin. amor é uma paixão emprehendedora. Montaigne. Três coisas movem poderosamente as mulhe- res: o interesse, o prazer e a vaidade. ÁLBUM GO O amor é sempre crédulo. Crédula semper res amor est. O amor faz sempre crer aquillo de que mais deveriamos duvidar. Marivaux. Quem ama é cego; a prudência abandona o seu espirito e cede o logar á confiança e á cre- dulidade. Joly. CRIANÇA Um casamento sem filhos é um mundo sem ol. Conjugium sine prole esl mundus sine sole. Santo Agostinho. Filhos pequenos, dores de cabeça. Filhos grandes, dores do coração. Napoleão perguntava um dia ao celebre me- dico Gorvisart até que edade um homem pôde ter filhos. —Depende isso, respondeu o medico, da or- ganisação e do temperamento de cada marido. — Um homem que casa aos sessenta annos poderá ter filhos? —Ás vezes. — E casando aos setenta? —Aos setenta, sempre. Mad. d' Abrantes. | Perguntava mad. de Slacl um dia a Napo- leão qual era, ao seu ver, a primeira mulher do mundo. —A que teve mais filhos— respondeu o mo- narcha. Ricard. Uma mulher é sempre uma creança. A. de Vigny. Uma mãe protege o corpo de seu filho, e o filho protege a alma de sua mãe. L. Desnoyers. Muitas filhas em casa tudo se abrasa. Provérbio. Aurora da existência, infância amável Edade abençoada Da mão que rege, que aviventa os dias. Mimo da natureza, Da cândida innocencia bafejado, Breve, mas linda flor Sobre o gomo de vida despontada, Infância ! oh meiga edade ! Garrett. DICCIONÂRIO CRIME O amor desculpa todos os crimes que faz (crametter. Mad. de Sartory. Pois que. dize-me, responde Tanto amor que esta alma esconde Deve em silencio ficar? Pois é crime uma palavra Quando no peito me lavra O fogo do teu olhar? E. A. Vidal. amor que nasce de repente é o que pre- cisa mais tempo para se curar. La Bruyère. Se vos quereis curar do amor evitae os na- morados. Ovidio. Em amor, o que se cura primeiro é sempre o mais bem curado. La Rochefoucaidd. Ha bastantes remédios para curar as feridas do amor, mas nenhuns são infalliveis. La Rochefoucauld. A melhor maneira de curar o amor é satisfa- zel-o. Marivaux. amor é como a febre, ora maior, ora me- nor. Parece-nos ás vezes que estamos curados, outras que estamos para morrer. Ninon de Lenclos. Passa teus males com tento Se lhe queres achar cura, Põe em ai o pensamento Que o que parece sem cura, As vezes o cura o tempo. Bernardim Ribeiro. ÁLBUM A curiosidade perdeu mais raparigas que o amor. Mad. de Puisieux. As meninas sempre teem curiosidade de apren- der o que as suas mães não quizeram ignorar. A curiosidade das mulheres é o escolho da sua virtude. Rochebrune. Impellidas pela curiosidade ou pela novidade, as mulheres vão longe. Ricard. DANÇA A dança é para as moças o mesmo que a caça para os mancebos, unia escola protectora da sa- bedoria: um preservativo das paixões que nas- cem. Lemontey . Aos quinze annos a dança é um prazer, aos vinte e cinco é um pretexto, e aos quarenta um cançaço. Ricard. Dançando com moças ao rythmo da lyra ranchinho em que as graças apontam em flor ao peso da vida metade se tira, o resto é já leve; supporto-o sem dôr. A. F. de Castilho. Tu hontem Na dança Que cança Voavas Co'as faces Em rosas Formosas De vivo, Lascivo Carmim; Na valsa Tão falsa, Corrias, Fugias, Ardente Contente, Tranquilla, Serena, Sem pena De mim! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti ! Quem dera Que sintas!... —Não negues, Não mintas. Eu vi!— Valsavas : Teus bellos Cabellos Já soltos Revoltos, Saltavam, Voavam, Brincavam No collo Que é meu ; E os olhos Escuros Tão puros, Os olhos Perjuros Volvias, Tremias, Sorrias, P'ra outro Não eu ! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti ! Quem dera Que sintas!... Não negues Não mintas!,.. Eu vi! Meu Deus! Eras bella Donzella, Valsando, Sorrindo, Fugindo, Qual sylpho Risonho Que em sonho Nos vem! Mas esse Sorriso Tão liso Que tinhas Nos lábios De rosa, Formosa, Tu davas, Mandavas A quem ? ! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti, Quem dera Que sintas — Não negues, Não mintas, Eu vi!... Calado Sósinho, Mesquinho Em zelos Ardendo, Eu vi-te Correndo Tão falsa Na valsa Veloz! Eu triste Vi tudo ! Mas mudo Não tive Nas galas Das salas Nem falias, Nem cantos. Nem prantos, Nem voz ! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti, Quem dera Que sintas —Não negues Não mintas, Eu vi! .. Na valsa Cançaste ; Ficaste Prostrada Turbada ! Pensavas Scismavas, E estavas Tão pillida Então ; Qual pallida Rosa Mimosa, No valle Do vento Cruento Batida, Caida Sem vida No chão. Quem dera Que sintas As dores De amor Que louco Senti. Quem dera Que sintas —Não negues N.To mintas Eu vi!... Aquellas que dão amor por prazer, recebem- no muitas vezes por necessidade. As mulheres só dão de bom grado aquillo que se lhes furta. Dupuy . Acontece muitas vezes que a mulher dá o amor sem o receber, e em quanto accende pe- la sua belleza, mil desejos nos corações, o del- ia fica gelado. P. du Bosc. amor é um mendigo que ainda pede de- pois de se lhe ter dado tudo. Rochpèdre. DECLARAÇÃO Só um homem com pouca experiência pode fazer uma declaração em forma. Uma mulher fica mais convencida de ser amada pelo que vê do que pelo que lhe dizem. Ninon de Lenclos. Em amor, de tantas coisas fáceis, a declara ção 6 a coisa mais difficil. Para uma mulher delicada a mais seduetora declaração é o embaraço de um homem de es- pirito. Laténa. Dama d'estranho primor, Se vos for Pesada minha firmeza, Olhae, não me deis tristeza, Porque a converto em amor. E se cuidais ÁLBUM De me inalar, i(iruulo usais D'esquivança, Irei tomar por vingan ça Amar-vos cada vez mais. menor defeito das mulheres que se dedi- cam aos amores é o amor. La Rochefoucaukt. Devemos olhar para os defeitos de quem amamos com os mesmos olhos que olhamos para os nossos. Mad. de Grafigny, Aquelle que não gosta dos defeitos de quem ama, não ama. Os amantes oceultam sempre os seus defei- tos cuidadosamente, mas os maridos deixam- nos ver. Mad. Desnoyer. Antes do casamento deveríamos bem reparar para os defeitos da noiva, e depois olhal-os com indulgência. Mad. Riccoboni. Corrigem-se os defeitos dos homens com o seu espirito, os das mulheres com o seu cora- ção. Bcauchcne Uma mulher que ama, acostuma-se aos de- feitos do seu amante. Stcndhal. Os homens, pelo seu comportamento para com as mulheres, fazem por dar-lhes os defei- tos que lhes censuram depois. L. Desnoyers. Quando se ama uma pessoa apezar dos seus defeitos, ama-se talvez mais que se os não ti- vesse. Rochpèdre. A amizade deve ser esclarecida, e o amor ce- go. Quem não vê os defeitos do seu amigo, não gosta d'elle; quem vê os da sua amante, já a não ama. Petit Senn. DICCI0NÀR10 DELICADEZA aos sempre ser delicados e nunca cio- sos. A delicadeza é terna, o ciúme muitas ve- : baro. Berms. Só o amor deveria occupar as almas delica- das. Para os homens grosseiros, a gula, o jogo, e a ambição. . Champfort. Nos homens, a delicadeza do amor está em razão dos obstáculos; nas mulheres, em razão da felicidade que ellas nos dão. Sainl Prosper. DEPRAVAÇÃO A depravação serve mais para destruir que para multiplicar os homens. Adidtcr non p rolem sed voluptatcm quacrit. Quintiliano. Por causa de uma mulher depravada reduzi- mo-nos a um hoccado de pão. Salamão. Os excessos da nossa mocidade são outras tantas conjurações contra a nossa velhice. Pa- gam-se caro á noite as loucuras da manhã. Luxuriose viventes senifieri non expedit. Bacon. Sed ipsae volup lates in tormenta vertuntur. Séneca A depravação é o excesso do prazer sem o prazer. LeMetlrie. Uma mocidade passada na devassidão, trans- mitte á velhice um corpo enfraquecido. Intemperans adolescentia effcclum corpus ira- dit scnectxiti. Cícero. ÁLBUM DESAFIO Antes nos queremos batter contra o amante de uma mulher do que contra o seu marido. Com o primeiro podemos esperar aproveitar da nossa victoria, contra o outro nada ha a es- perar. Mad. de Sartory. Não ha maior loucura do que batter-se por causa de uma mulher. Não ha nenhuma que se quizesse desfazer de um de seus encantos para servir o homem que mais ama. Quando dois namorados brigam por causa de uma mulher, quasi sempre teem atraz de si um terceiro qne tanto mais ri da sua loucura, quanto para tudo obter não arrisca coisa al- guma. Belkgarigiie. Que o duello é, só na idéa, uma compara- ção repugnante com os preceitos do christia- nismo, seria, demonstrando-o, querer provar, com grandes argumentos, que os raios do so] são caloriferos. Castello Branco. Se as desavenças são frequentes entre aman- tes, é por que clles sabem que no amor satis- feito só as reconciliações valem alguma coisa. Dupuy. DICCIONARIO DESCONFIANÇA Aí mulheres devem ainda mais desconfiar das mulheres que dos homens. /. J. Rovsst au. Não quero excluir o ciúme do amor; mas a desconfiança, ao meu ver, deshonra os aman- As mulheres desconfiam de mais dos homens em geral, e não bastante em particular. DESDÉM Conheci mulheres que na juventude não acha- vam homem que lhes agradasse. Mas o tempo poz termo aos seus desdéns, e aos quarenta annos aceitaram para senhores aquelles que aos vinte não teriam querido para lacaios. Rochcbrunc. Ditoso seja aquelle que somente Se queixa de amorosas esquivanças Pois por ella não perde as esperanças De poder n'algum tempo ser contente. Camões. Esquivança aparta amor. Provérbio. Por ser esquiva a amor íoi transformada Em verde louro Daphne rigorosa, Recusando-se altiva, e desdenhosa A' ventura de ser de nem Deus amada. F. E. Leoni. Em amor, o cumprimento dos nossos desejos muitas vezes a fonte dos nossos males. que desejamos com mais furor perde gran- de parte do seu valor depois de o obter-mos. amor sem desejos é uma chimera; não existe na natureza. Ninon de Lenclos. desejo de ser amado prova muito amor próprio, o de amar, muita sensibilidade. ili elle de Sommery. Os desejos das mulheres parecem-se com os espargos ; logo que se cortam, nascem nova- mente com mais força. ÁLBUM Ah ! que eu não morra sem provar, ao menos Sequer por um instante n'esta vida, Amor egual ao meu ! Dá, senhor Deus, que eu sobre a terra encontre Uni anjo, uma mulher, uma obra tua Que sinta o meu sentir; Uma alma que me entenda, irmã da minha, Que escute o meu silencio, que me siga Dos ares na amplidão ! Que em laço estreito unidas, juntas, presas, Deixando a terra e o todo aos céos remontem N'um extasis de amor. Gonçalves Dias. Quem ama sabe o que deseja, e não sabe o que lhe cumpre. Provérbio. Os fracos do coração Obedecem á vontade, E muito mais sem razão, E' perder a liberdade Por algum cuidado vão. Se desejas descançar Deste que te traz cançado, Lança-te, Pérsio, a cuidar Que, ás vezes, o desejado, Alcançado dá pezar. Bernardim Ribeiro. Não ha homem sem coração, nem coração sem desejos. Conhece o homem o que deseja e conbece-se a si mesmo, para não desejar coi- sas fora da sua esphéra. Fez-se Niobe em pedra, e Philomela em pássaro, Assim folgaria eu também se me trasformasse Júpiter a mim. Quizera ser o espelho, em que o teu rosto plácido sorri ; a túnica feliz, que sempre está próxima de ti'; O banho de crystal, que esse teu corpo cândido contem ; o aroma de teu uso, e d'onde eflúvios mágicos provem ; depois esse listão, que do teu seio túrgido faz dois ; depois... do teu pescoço o rosicler de pérolas, depois... depois I ao ver-te assim, única, e tão sem emulas Qual és ; até quizera ser teu calçado, e pisassem-me teus pés, A. F. de Castilho. Dá, meu Deus, que eu possa amar, Dá que eu sinta uma paixão; Torna-mc virgem minha alma E virgem meu coração. g Gonçalves Dias. DICCIONAMO gocios do amor parecem-se com o que- rer ferir lume em fuzil, nada se alcança senão depois de simultâneas tentativas e quando já se chega ao desespero. Bugmj. O remorso do malvado E' desespero e tortura ; E a reminiscência d'elle O coração lhe tortura. J. ./. Junqueira Freire. Deus permitte que eu na terra Possua immensa riqueza D'amarguras sem refugio, De inconsolável tristeza. Quiz que, a par d'estes martyrios. Viesse um anjo d'amor ; Mas não ouço a voz do anjo, Quando grita a minha dôr. N 'esses inomenlos lenireis De insondável amargura. Quando o cálix não supporto, Peço a Deus a sepultura. C. Castello Branco. Os homens seriam grandes santos, se amas- sem tanto a Deus como ás mulheres. A maioria das mulheres entregam-se a Deus quando o demónio já as não quer. Sophie Arnoud. As mulheres amam sempre; quando lhes fal- ta a terra, fogem para o céo. A mór parte das mulheres passam a vida a offender a Deus e a confessar-se de o ter offen- dido. Clemente XIV. amor faria com que se amasse a Deus em terra de atheus. Itochester. amor faz amar a dade. e crer na sua hon- Bcrnardin de Saint Picrre. ÁLBUM A nossa escolha faz as nossas amizades, mas Deus é que faz o nosso amor. Mad. de Stael. Dizia um homem devoto: —Se eu ignorasse a existência de Deus, ado- rava duas coisas, o sol e as mulheres. Labouisse. Os céos, os mundos, o oceano, a terra É uni vasto hieroglyphico, é a forma Symboliea do Ser aos olhos do homem. O movimento harmónico dos orbes É o hymno eterno e mystico, que narra Altamente de um Deus a omnipotência, Tudo revela Deus,— e Deus é tudo. D. J. G. de Magalhães. Mas quem és tu, Senhor, que esta alma anceia E qual o nome teu? Acaso o diz a lua, que em mysterios Se envolve em negro véo? Dil-o o bosque, o vergel, o ramo, a folha Ou o escarcere cruzado Quando se atira e bate e se espadana Contra o cerre aprumado? Dizem-o esses milhões de estrellas doiro Engastadas no céo? Senhor, Senhor, que esta alma em vão procura Dize-me o nome teu? E. A. Vidal. No amor de Deus ha um sacriGcio que faz a similhanga do que se ama no céo com o que se ama na terra. Castello Branco. I DEVER É mais facií segurar uma mulher no dever pelo amor que pelo medo. Pudor e et Uberalitate mulieres retinere satius esse credo quem metu. Terêncio. Ha na palavra dever um não sei que mara- vilhoso cujo effeilo mantém os magistrados, accende o animo dos guerreiros e esfria os Dupuy. dever de uma menina está na obediência. P. Corneille. dever de uma mulher consiste na compla- cência. C. d'Earlevillc. D1CCI0NARIO DEVOÇÃO k devoção ê o ultimo dos amores. Saint-Evrcmo/U. Quando as mulheres já não estão em edade de agradar, tornam-se beatas. É preciso que dias tenham muita fé na indulgência do Se- nhor, pois lhe vão offerecer o que os homens não querem. Dupvy. Toda a mulher que é beata por temer o amor. não o pode ser muito tempo. As beatas são sempre curiosas, indemnisam- se dos peccados que já não fazem, com o prazer de conhecer os peccados alheios. Marivaux. Aos cincoenta annos é que as mulheres se tornam beatas; é o tempo da apparição do de- mónio. Helvelio. Uma mulher que se torna verdadeiramente beata, é porque tem a alma verdadeiramente terna. Saintr Foix. A devoção só consola do amor por ella mes- ma ser amor. Rochpèdre. Quando um homem não soube agradar ao pri- meiro dia, poucas vezes agrada ao segundo. A mulher que passou um dia sem ver 0: amante, considera esse dia perdido para ella; o homem considera-o perdido para o amor. Como fervidas q Vão-se a vôo os dias nossos; do que foi só restam ossos que o sepulchro em pó desfaz. A. F. de Castilho. Os meus alegres, venturosos dias Passarão, como raio, brevemente, Movem-se os tristes mais pesadamente Apoz das fugitivas alegrias. Camões. ÁLBUM DIABO Em nome do Padre e Filho E do Espirito também, Que em sua graça nos tenha Para todo o sempre — Amen. Antes de fallar no demo Deve-se a gente benzer Que o velhaco arde em desejos De nos tentar e perder. A mulher é o órgão do diabo. S. Bernardo. Deus prohibiu-nos as mulheres, meus irmãos, mas o diabo deu -nos irmãs. S. Francisco. Se Satanaz podesse amar deixaria de ser mau. Santa Thereza. diabo dorme mais perto de minha mulher do que eu. Lutherio. Quasi todas as mulheres lêem o diabo no | corpo, e saibam os maridos por experiência que quando o diabo se encaixa em algum sitio, dif- ficil é fazel-o sair. Blondcl. frade e a mulher são as duas garras do diabo. Provérbio. Dizia um marido descontente: —0 diabo para melhor enraivecer Job, tirou- Ihe as riquezas, a saúde e os filhos, e deixou- lhe... a mulher. Ricarã. DIFFAMAÇAO A maior parte das mulheres quer antes ver diffamada a sua virtude que o seu espirito ou a sua belleza. Fontcnelle. Uma mulher deve desprezar a difamarão e temer de a merecer. M elle . de Scuderi. Um dia diffamei o amor, e para se vingar mandou-me o hymeneu— ficou bem vingado. Rivarol. Se a mulher é o mais doce presente que Deus deu aos homens, aquellc que as difama é o maior dos ingratos. A. Gayard. Maldiz-se das mulheres pelo mesmo motivo que só se atiram pedras ás arvores carregadas de fructa. Ricard. Custa a crer como um ente, que é metade da nossa espécie, que das duas é a mais ama- DICCIONARIO \el metade, a mais carinhosa, em tantas coisas nosso egual para nos attrahir, mas com tantas differenças de nós para se nos unir ainda mais, i:ue se tem defeitos, de nós os recebe, e nos dá em troca, sem o cuidar, tantas das virtudes que possuímos; custa, digo, a crer como um !;;i ente, a quem sua própria fraqueza devera inviolável, pôde ver-se em todos os tem- : ovavclmente continuara a ser até ao -óculos, alvo e emprego das criticas sabridas, e mais grosseiras calumuias, A. F. de Castilho. Repartir dinheiro é augmentar o amor ; dar dinheiro é matal-o. Rochebrune. Uma das fontes da infelicidade dos casamen- tos, é a noiva só olhar para a pessoa, e a mãe para o dinheiro. La Roche. Um velho que compra amor, mostra tanta modéstia quanta generosidade, pois que paga para que caçoem d'elle. Ricard. amor, o" dinheiro sonante. pobre que ama é mais rico de que um banqueiro. A. Iloussaye. amor sem dinheiro parece uma bota de 'Olimeato sem sola. Commcrson. Nos amores, hoje em dia, nobrezas não tem valor ; virtude a ninguém conquista, o que attrahe, que prende a vista é sú do oiro o esplendor. A. F. de Castilho. Antes velha sem dinheiro que moça com ca bcllo. Provérbio. Já se não importa Cupido Do arco mas sim da arca. O dinheiro é melhor flecha Que os sonetos de Petrarca. C. Castello Branco. Com a mulher e o dinheiro não zombes, companheiro. Provérbio. Povos e reis inclinai-vos, Meus escravos todos sois! Diante de mim prostrai-vos, Artistas, sábios, heroes! Eu inspiro a paz e a guerra, E posso tanto na terra ÁLBUM Como Deus pode no céo. Do vicio faço a virtude, Não preciso quem me ajude, O Sceptro do mundo é meu. Dinheiro, invicto dinheiro, Só em ti é que eu me fundo; Tens o direito da força És o tyranno do mundo. DISCRIÇÃO amor torna as mulheres discretas. Barthe. Um amante infeliz é poucas vezes discreto ; é mais fácil queixar-se aos penedos do que fi- car calado. 3Iad. de Sartory. A discrição é mais precisa ás mulheres do que a eloquência; custa-lhes menos fallar bem que fallar pouco. P. du Bosc. único segredo que uma mulher conserva, é o da sua edade. Uma mulher só esconde o que não sabe. Os segredos do coração são o laço da ami- zade das meninas. M. elle de Scuderi. Na bocca do discreto o publico é secreto. Provérbio. A bclleza causa distracção ao mais severo re- cato. Dupwj. Infeliz é a mulher que as distracções fazem feliz. Gohhmith. casamento é sério e triste. Quantos casa- dos morriam de aborrecimento se não fossem algumas pequenas distracções. Marivaux. DesconBae da mulher distrahida; è um Iynce que vos observa. Devemos respeitar o casamento em quanto só é um purgatório, e dissolvel-o logo que se torna um inferno. Erasmo. Nenhuma associação pode durar senão em quanto dura o consentimento dos sócios. Tamdiu durai, qita7ndiu consensus. divorcio é necessário ás civilisações avan- Monksquieu. divorcio v, tão natural que em muitas ca- s;:s dorme todas as noites entre os esposos. Champfort. Ila só um meio de dar mais fidelidade ás mulheres no casamento, é dar mais liberdade ás solteiras e o divorcio aos casados. Um único divorcio que castiga um marido da | sua tyrannia impede mil casamentos maus. DOÇURA Qausi todas as mulheres teem mais doçura fora de casa do que n'ella. Tácito. Para as mulheres, a doçura é o melhor meio de ter razão. j¥. elle de Fontaine. Vénus imperiosa tem menos poder que Vé- nus carinhosa. P. du Bosc. ÁLBUM DOENÇA O amor é uma doença que não quer outro medico senão a si mesmo. Amoris vulnus sanai idem qui facií. Proverão. As doenças são para os homens lições de virtude e de recato; e se nunca se curassem, veríamos menos loucos e menos viciosos. As bexigas são a batalha de Waterloo das mulheres ; no dia que segue é que ellas po- dem conhecer quem as amava. Balzac. DOMINAÇÃO Uma mulber sempre pôde dominar o homem mais déspota do mundo. Para isso deve ter bastante espirito, bastante belleza e pouco amor. Fontenelk. Algumas mulheres não conseguem governar os maridos, mas não ha marido que consiga governar a mulher. jtf. elle de Sommery. Onde o amor manda, não ha outro senhor. Gresset. único meio de não depender-mos das mu- lheres, é fazel-as depender de nós. Rétif de la Bretonne. Se o mundo é mal governado, é porque é governado pelo amor. il/. e!le de Sommery. DOR Amar 6 celebrar um contrato com a dôr. JJ/. clIe de 1'Espinasse. A dôr só aformoseia o que é formosa. George Sand. amor de dois entes n'este mundo, é mui- tas vezes o privilegio de causarem maiores do- res um ao outro. Sainte Beuve. Se uma abelhita tal dôr te excita, diz Vénus— pensa que dôr intensa dão a quem ama farpões de Amor. A. F. de Caslillio. Ninguém larga sem dôr o que possue com amor. Provérbio. Guerra, caça e amores, por um prazer cem dores. Provérbio. DICCIONÀRIO - ■ : ':. fingir virgíneas dores, Corar, quando le fita o olhar ancioso; Rir e chorar a um tempo! mas repouso, Mulher, nSo sabes dar a tantas dores. Theophilo Draga. Dôr de mulher morta dura até á porta. Provérbio. Ha dores fundas, agonias lentas, Dramas pungentes que ninguém consola, Ou suspeita sequer ! Magoas maiores do que a dôr d'um dia, Do que a morte bebida em taça morna De lábios de mulher. C. de Abreu. DURAÇÃO Ainda mesmo que durasse um século, o amor feliz é só um instante. Propercio. É difficil arrancar do coração uma paixão que durou muito tempo. Difficile est longum súbito deponere amorem. A maior parte dos amores não teem duração; parecem-se com a madeira que á força de nos aquecer, reduz-se a cinzas. Os homens teem um fim quando amam; a du- ração d'esse sentimento é que causa a felicida- de das mulheres. Mad. de Stael. Nesta vida cega Nada permanece; O qu'inda não chega Já desapparece. 89 DIVIDA Soffrem-se tamanhas dores quando se duvida se é enganado, que ao pé d'ellas, a certeza de o ser é um prazer. Molière. No amor cioso, a incerteza éopeior dos ma- les, até ao momento em que a realidade nos faz lastimar a duvida. Blondcl. Quando se ama, duvida-se muitas vezes d'aquillo que mais se crê. La Rochefoucauld. A duvida è uma tortura. Castello Branco. D1CCI0NARI0 E EDUCAÇÃO Mandámos como rei, e rogamos como ho- mem; que aos velhos cangados se desculpe tu- do; aos moços levianos se dissimule alguma coisa ; porém, que aos meninos nada se lhes perdoe. EGOÍSMO A mulher egoísta 6 um monstro; a natureza não a fez senão para outrem. Lycurgo. \i pela educação das mulheres que devemos começar a dos homens. M. úle de 1'Espinassc. J. B. Say. egoísmo da mulher 6 sempre egoísmo de dois. Os ignorantes são os inimigos da educação das mulheres. Macl. de Stael. Stcndhal. casamento tem a propriedade de romper todos os laços anteriores, para lhes substituir Criar um homem é formar um ente que na- da deixa atraz de si; criar uma mulher é for- mar as gerações vindoiras. o egoísmo. C. Fourier. E. Laboulaye. verdadeiro orphão não é aquelle que per- deu o pae; é quelle que o pae deixou sem edu- cação. Prov. oriental. A mulher é menos egoísta que o homem; ella falia menos de si que do seu amante. homem falia mais de si que do seu amor, e mais do seu amor que da sua amante. Metthan. ÁLBUM O amor é tão egoísta, que preferimos ver a | pessoa que amamos infeliz do que vel-a feliz com outro. A. Poincelot. Ser amado, é receber o maior dos elogios. Mad. Necker. Seduz-se mais depressa uma mulher com pa- lavras meigas e meia dúzia de elogios que com heroismo e dedicação. L. de C. EMOÇÃO Ha mulheres que procuram tanto as emoções, que preferem uma desgraça a uma situação tranquilla. Mad. de Flahaut. Uma mulher que já não excita emoção algu- ma, fica ainda assim capaz de sentir muitas. Mad. de Rémusat. DICC10NARI0 ENCANTO Toucas mulheres se podem consolar da per- da de seus encantos; para cilas, não agradar ri ver. Rochpèdre. Tiramos os encantos aos objectos que já nos não agradam, para com elles adornar os que desejamos. Rochpèdre. Amei-lhe a alvura da face, Amei-lhe seus olhos bellos, Amei-lhe o nácar dos lábios, E seus formosos cabellos. Amei-lhe as rosas do pejo, Amei-lhe a tez de setim, Amei-lhe o collo de cysne, Amei-lhe a mão de marfim, Amei-lhe as perlas da bocca, Amei-lhe o braço de neve, Amei-lhe seu ar elegante, Amei-lhe a cintura breve. Amei-lhe os hombros de jaspe, Amei-lhe o seio divino, Amei-lhe o andar gracioso, Amei-lhe o pé pequenino. Amei seus gestos sein arte, Amei-lhe os prantos de dôr. Amei-lhe as doces palavras, Amei seu riso d'amor. Amei-lhe a linda innocencia, Amei-lhe a casta isenção, Amei-lhe os seus pensamentos, Amei-lhe o seu coração. Amei o ar que bebia, Amei o chão que pisava, Amei-lhe as flores da trança, Amei a côr que trajava. Amei-lhe os pães e a amiga, Amei-lhe a canção singela, Amei tudo o que ella amava, Amei tudo o que era d'ella! Formosa e gentil dama, quando vejo A testa doiro e neve, o lindo aspecto, A bocca graciosa, o riso honesto, O collo de crystal, o branco peito, De meu não quero mais que meu desejo, Nem mais de vós, que ver tão lindo gesto. Camões. Diz-se que as feiticeiras tcem o seu encanta- mento em um novelo; o novelo do feitiço das mulheres está no seu coração e no seu espiri- to, que n'cllas é também coração. A. F de Castilho. ÁLBUM Logo que uma mulher se sente enfadada, está bem perto de amar. Deus, que usa de todos os meios para nos attrahir a si, serve-se do enfado para tornar as velhas beatas. Helvetio. Não ba melhor remédio contra o enfado, do que uma grande paixão ; desperta os sentidos e dá exercício ao espirito. Mad. de Rieux. enfado é o signal mais infallivel do es- friamento do amor. Os amantes importunam emquanto não sãc amados, depois enfadam. enfado produz, apoz o dinheiro, muitos casamentos que não são dos peiores. No amor o engano é sempre maior do que a desconfiança. La Bruyère. engano é ás vezes melhor que o desen- gano. La Rochefoucauld. Haveriam menos mulheres enganadas se el- ellas podessem preferir o homem que as ama áquelle que ellas amam. Mad. Dunoyer. Pôde um marido não saber que a mulher o engana, mas nunca pôde ter a certeza que o não engana. M. m de Sommery. Os homens honrados amam as mulhere ; os que as adoram enganam-nas. DICCIONARIO As mulheres enganadas são sempre as mais loucas amantes. Richardson. A mulher que a dois ama, a ambos engana. Provérbio. A um engano outro engano. Provérbio. Por muito que o engano se cobre, elle mes- mo se descobre. Provérbio. ENTREVISTA A primeira entrevista é uma promessa de felicidade. Um cavalheiro deve portar-se n'ella por tal modo que seja impossível recusar-se- lhe a segunda. Rochbrune. Uma mulher n'uma entrevista amorosa só pede amor. Se a vossa conversa se afastar d'es- se {assumpto, perdereis duas coisas, o tempo e a occasião. Ricard. A exactidão é uma qualidade que as mulhe- res prezam muito ; e é para ellas uma prova de amor, não nos demorarmos na hora de uma entrevista. Duflot. imperador Carlos Quinto sentindo uma gran- de paixão pela virtuosa duqueza de Medina Celi propoz-lhe em segredo uma entrevista. —Senhor, respondeu a recatada princeza, se eu tivesse duas almas, arriscaria uma d'ellas para agradar a vossa magestade, mas como te- nho uma só, não a quero perder. Ricard. 93 ERRO O erro de quasi todas as mulheres é troca- rem os sentimentos pelo espirito. Jouy. Os erros das mulheres provem quasi sem- pre da sua crença no bem e da sua na verdade. Balzac. ESCOLHA Uma mulher sensata nunca deve acceitar um amante sem a approvação do seu coração, nem um marido sem o consentimento da sua razão. Ninon de VEnclos. Não ha coisa mais difficil do que a escolha de um bom marido, a não ser a de uma boa mulher. /. J. Rousseau. Uma mulher deve justificar diante do publi- co a escolha que fez o marido. J. J. Rousseau. acto mais importante da vida é a escolha de uma mulher. Droz. Devemos escolher para esposa a mulher que escolheríamos para amigo se fosse homem. Joubert. Para que um homem ame uma mulher, bas- ta que ella lhe agrade ; para que uma mulher ame a um homem, é preciso que a sua escolha agrade aos outros. Romainville. ESCRAVIDÃO A única escravidão soffrivei ê a do coração. Ricard. Uma mulher casada é uma escrava sentada num throno. Balzac. Ha muitas mulheres que, a troco de serem tratadas como rainhas nas primeiras semanas do casamento, são escravas o resto da vida. Dupuy. Entre os homens não devia haver outros es- cravos senão aquelles que o são das mulheres. S. Marechal. >ião ha escravidão mais pesada do que a do amor. iV. elle de VEspinasse. DICCIONARIO A mulher que escreve para o publico commet- te dois erros, augmentar o numero dos livros e diminuir o das mulheres. A. Karr. Para a mulher litterata, um marido é uma perpetua distracção. Dufresne. As mulheres que quizerem escrever obras, teriam empregado melhor o tempo em bordar. Um espelho é o único amigo a quem uma mulher não receia mostrar as suas imperfeições e os seus defeitos. A W HOBEM FEIO QUE GOSTAVA DE SE VER AO ESPELHO Deixa esse espelho, Névolo, deixa-o se não quizeres ter a sorte que teve Narciso. Esse man- cebo perfeito morreu por se ter amado de mais a si mesmo, e tu morrerás á força de te odiares. Namque sui quondam ut peruit Narcissus amore Ni caveas, ódio sic moriere tui. Quando estamos para ver a mulher que ama- mos, a espera de tanta felicidade torna insup- portavel todos os momentos que cVesse nos se- param. Stendal. Em amor, aquelles que se fazem esperar usam os desejos; quando chegam já os não en- contra m. Mad. de Rieux. O que não daríamos para estarmos á espera ainda, se possivel fosse, da primeira felicidade que provámos ! Rochpèdrc. Em amor, a espera do prazer é sempre pre- ferível ao prazer mesmo. A. Esquivos. ÁLBUM Uma grande paixão é uma esperança pro- longada. Feuchcres. único meio que ha de tornar o amor uma paixão deleitavel é amar uma mulher com gran- des desejos e constante adoração sem espe- rança. Reli f de la Bretonne. Não ha esperança sem temor, nem amor sem receio. Provérbio. Se quando vos perdi, minha esperança, A memoria perdera juntamente Do doce bem passado e mal presente, Pouco sentira a dôr de tal mudança. Camões. Que esperaes esperança? Desespero. Quem d'isso a causa foi? Uma mudança. Vós, vida, como estaes? Sem esperança. Que dizeis, coração? Que muito quero. Camões. Não me íalles d'esp'rança já perdida. Viver é esperar, a esp'rança é a vida; li a harpa iinmortal que (.mi loa 11'alma Aquella melodia eterna e pura, Que nem se cala ao pé da sepultura, Que invisível desfere a mão de Deus; Ilynmo sem fim, que erguido desde <> berç/i Vac remontar-se aos céos 1 E. A. Vidal Que fora a vida se n'ella não houvera la- grimas ? senhor estende o seu braço pesado de mal- dições sobre um povo criminoso: o pae que perdoara mil vezes, converte-sc em juiz inéxo- raval; mas, ainda' assim, a Piedade não deixa de orar junto aos degraus do seu throno. Porque sua irmã é a Esperança, e a espe- rança nunca morre nos céos. A. Herculano. Alva pomba de esperança Voga n'arca mysteriosa; Que no dia da bonança Quando a enchente procellosa Á voz do Eterno parar, Penhor da nova alliança, Tu a nós has de voltar. Garrett. 98 DICCIONARIO A nossa esperança é a virtude thcologal, é i esperança no céo. ê a confiança na miseri- Deus. A nossa esperança ó infallivel porque tem as promessas e os merecimentos - Chriflto a abonal-a. A nossa esperan- ça que não faz bater o coração do in- i redulo, porque a fé, no que se espera, é a es- LSpiração de esperança, é a sua irmã, la pela mesma vontade omnipotente, e no mesmo instante da sua apparieão; è, final- mente, o seu fundamento, como diz S. Paulo. Castello Branrn. O espirito da mór parte das mulheres serve- Ihcs mais para fortificar a sua loucura que a sua razão. La Rochefoucaidd. Uma mulher raras vezes se torna espirituosa que não seja á custa da sua virtude. Mad. de Lambert. espirito não pôde por muito tempo repre- sentar o papel do coração. La Rochefoucauld. homem mais estúpido, quando ama, con- vence melhor que o intelligente que não tem amor. La Rochefoucauld. É preciso mais espirito para bem amar do que para conduzir um exercito. Ninon de Lenclos. Amar é uma necessidade do coração; namo- rar é uma oceupação do espirito. Champ/ort. espirito serve ás mulheres para occultar as fraquezas do coração. La Beaumelle. Quem tem uma mulher bonita só tem uma bonita mulher; quem possue uma mulher espi- rituosa, possuc umas poucas de mulheres amá- veis n'uma só pessoa. La Beaumelle. Ha poucas mulheres espirituosas que não te- nham algum motivo oceulto para preferir um e&tupido a um homem de espirito. Labouisse. Coisa nenhuma faz ter mais espirito de que o amor, mesmo áquelles que naturalmente não tcem algum. ÁLBUM Do espirito da mulher para o do homem vai a mesma differença que da cór de rosa para o vermelho. As mulheres seriam mais felizes se cuidas- sem tanto no seu espirito como no seu rosto. Não ha coisa mais rara em França de que uma mulher completamente estúpida. Mad. de Girardin. Eis a proporção que se pôde respeito dos homens e das mulheres espirituo- sos. Em cem homens, encontrareis dois espiri- tuosos ; em cem mulheres encontrareis uma es- túpida. Mad. de Girardin. Geralmente, e bem o sabem as mulheres, um homem que falia de amor com espirito é pouco amoroso. G. Sand. A mulher mais estúpida, se não ama, tem | mais espirito que o homem que a ama. Os esposos quando não possam viver felizes, devem ao menos tratar de viverem socegados. Quintiliano. E impossível dois esposos viverem bem quan do nenhum d'elles queira ceder ao outro. Mad. de Moíteville. Quantos esposos viviam em paz se podessem esquecer-se que pertencem um ao outro. ESQUECIMENTO O amor morre pelo desgosto, e o esqueci- mento é que lhe faz o enterro. La Bnnjcrc. Ha, em amar sem ser amado um encanto profundo e melancólico; e não ha coisa mais generosa que lembrarmo-nos de quem nos es- quece. T. Gautier. Bem ama quem nunca se esquece. Provérbio. Quem me dera poder ver-te ! Ai ! quem me dera dizer-te Que pude amar-te e perder-te, Mas olvidar-te... isso não ! Que no ardor d'outros amores, Atravéz mil dissabores, Senti vivas sempre as dores D'uma remota paixão. C. Castello Branco. Os homens, antes de conhecerem o seu cora- ção, são governados pelos sentidos ; mas qua- si todas as mulheres necessitam amar, e pou- cas vezes seriam seduzidas pelos prazeres, se não fossem arrastadas pelo exemplo. Duelos. exemplo pôde mais em nós que as pala- vras. Magis movent exempla quam verba. exemplo é o melhor dos sermões. Sermo vivas et efpca exemplum operis est. amor quanto mais ohlem, mais deseja. Não se lhe pôde dar a mais insignificante coi- sa, que não seja preciso dar-lhe logo outra, ( quasi sempre os amantes tiram mais que o qui se lhe dá. Fontenelle. A exigência como o appetite ; cresce á me- dida que a vão satisfazendo. Frederico Thomas. EXPERIÊNCIA No amor como nas outras coisas, o amor é um medico que não apparece senão depois da doença. Mad. de la Tour. Se a mocidade não tem bastante experiên- cia, a velhice tem-na de mais. Rochpèdre. Aquelle que teve uma grande experiência do amor, pouco caso faz da amizade. La Bruyère. DICC10NARI0 amor está acostumado a tornar mudos os que faliam de mais. J/.' ,|IC de Scuãeri. As palavras são a chave do coração. As mulheres moças que não querem parecer levianas, e os homens de edade avançada que não querem parecer ridículos nunca devem fal- lar em amor como de coisa em que tomem | As mulheres sao feitas de lingua como as ra- pozas de raho. Provérbio. Os amantes são falladores; nunca pensam ter fallado hastante no interesse do seu amor. Plauto. A lingua das mulheres é a sua espada. Provérbio. Em quanto amamos uma mulher, fallamos- Ihe n'ella mesma, quando já a não amamos, fallamos-lhe em nós. Beauchène. Gostamos de f aliar n'aquillo que amamos, ainda muito tempo depois de não amarmos. parte. La Rochefoitcauld. A serpente depois de ter seduzido a mulher emprestou-lhe a lingua. Rétif de la Bretonne. Nenhuma mulher falia em mulheres sem pen- ser em si, nenhuma falia de si sem pensar nas outras. Suar d. A maneira mais nova e mais original de fal- lar nas mulheres, é dizer bem d'ellas. Poincelot. No amor, os homens estão acostumados aos grandes discursos, e as mulheres ás meias pa- lavras. É porque uns querem convencer, e as outras recusar. Saint Prosper. ÁLBUM FALSIDADE Uma primeira aventura amorosa inspira a um rapaz vaidade, e torna logo a falsidade neces- sária ás mulheres. Obrigaram um sexo a corar d'aquillo que faz a gloria do outro. Duelos. As mulheres são falsas nas terras em que os homens são tyrannos, sempre a violência pro- duz o ardil Berna/rdin de Saint Pierrc. A falsidade torna-se tão necessária ás mulhe- res como o espartilho. As mulheres prendem-se aos homens pelas provas d'amor que ellas lhes dão, e por essas mesmas provas curam-se d'elle os homens. La Bruyère. Uma mulher honesta nunca esquece os favo- res que concedeu; uma mulher namoradeira es- quece-os logo. Rochcbruw. Nos favores do amor como nos da fortuna, nunca se passa da imaginação para a realida- de sem perda. Fontenelle. Longos tempos ha que vi Uma formosa pastora, Formosa só para si, Fez-se senhora de mi, Sem me querer ser senhora : A qual tinha outros amores, Segundo depois senti. A outro dava favores, E a mim todas as dores, As dores todas a mi. Bernardim Ribeiro. A uma mulher feia só este conselho [iode- mos dar : faze com que a Lelleza da tua alma nos oceulte a feialdade do teu corpo. Thales. Não ha mulher, por muito feia queseja,que não julgue ter alguma belleza. As mulheres feias são as que se adornam mais; não podendo ser bellas, querem ao menos ser ricas. Apelles. A feialdade do marido torna o amante mais perfeito. Romainville. A injustiça da feialdade é apagar e occultar o merecimento das mulheres. Mad. de Lambert. lade e a beliew dependem do capri- :vão dos homens. Nicolc. I ma mulher que não é bonita é mais feia que um homem que não é bonito. De todas as feialdades a mais horrenda é a lo vicio. Rica rd. (Juaudo uma feia é amada, é o loucamente, u seja por uma fraqueza inexplicável do aman- te, ou por causa de alguns encantos mais re- cônditos c invisíveis que os da belleza. La Bruyère. Já que nunca se pede coisa alguma ás feias, não podemos ajuizar a sua força pela sua re- . Teem ellas mais trabalho para se de- fenderem dos desdéns que das perseguições, e a resignação é a virtude que ellas possuem melhor. P. du Bote. D1CCIONARIO Uma mulher feia pôde ser má, mas nunca estúpida; c ao contrario, a maioria d'ellas teem muito espirito. Apezar d'isso, nenhuma deixa- ria de trocar todo o seu espirito, quer dizer uma superioridade que tem duração, contra al- guns annos de belleza. Stahl. Uma mulher feia e imperiosa que queira ser amada, parece um mendigo que mandasse que lhes dessem esmola. Champfort. Depois da virtude, a feialdade é a melhor salva-guarda de uma menina. Se a belleza fosse o único merecimento das feias, todas ellas se deveriam enforcar. A feialdade é um padecimento que a mulher conserva toda a vida. Stahl. príncipe de Conti era muitissimo feio. Tendo de partir para uma Tiagem, disse á mu- lher : —Sobretudo, minha senhora, tome cuidado em não me enganar. — Pôde estar socegado, respondeu ella; nunca desejo fazel-o senão quando o vejo. Ricard. Uma mulher bonita quer ser amada; uma feia faz o que pôde para sel-o. Stendhal. Quem o feio ama, formoso lhe parece. Provérbio. Da feia e da formosa, a mais proveitosa. Provérbio. Nem tão formosa que mate, nem tão feia que- espante. Provérbio. Bem toucada não ha mulher feia. Provérbio. ÁLBUM Não ha verdadeiro amor senão o que trata da felicidade de quem se ama. Ileloise. Queremos causar toda a felicidade ou, não podendo ser, toda a infelicidade de quem ama- mos. La Bruyère. Um grande obstáculo para a felicidade, é es- perarmos uma felicidade grande de mais. Para conhecermos a felicidade, devemos sa- ber amar. Godwin. A mulher deve curar da felicidade de um ho- mem só. Bernardin de Saint Pierre. Se o amor poucas vezes dá a felicidade, faz- nos pelo menos pensar constantemente n'ella. | A infelicidade da felicidade 6 a saciedade, a felicidade da infelicidade é a esperança. P. Lcroux. O amor cança-se de ser feliz; e sempre é a felicidade dos amantes que mata a sua felici- dade. Rochpèdre. Todo o oiro da terra não vale a felicidade de ser amado. Caldèron. Sou feliz! ohl ser amado É ter um céo cá na terra, É ver as brenhas da serra Converterem-se em jardim; É sorrir, é ser ditosa, É crer, ousar; ter fé pura, É tragar quanto é ventura N'um beijo ardente, sem fim! Não se emprega uma fita n'este mundo que não seja em nome do amor. Bcruà. A primeira coisa de que se lembram as mu- lheres, mesmo quando estão na desgraça, são fitas e atavios. Goethe. Fallo como experimentado, Fallo com peito sincero; Pôde uma vara de fita Mais que a Iliada de Homero. DICCIONARIO (i adorno mais simples c mais conveniente para a belleza são as flores, que ficam muito melhor ifuma linda mulher que os diamantes e as pérolas. Bernardin de Saint Pierre. A mulber é uma flor que só á sombra exhala o seu aroma. Lamennais. As mulheres foram creadas mais para serem amadas do que para amarem; assim como as Bores não sentem o seu aroma e despedem-no • itisfação alheia. A. Esquivos. Fugis de minhas cans? Fuíiis-me por viçosas? Volvei, volvei, louçans! Nas c'róas mais formosas Se enlaçam como irmans A flor do lyrio, as rosas. A. F. de Castilho. (Juiz deixar uni ramalhete, Quiz no «adeus» espargir flores, Colhi os cravos, as rosas, Os roxos, lindos amores, Colhi cheirosa alfazema Alecrim dos namorados, E juntei-lhe da videira Dois «abraços» O jardim era mui pobre Que o «melhor» não tinha, não! Em vão buscando a «saudade» Só o achei no coração ! Mas ainda assim este ramo Já não vai de todo mudo; Dizem-te muito estas flores; E este «adeus...» diz mais que tudo. Longe, funéreas arvores! O dia é só de flores. Voai, meus leves cânticos do sol nos resplendores. A. F. de Castilho. Perfeita formosura em tenra edade, Qual flor, que anticipada foi colhida Murchada está da mão da dura sorte. Oh flor, como eras formosa No botão, Como a fronte aos céos erguias Sem olhares para o chão. Ai! triste flor! Agora colhida Foi-se-te o verdor! E a côr, E a vida, E o amor ! Qual foi a profana mão Que te colheu? E como o teu jardineiro Adormeceu? Elle que era tão cioso Da tua formosura, Da tua virgindade Como se descuidou? Ai ! qual foi a bocca impura Que te bafejou Depois de colhida, E perdida Te deixou? ÁLBUM Oh ! rainha dos jardins, Mimo cubicado Por todos, E por ninguém tocado ! Flor de tentação Tão defendida, Como andas hoje De mão em mão Rosa colhida? Vês agora como o orgulho Te enganava? Não cuidavas, Que a belleza se acabava. Ai ! triste flor ! Agora colhida Foi-se-tc o verdor! E a côr, E a vida, E o amor! Não conhecemos a força do amor senão quan- do o sentimos. Prévost. A paixão do amor é como o vapor, quanto mais comprimido mais força tem. Podemos ter fortuna sem felicidade, como mulheres sem amor. Rivaròi. Não ba coisa mais triste que seja amar sem ter grandes riquezas que nos permittissem de tornar feliz o objecto do nosso amo:'. La Bruyère. As mulheres não teem gosto. Nenhum ho- mem, por muito feio ou estúpido que seja, se verá obrigado a ficar sem esposa se tiver avul- tados rendimentos. Stàhl. Não te rias, oh fortuna! Teu riso m'é suspeitoso, Contra a desgraça não clamo, Não quero ser venturoso. Vai-te, oh fortuna Não me atormentes, Eu não te creio, Em tudo mentes. D. J. G. de Magalhães. ào homem ousado a fortuna lhe dá a mão. Provérbio. Ah! Fortuna cruel, ah! duros Fados! Quão asinha em meu danmo vos mudastes! Com os vossos cuidados me cansastes, E agora descansai co'os meus cuidados. Fizestes-me provar gostos passados, E vossa condição uelles provastes: Singelos em uma hora m'os levastes Deixando em seu logar males dohrados. Quanto melhor me fora que não vira Os doces bens de Amor? Ah bens suaves: Quem me deixa sem vós, porque me deixa? De queixar-te, alma minha, te retira: Alma, de alto caida em penas graves, Pois tanto amaste em vão, em vão te queixa. FRANQUEZA A franqueza nas mulheres nunca pôde ser senão uma contradicção. Lemcslc. A mulher leviana leva a palma da franqueza áquella que afecta virtude. Os homens acreditam geralmente tão pouco na franqueza das mulheres, que não ganham el- las coisa alguma em possuir essa virtude. Dupiiy. FRAQUEZA A força do nosso amor está na nossa fra- queza. Ninon de Lenclos. As mulheres são fracas porque só são ajuda- das pelo coração. Se as fraquezas do amor se podem perdoar, deve ser sobretudo ás mulheres, que por elle reinam. Vauvenargues Os homens são injustos quando querem cas- tigar as mulheres por as fraquezas que elles tratam sempre de lhes inspirar. Mad. de Lambert. synonymo da palavra mulher é a palavra fraqueza. Shakspcare* As mulheres não devem ter outras fraquezas senão as que a natureza torna desculpáveis. Young. 109 homem sábio deve temer a fraqueza da mulher. Dwpuy. As mulheres gavam-se de não serem fracas diante dos homens que lhe desagradam, assim como os fanfarrões se gavam da sua valentia diante dos covardes. Champfort. As mulheres, como os Scythos, vencem fu- gindo. Montaigne. Na guerra d'amor, a fuga é uma victoria. Pe ir ar ca. As mulheres não foram feitas para correr; quando fogem, ú para serem apanhados. J. J. Rousseau. O amor já está longe quando pensamos em segural-o. Bruys. As mulheres são como nossa sombra; corre- mos atraz d'ella, foge-nos; fugimos, persegue- Leonardo, soldado bem disposto, Manhoso, cavalleiro, enamorado, A quem amor não dera um só desgosto, Mas sempre fora d'elle maltratado, E tinha já por firme presupposto Ser com amores mal affortunado; Porém não que perdesse a esperança De inda seu fado ter mudança; Quiz aqui sua ventura que corria Após Ephyre, exemplo de belleza, Que mais caro que as outras dar queria O que deu para dar-se a natureza. Já cansado, correndo lhe dizia: O formosura, indigna de aspereza, Pois d'esta vida te concedo a palma, Espera um corpo de quem levas a alma. Todas de correr cançam, nympha pura Rendendo-se á vontade do inimigo ; Tu só de mim só foges na espessura; Quem te disse que eu era o que te sigo? Se t'o tem dito já aquella ventura Que em toda a parte sempre anda commigo, Oh! nãon'a creas, porque eu quando a cria. Mil vezes cada hora me mentia. Não canses; que me cansas: o se queres Fugir-me, porque não posso locar-te, Minha ventura é tal, que inda que esperes, Ella fará que não possa alcançar-te. Espera ; quero ver. se tu qnizeres Que subtil modo busca de escapar-te : E notarás no fim d'este successo. »a e la man qual muro è Iflesso. Oh ! não me fujas! Assi nunca o breve Tempo fuja da tua formosura! Que só com refrear o passo leve Vencerás da fortuna a força dura. Que imperador, que exercito se atreve A quebrantar a fúria da ventura Que cm quanto desejei me vai seguindo? O que tu só farás, não me fugindo. Pões-te da parte da desdita rainha ? Fraqueza é dar ajuda ao mais potente Levas-me um coração que livre tinha? Solta-me, e correrás mais levemente. Não te carrega essa alma tão mesquinha. Que n'esses fios de oiro reluzente A tada levas ? ou depois de presa Lhe mudaste aventura e menos pesa? DICCIONARIO Nesta esperança só te vou seguindo Que ou tu não soffrerás o peso d'ella, Ou na virtude do teu gesto lindo, Se lhe mudará a triste e dura estrella. E se se lhe mudar não vás fugindo, Que amor te ferirá, gentil donzella ; E tu me esperarás se amor te fere, E se me esperas, não ha mais que espere. Camões. Porque folgas, infante, ao pó das ondas, Quando sobem, fugindo, e quando descem Perseguindo-as, louquinbo?! Já lamberam teus pés, já, despeitosas, Te cuspiram á face a leve escuma, E sorris-lhe, applaudindo? Oh ! não brinques assim... ai... foge... foge... É já tarde... involveram-te... banharam-te Foge ás vagas do mundo. João de Lemos. Minha Alsgá, porque estremeces ? Porque me foges assim? Não te parlas, não me fujas, Que a vida me foge a mim ! Gonçalves Dias. Camponeza feiticeira, Tão ligeira Náo fujas do meu amor; Que me levas a alma presa Na belleza D"esse rosto encantador. Sonho, ideal, mulher, sorriso eleito, Oh 1 não fujas de mim ! se também soffres Ksromle-te na urna de meu peito. Th. Braga. ÁLBUM 111 Não receies facilmente < pela paixão. mostrar a vossa fúria; o amor os impropérios As fúrias de uma mulher mostram sempre muito amor. Propercio. 11? Uma mulher dada ao galanteio é um aunei que cada uma pôde pôr no dedo. Sophie Arnoud. Ê uma nota que tem tanto mais valor quan- tas firmas se lhe lê. A. Houssayc. que menos se encontra no galanteio é o amor. La Rorhcfoucanld. É o ponto mais importante da moral das mu- lheres, o não acreditar no que se lhes diz. Mad. de Sartory. Podem-se encontrar mulheres que nunca ti- vessem amantes ; é raríssimo encontrar uma que ;'.vi;?se um só. La Rochcfoucauld. DICCIONARIO | Os sentidos, a curiosidade, a preguiça e a vaidade são as quatro columnas que sustentam o templo do galanteio. J. D. Say. Aos sessenta annos, Fontenelle padecia dos olhos, e ficava muito incommodado com a cla- ridade. Uma menina que o sabia disse-lhe uma noite: — Vou mandar apagar algumas d'estas luzes, porque sei que gostais de estar ás escuras. — É verdade, mas não aonde estais, —res- pondeu o amável ancião. Ricard. Mulher muito louçã dar-se quer a vida vã. Provérbio. Abstcr-se para gozar é a philo bio, é o epicurismo da razão. J. J. Rousseau. Em gozo, a amizade vive dos rendimentos, e o amor estraga o seu capital. homem que ama, soffre c não goza; o ho- mem que não ama goza e não soffre. ÁLBUM GRATIDÃO A mulher 6 da família dos milhafres; fazcr- lhe hem é trabalho perdido. Petrone. Pôde a gratidão dar nascimento á amizade, mas nunca ao amor. Mad. de Sartory. Deve-se temer a gratidão de um amante que falia muito n'e)la, a gratidão calada vale mui- to mais. Mad. de Sartory. A gratidão é uma azinhaga que depressa nos conduz ao amor. Th. Gautier. Clama, não cesses, Gratidão, não cesses; Sê minha musa, Gratidão ; virtude Que desconhecem, desacatam, mancham Sórdidas almas. Quando uma mulher graceja sendo accom- mettida, é porque deseja ser vencida. Ricard. As mulheres que gracejam com o amor são como as creanças que brincam com facas; qua- si sempre se ferem. Saint Prosper. ilí H O habito torna fastidiosos os gozos de todos os dias. Propercio. amor entra no coração pelo costume, e por elle sae. Ovídio. costume é uma das prisões do coração. Dediscit animiis sero quod didicit diú. habito de amar é fácil de contrahir e dif- ficil de perder. Mad. d'Arconville. A ultima setta do amor e a mais segura, é o habito. Bntys. O matrimonio deve combater sem trégua nom dcscanço esse monstro que o devora. A posse e o habito tiram defeitos á fealdade e encantos á belleza. Laténa. habito é, mais ainda que a inconstância, um obstáculo á felicidade. Parecc-me que se podia escrever em cinco pa- lavras a historia da mór parte das mulheres : São enganadas primeiro ; enganam depois. A historia do amor é a historia do género humano. Quando um homem e uma mulher se casam, acaba-se-lhes o romance, e começa a historia. amor é o romance do coração ; o prazer é a sua historia. ÁLBUM 113 A historia das mulheres, se se escrevesse, seria a historia do mundo. Não houve revolu- ção nos impérios, nem nas famílias, em que ellas não apparecessem, ou como coisa, como objecto ou como meio. A ellas é que disse o Destino : Imperium sine fide dedi. Condorcet. que um homem meditou durante um an- no, uma mulher o derriba em um dia. Os homens teem culpa das mulheres não se amarem umas ás outras. La Bruyère. Não está nas mãos de um homem que vive na sociedade o deixar ou não de ser namora- dor. Vauvenargues. Os homens dependem das mulheres pelos de- sejos, as mulheres dependem dos homens pelos desejos e pelas necessidades ; ser-nos-hia mais fácil, vivermos sem ellas do que ellas sem nós. J. J. Rousseau. Os homens são o que as mulheres querem. La Fontaine. 1 homem mais sábio do mundo foi feliz em não encontrar a mulher linda ou feia, espiri- tuosa ou estúpida, que o teria mettido no hos- pital dos doidos. Fontenclle. Nós é que fazemos as mulheres o que são, e por isso é que valem pouco. Mirabeau. Acontece muitas vezes que o homem deixa a mulher que tem o defeito de ser só d'elle, para viver com outra que talvez não tenha ou- tro merecimento que o de pertencer a todos. Rochebrune. Ha ainda mais homens que são mulheres pela fraqueza de coração do que mulheres que se- jam homens pela força do espirito. Jaucourt. Em amor, não ha homem franco que não ti- vesse sido mentiroso, homem sábio que não fosse louco e homem esperto que não fosse lo- grado. Faulcon 110 DICCIONARIO i Is homens dizem das mulheres o que lhes I O amor do homem é só amor, o amor da | vem a cabeça, e as mulheres fazem dos homens quanto querem. Ségur. Em amor, um homem muito lindo pôde não ser agradável, mas é sempre compromettedor. .Mad. de Girardin. Os homens preferem as mulheres que inspi- ram compaixão ás que inspiram dó. Mad. de Girardin. lia duas qualidades de homens que agradam muito ás mulheres, os que as adoram e aquel- les que as detestam. L. Desnoyers. O homem é fogo e a mulher estopa, vem o diabo, assopra. Provérbio. Myslerioso enigma Inexplicável Ser, capaz de tudo, Fonte de vícios, de virtudes fonte, Que edificas, que assolas, e que sempre De ruina em ruina avante marchas. Como um génio de morte Dize, o que és tu, oh ! homem ? D. J. G. de .Magalhães. mulher é amor c amizade. A. F. de Castilho. Á mulher e á vinha, o homem lhe dá ale- ria. Provérbio. A homem ruivo e mulher barbuda de longe s saúda. Provérbio. homem na praça, e a mulher em casa. Provérbio. A maior parte das mulheres honestas, são the- soiros escondidos que estão seguros, porque nin- guém os procura. La Rochefoucauld. A mais honesta mulher não resiste á tenta- ção de parecer seduetora; e sem querer dar es- peranças, não desgosta de deixar saudades. Mad. de Girardin. A honestidade das mulheres é muitas vezes unicamente o amor do seu descanço e da sua La Rochefoucauld. A mulher a mais honesta sempre tem um segundo amante no caminho do coração. A. Houssaye. Entre todas as mulheres, procuro sobretudo aquellas que vivem fora do casamento e do ce- libato. São ás vezes as mais t Champfort. ÁLBUM 117 As mulheres sacrificam mais vezes a sua hon- ra á vaidade e ao amor próprio que lhes vem do amante, que ao amante mesmo. Mad. cFArconville. A honra das mulheres está pouco segura quan- do só a guardam chaves e espiões ; não ha mu- lher honrada senão a que o quer ser. Todo o homem persuadido que a honra de- pende do comportamento da sua mulher, é um louco que se atormenta e a faz desesperar. Hamilton. A honra das mulheres está mal guardada, quando a virtude e a religião não estão de sen- tinella. Lêvis. DICCIONARIO IDADE O amor não tem idade, nasce constantemente. Pascal. Uma mulher ió tem a idade que parece. Rochebrune. Podemos ser amados em todas as idades, em- pregando os meios próprios da nossa idade. Na juventude, é pelos sentidos que chegamos ao coração ; na maioridade é pelo coração que che- gamos aos Rêtif de la Bretonne. A idade em que as mulheres ainda são mu- lheres não se pôde marcar; dura em quanto são amáveis e amadas. A. Dupuy. Cada idade tem suas molas especiaes que a fazem mover; mas o homem é sempre o mes- mo. Aos dez annos é dominado pelos brinque- dos; aos vinte por uma mulher; aos trinta pe- los prazeres ; aos quarenta pela ambição ; aos cincoenta pela avareza. Haverá n'este espaço de tempo um pequeno logar reservado á sobedoria? A. M. de Castilho. Para saber-se a idade de uma mulher, per- gunta-se-lhe primeiro, depois á sua mais inti- ma amiga, e toma-se o termo médio.— Ella diz que tem trinta annos; a sua amiga, que tem quarenta, termo médio trinta e cinco. A. Houssaye. Quatro caixinhas resumem, Segundo diz a exp'riencia, Das mulheres quasi sempre, As estações da existência. A primeira, em tenros annos, Guarda os doces rebuçados ; A segunda, ainda mais doces, As cartas dos namorados. Guarda depois a terceira, Comprada côr, que pintando Vai na face, as falsas rosas Quando as outras vão murchando. E por fim, quebrado o espelho, Chegado o tempo da lei Toda a ternura se encerra Na caixinha do «Agnus Dei. O amor é igual nas suas loucuras. Tanto brinca com o proletário como com omonarcha. Mad. de Puysieux. verdadeiro amor só conhece iguaes. Lope de Vega. amor nasceu republicano. S. Marechal. Um dos effeitos mais communs do amor é tornar as classes iguaes. Prévost. ÁLBUM ILLUSÃO H9 Os amantes nutrem-se de illusões. Qui amant ipsi sibi somnia fingunl. Virgílio. Em amor, curamo-nos d'uma illusão por ou- tra. Bacon. Uma das mais seductoras illusões do amor, é crer que fazemos a felicidade de quem ama- mos. Bernardin de Saint-Pierre. Em quanto o coração conserva desejos, o espirito nutre illusões. Chateaubriand. Tu não sabes como é triste Ter fé no amor, crêl-o eterno, E lá n'um dia do inferno Vêl-o desfeito cair; Perder a luz do futuro, Correr sem tino e sem norte, E ao cabo, fitar a morte Que nos espera a sorrir I E. A. Vidal IMAGINAÇÃO As mulheres teem tanta imaginação e tanta sensibilidade que não podem ter lógica. Mad de Deffand. amor gasta-se mais depressa na nossa imaginação que na das mulheres. Shakspeare. No amor, a imaginação passa sempre além da realidade. Ricard. Uma mulher sempre tem virtudes aos olbos da imaginação. Bacon. fogo das paixões ateia-se na imaginação. J. J. Rousseau. lâO DICCIONARIO As primeiras impressões nascem das belle- zas moraes; as produzidas pelas bellezas phy- sieas apagam-se depressa. Mad. de Deffand. A maior parte das mulheres julgam um ho- mem pela impressão que elle produz sobre el- las, e não concedem talento nem merecimento áquelle por quem nada sentem. La Bntyère. As impressões do amor, são como uma fi- gura gravada no gelo, basta um raio de sol para desapparecer. Shakspeare. A mulher vive só de impressões. Não sente verdadeiramente que existe senão quando ama. tempo, que passou sem amar, não é para ella senão um sonho confuso. L. de Macedo Pela agitação que causa, a inconstância é o supplemcnlo da felicidade. Mad. de Lambert. Um homem que se torna inconstante sem nós o merecermos, não merece deixar-nos sauda- des. Mad. de Rieux. Quando uma mulher já não é amada, só tem uma coisa a fazer, 6 consolar-se por alguma mudança de que o seu amante lhe dá o exem- plo. Mad. Dunoyer. A inconstância e o amor são incompatíveis, o amante que muda de sentimentos, não muda, começa ou acaba d'amar. J. J. Rousseau. Condemnamos a inconstância das mulheres quando somos victimas d'ella; achamol-a en- cantadora quando somos a causa d'ella. L. Desnoyers. | Uma mulher que já não 6 formosa deixa de ser inconstante. Mudão-se os tempos, mudão-sc as vontades Muda-se o ser, muda-se a confiança Todo o mundo é composto de mudança Tomando sempre novas qualidades. . Camões. É doce, Marilia, Ter novos amores ; Obter de continuo Protestos, penhores. As ternas primícias De affecto recente São doces, suaves Ao peito que as sente. A ser inconstante O gosto me guia ; Amores pretendo Deixar cada dia. Mas tu não desprezes A fé que te dei, Que um dia, girando A ti voltarei. INDIFFERENÇA O homem que vive na indiferença, ainda não encontrou a mulher que ha de amar. La Bruyère. Nem sabbado sem sol, nem moça sem amor. Provérbio. Querendo amor sustentar-se, Fez uma vontade esquiva, D'uma estatua namorar-se : Depois, por manifestar-se, Converteu-a em mulher viva. De quem m'irei eu queixando, Ou quem direi que m'engana Se vou seguindo e buscando Uma imagem que d'humana Em pedra se vai tornando. ÁLBUM INDISCRIÇÃO As mulheres que amam, perdoam com mais facilidade as grandes indiscrições que as peque- la Rochefoucauld. As mulheres são indiscretas nas coisas que as não interessam, mas tornam-se impenetrá- veis para o que as interessa particularmente, Por muito falladora que seja uma mulher, o amor ensina-a a calar-se. Rochebrune. 121 Ninguém é menos indulgente para unia mulher que tem amantes, que uma que já os não pôde DICCIONAMO A infelicidade dos que amaram é não encon- trar coisa alguma que possa supprir o amor. Conhecemos melhor o amor pelas infelicida- produz, do que pelas desgraças que causa. Mad. de Chátelet. É uma infelicidade para a mulher, não ser amada; mas, o não ser já, é maior insulto. Montesquieu. É uma grande infelicidade não ser amado quando se ama; mas é muito maior ser abor- recido quando já se não ama. A maior infelicidade que podemos desejar ao nosso inimigo é elle amar sem ser amado. As mulheres são demónios que nos fazem entrar no inferno pela porta do céo. Saim Cyprit A maior parte dos homens são infiéis. Não ha um em que as mulheres se possam fiar ; não ha um que as não engane ou não esteja prom- pto para isso. Catullo. Perdoam-se as infidelidades, mas não se es- quecem. M. elle de Lafayette. Esquecem-se as infidelidades, mas não se per- doam. Mad. de Sêvigné. Os homens que mais faliam das infidelidades das mulheres, quasi sempre teem em casa a prova do que adiantem. A. Dupuy. A infidelidade na mulher e a descrença no padre são o ultimo termo da malvadez humana. Diderot. Tanto menos perdoamos uma infidelidade quanto nos é mais conhecida a pessoa em fa- vor de quem ella foi feita. Lingrée. ÁLBUM As mulheres sentem uma infidelidade em ra- zão do prazer que ella causa ás suas rivaes. A infidelidade consiste na violação dos jura- mentos, não na extincção dos sentimentos. Rochpèdre. As infidelidades em amor causam-nos gran- de dôr, porque são insultos ao nosso amor pró- prio. Guyard. Quem pena por causa leve, Deve ser sempre penado; Quem co'a vida não se atreve, Deve ser d'ella privado Se a morte faz o que deve. Mulher que a outrem se entrega Querer-lhe bem em extremo Vem de andar a razão cega, Ou do espirito ser pequeno; E uma d'estas não se nega. Bernardim Ribeiro. Ama*se a traição, aborrece-se o traidor. Provérbio. Amar um ingrato, é não amar pessoa alguma. Nihil amas c'um ingralum amas. Em amor, a ingratidão dos homens é quasi sempre o premio dos nossos favores. Ninon de Lenclos. Basta muitas vezes que nos amem mais do que nós amamos, para nos tornarmos ingratos. Coração, de que gemes, de que choras? Que parece tens ódio á própria vida ! Se perdeste teu bem, foi mão perdida, Com te pôr a morrer nada melhoras. Eu bem sei que a belleza a quem adoras Foi-te ingrata e cruel; foi fementida; Mas que esperavas tu, se é lei sabida O mudar-se a mulher todas as horas. Socega, coração, deixa a tristeza ; Quem te mandou querer com fé tão pura, Quem te mandou mostrar tanta firmeza ! Erraste, tem paciência, em fim procura Não fazer por mulher jamais firmeza ; Acharás mais amor. mais ventura. DICCIONARIO A innocencia está sempre rodeada do seu pró- prio brilho. Massillon. \as grandes cidades, a innocencia é o ultimo manjar do vicio. Rivarol. Uma menina pôde ser recatada e ter boa educação ; comtudo a innocencia e a candura não são garantias contra o amor. Quando ávido contemplo a formosura Tão breve é o meu prazer que foge co'ella; Mas bondade e lisura, Mas a innocencia, oh! essa é sempre bella. Garrett. Xão empregues nenhum rodeio ; que a inno- cencia e a justiça presidam aos teus pensamen- tos e dictem as tuas palavras. ÁLBUM 125 JOGO Não se pôde ter duas paixões dominantes ao mesmo tempo. O ambicioso não ama, quem bem ama ama somente. jogador quer perder ou ganhar ; quando se ama o jogo, não se ama a amante. Mad. de Rieux. Uma mulher que tem casa de jogo vê-se obri- gada a mais que um modo de vida. Em mulher jogadora a virtude é um efeito do acaso. Devemos admirar-nos de encontrar mulheres que teem uma paixão mais forte que a do amor dos homens ; é a ambição e o jogo. Taes mu- lheres tornam os homens virtuosos porque el- las só do seu sexo teem o traje. La Bruyère. Se julgarmos o amor pelos effeitos, parecer- nos-ha mais com o ódio que com a amizade. La Rochefoacauld. Os olhos e o 'coração são quasi sempre a fonte dos juizos das mulheres. A maioria das mulheres só julga os homens pela elegância dos trajes; aos olhos dos néscios a[pelle inculca a fructa. Ph. de Varenne. Julgamos uma mulher pela maneira por que ella traja, a extravagância da vestimenta faz- nos suppor a extravagância do proceder. A. Karr. Não devemos jurar amcr eterno; ninguém tem certeza de amar amanhã. Senancourt. Antes de jurar á mulher uma affeição exclu- siva, seria preciso ter visto todas as mulheres ou não ver senão uma. A. Dupuy. céo não tem castigo para os juramentos dos namorados. Ámantis jusjurandum panam non habet. Publio Syro. As mulheres não devem acreditar nos jura- mentos dos homens, porque nada lhe custa pro- metter e jurar. ...Nidla viro juranti foemina credat Nihil metuit jurare , nihil pr&mittere parei?. i-:o DICCIONARIO Os juramentos sãa a moeda falsa com que se | pagam os sacrifícios do amor. Ninou de Lcnclos. juramento de não amar é quasi tão razoá- vel como o de amar sempre. Mad. de Puisicitx. Aquelle que de. boa fe promette um amor demo, e aquelle que acredita em taes juramen- tos, são ambos enganados, um pelo coração, outro pela vaidade. Lados. Os juramentos do amor provam a sua incons- tância. Marmontel. Não ba juramentos que causem mais prejuí- zos que os juramentos de amor. Não devemos fazer juramentos, e portar-nos como se os tivéssemos feito. Rochpcdrc. A mulbcr que se fia de bomem jurar, o que ganha, é chorar. Provérbio. Ea tinha promettido á minha amada Constância até morrer; e esta promessa Foi na folha de um álamo gravada, Mas quebrou-se depressa : Ergueu-se um pé de vento, Adeus folha, e com ella o juramento. Bocage. Uma diz que me quer bem, Outra jura que me quer ; Mas em jura de mulher Quem crerá, se ellas não crem ? Não posso não crer a Helena, A Maria nem Joanna ; Mas não sei qual mais m'engana Uma faz-me juramentos Que só meu amor estima, A outra diz que se fina, Joanna que bebe os ventos. Se cuido que mente Helena, Também mentirá Joanna; Mas quem mente não m'engana. Camões. ÁLBUM 127 LAGRIMAS Lagrima de mulher é tempero de malícia. Publio Syro. As lagrimas são o forte das mulheres. Saint Evremont. As mulheres, para melhor enganar aquelles que a ellas se chegam, ensinam os próprios olhos a chorar mesmo quando ellas teem von- tade de rir. P. du Bosc. amor canta victoria quando só as lagrimas de uma donzella defendem a sua virtude. As lagrimas são ás ' do amor. ; o extremo sorriso Stendhal. Ha tão pouca differença enlre o amor c a dôr, que amhos se mostram por meio das la- grimas. Régnier Dètourbet A primeira lagrima d'amor que cac por nos- sa causa, parece-nos um diamante, a segunda uma pérola, a terceira uma... lagrima. A. Poincclot. Em amor, nada enxuga melhor uma lagrima que um beijo. Tu és pérola e brilhas suspensa Erma, pura no manto dos céos; Uma lagrima — a dôr se a condensa, Oh ! não cae, Porque vae Até Deus. Th. Braga. Olhae, como amor gera em um momento De lagrimas de honesta piedade Lagrimas de immorial contentamento. Os desgraçados na sua miséria conserram sempre olhos que saibam chorar. A dôr mais tremenda do espirito, quebran- tam-na e entorpecem-na as lagrimas. Sempiterno as creou quando nossa primei ra mãe nos converteu em réprobos: ellas ser- vem, porventura, ainda de algum refrigério lá nas trevas exteriores, onde é o ranger dos dentes. Meu Deus, meu Deus! Bemdito seja o teu no- me, porque nos deste o chorar. A. Herculano. N'esses teus olhos Enxuga o pranto, Celeste encanto Raiou, bem vês : E em tuas laces Que amor inflamnu Etlierea chamma Brilhe outra vez. E. A. Vidais Quem não viu nalguma hora Das muitas que tem a vida, Chorar a mulher que adora, Duma culpa arrependida ? DICCIONARIO Ou verdadeira, ou tingida. Quem resisto ;\o doce encanto De ver orvalhar o pranto Por uma faço querida? Seja ella criminosa, Ou justo seja o ciúme; Vendo-lhe a face chorosa, Quem solta mais um queixume ! NSo ama quem se não cala Com receios de perdel-a; Fallando o pranto por ella Xinguem se atreve a julgal-a. O!:! mulhor! que até podeste Seduzir a natureza! Não te bastava a belleza, Também lagrimas quizeste ! Se Deus soubesse o encanto Que o ver-te chorar inspira ; .Vão te tinha dado o pranto Com que adornas a mentira. Nas horas d'insondanel amargura, . mulher, banhada em pranto, Transluz d'entre o pavor das minhas trevas li suspenso me tem, horas que fogem. Nos céos daphantasia allucinada!... Na solidão da dôr, quando me acurvo Ao idolo da morte, e peço a campa, Sentada vejo al!i junto da loisa Imagem de mulher, banhada em pranto, Abrindo-ine em seus braços um refugio, Eu choro então por ella, e cm seus olhos Libando o pranto amargo, que lhe tiro Do coração que estala, eu sinto a anciã, A anciã de viver, viver por ella... C. Caslello Branco. LEMBRANÇA Sa o prazer amoroso não pode durar sempre, peio menos podemos satisfazer-nos com a lem- brança do passado. Brantóme. A lembrança é o aroma da alma. É a parte mais deleitavel do coração que se desprende para abraçar outro coração e seguil-o por toda As lembrançrs são como os eccos das paixões, e os sons que cilas redizem parecem por causa da dsstancia mais vagos e melancólicos, e que os torna mais seduetores ainda que a própria voz das paixões. Chaleaubriand. A lembrança de um bam que já não possuí- mos é um mal; e lembrar-nos da sua perda, é perdei. o novamente. Mad. de Sartory. ÁLBUM Lembranças, que lembrais o bem passado Para que sinta mais o mal presente, Deixae-me se quereis viver contente, Morrer Mo me deixeis em tal estado. Camões. leque é um traste indispensável para as mulheres que já não sabem corar. Bicar d. Em todos os tempos a leviandade foi o apa- nágio das mulheres. Formosis levitas semper arnica fuit. Propercio. que é mais leve que uma penna? o pó.— e mais leve que o pó ? o vento. — e mais leve que o vento ? a mulher — e mais que a mulher? nada. Quid penna levius? pulvis. Quid pulvere? ven- tas. Quid ventof mulier. Quid muliere? ni- hil. A leviandade das mulheres tem consequên- cias tanto peiores quanto fazem parecer reaes, culpas que não existem. Labouisse. Quem crê de ligeiro, agua recolhe no seio. Provérbio. DICCIONARIO LIBERDADE mar para já não ser livre. •■ erii si quis amare volet. Propcrcio. A liberdade é incompatível com o amor; um amante é sempre um escravo. Mad. Staai Delaumy. Pelo grau de liberdade de que gozam as mu- lheres, pode medir-se exactamente em cada paiz, em cada século, o grau de civilisação a que os homens teem attingido. Emile de Girardin. Os libertinos são como os hydropicos; quan- to mais bebem mais sede teem. Os libertinos não gozam os prazeres; são es- cravos d'elles. A maior das infelicidades é amar a própria infelicidade, e achar na libertinagem não só os prazeres como também o estado que nos agrada. Ubi turpia non solum delectant sed etiam pla- cent. Séneca. amor 6 um libertino que não gosta do ma- trimonio, porque laços demasiadamente aper- tados o prendem a elle. P. du Bosc. Toda a mulher tem o coração libertino. Pope. No bargante, a apparencia da virtude é mais- um vicio. Mad. d'Arconville. são horrendas aranhas que apa- nham ás vezes lindas borboletas. galanteio é a mentira do amor; a liberti- nagem é a corrupção d'elle. Bernardin de Saint Píerre. devasso gasta a vida, como o pródigo o oiro. Rochebrune. Não ha peior companhia para uma mulher que um marido devasso. Mad. de Puisieux. Os devassos, quando faliam mal das mulhe- res, fazem-lhes elogios. Rochebrune. ÁLBUM 131 LISONJA Quando alguém vos lisonjeia, deveis ser o vosso próprio juiz. Cum te aliquis laudat, judex tuus esse me- mento. Catão. merecimento dos que louvam é que faz o preço dos louvores. M. elle de 1'Espinasse. A mulher mais louvada é aquella em que se não falia. Mad. de Puisieux. Aquelle que vos lisonjeia é o vosso inimigo. Cardan. A lisonja é uma moeda falsa que só a nossa vaidade acceita. La Rochefoucauld. Os homens que mais adulam as mulheres são os que peior conceito fazem d'ellas. Meilhan, A lisonja é moeda falsa que empobrece quem a recebe. Mad. Woillez. As mulheres gostam tanto de lisonja, que a mais feia se pôde persuadir que é linda. Gwyard. que lisonjeia as mulheres parcce-lhes lindo. Beauchêne. A lisonja" perde mais mulheres que o amor; quando ella não consegue, a culpa não é d'ella mas sim do lisonjeiro. Lévis. tburibulo da lisonja desagrada ao prova- do merecimento. Castello Branco. As mulheres preferem os livros que as di- vertem aos que as ensinam; c quasi sempre vão de melhor vontade á escola da volúpia que á escola da sabedoria. P. du Bosc. Os homens fazem tão má opinião do espi- rito das mulheres que escrevem para ellas li- vros e methodos particulares, como se fazem para as creanças cartilhas que estejam ao seu alcance. Mad. de Rieux. As idéas as mais estimáveis são as que li- sonjeiam as nossas inclinações. Para Carlos xii o primeiro dos livros é a vida de Alexandre ; para uma mulher terna, é o poeta que pinta o amor. Helvétio. abuso dos livros mata a saúde e a modés- tia das mulheres. Lemontey. 132 Casar aos sessenta annos com uma menina de vinte e cinco, ó imitar aquellcs ignorantes que compram livros para serem lidos pelos seus amigos. Ricard. A loucura de um homem vale mais que a sa- bedoria de uma mulher. Salamão. A mulher louca, antes rebeca que roca. Provérbio. As mulheres perseguem os loucos, e fogem dos sábios como de bichos peçonhentos. Erasmo. Para castigar um louco, é casal-o. Provérbio. As extravagâncias são essências do verdadeiro amor. Ninon de Lenclos. As mais curtas loucuras são as melhores, diz o provérbio; mas em amor, ha loucuras que nos tornariam bem felizes se podessem durar toda a vida. Maã. de Chátelet. Ha amores tão bellos, que desculpam todas as loucuras que fazem praticar. Em amor não ha loucura que eu não tenha feito... excepto a de casar-me. Walsh. As primeiras loucuras obrigam a outras. No estado social, a única coisa razoável que tem o amor é a loucura. Rivarol. Se a moça for louca, andem as mãos e cale a bocca. Provérbio. ÁLBUM LOUVOR Não ha incenso que faça mais dores de ca- beça a uma mulher de que aquelle que se quei- ma para outra. Rochebrune. O louvor mais agradável para uma mulher, e" o mal que se lhe diz das outras. J. /. Rousseau. Para que os louvores concedidos a uma mu- lher sejam justos, é necessário que aquelle que a louva não espere coisa alguma d'ella. elogio na bocca de um escravo torna-se sempre sus- peito. Catalani. Algumas mulheres, nunca louvam ás outras senão o que ellas teem menos perfeito: é manei- ra delicada de para lá chamar o olhar dos ho- mens. Saint Prosper. Não pede louvor quem o merece. Provérbio. Grandes louvores sem inteireza não se ga- nham. Provérbio. Amor é um menino Tão velho como o mundo, Dos deuses o maior e o mais pequeno: De seu fogo divino Occupa o céo sereno, O largo mar profundo, A populosa terra, E nos olhos comtudo íris o encerra. Bocage. Lisonjas vendidas despreza o talento! Quem sabe o que vale, e no mundo o que é, Despreza da gloria o prazer d'um momento, Resiste á desgraça qual cedro de pé. C. Castello Branco. amor parece-se com a lua. ce, diminue. verdadeiro merecimento lha só depois da lua de mel. quando não cres- Sêgur. las mulheres bri- Richter. 13i M Dois rapazes brigavam por causa de uma mu- lher excessivamente magra. —Ora, dizia um ratão, são dois cães a um osso. A magra baila na boda e não a gorda. Provérbio. A adem, a mulher e a cabra é má coisa sendo magra. Provérbio. DICCIONARIO Por muito mal que um bomem pense das mu- lheres, sempre as mulheres pensam peior d'elle. Champfort. Uma mulher que nos engana quando julgamos ser amados, não nos faz mal. Uma mulher que nos desengana quando pensamos que ella nos ama, faz-nos muito mal. Beauchêne. bomem de espirito diz mal das mulheres quando está zangado, confessando a si mesmo que é um estúpido; o estúpido diz mal das mu- lheres nos momentos de alegria pensando ser muito espirituoso. Lemesle. Quasi todos os homens qus faliam mal das mulheres são, ou néscios, ou vaidosos, ou vicio- sos, ou feios. L. de C. As mulheres bonitas que são importunas e pezarosas parecem vasos de alabastro cheios de vinagre. Quando tivemos a desgraça de casar com uma mulher má, o melhor que temos a fazer é ir deitar-nos ao rio de cabeça para baixo. Quem tem mulher má está na visinhança do purgatório. Provérbio. A parte mais nociva de uma mulher má é a As graças e a belleza sao ás vezes o véo que se occultam as almas mais perversas. A maldade mais que as rugas torna uma mu- lher feia. ÁLBUM 135 Para fugir da trovoada das paixões, o casa- mento com uma mulher boa é um porto na tempestade, mas o casamento com uma mulher má é uma tempestade no porto. Petit Senn. Sempre nos arrependemos de termos sido maus para aquelles a quem temos amado. As culpas do amor esquecem-se, os remorsos do ciúme, não. Ricard. Ainda não está na cebaça já é vinagre. Provérbio. MÃO A primeira felicidade que nos pôde dar o amor é o aperto de mão da mulher a quem amamos. Stendhal. Estamos nas mãos do amor como as bolas nas mãos dos jogadores de péla. Saint Evremont. marido da mais recatada e virtuosa mu- lher é menos feliz que aquelle que a não tem. Um marido é um emplastro que cura todos os males das raparigas. Molière. Em França, quasi nunca os maridos faliam de suas mulheres; é porque temem de fallar diante de quem as conheça melhor do que elles. Montesquieu. Um marido que falia sempre na virtude da sua mulher é um tolo que quasi sempre se en- gana. Dupuy. Marido que não é amado o pagará caro um Fabre d'Eglantine. 136 DICCIONARIO A maior parte dos maridos pacíficos deixa- riam de o ser se amassem ainda. A sua mode ração 6 iillia da indifferença. Dupity. Toucas mulberes amam seus maridos; ha poucos maridos que apezar das distracções não lenham affecto por suas mulheres. Jf. eBa de Sommery. marido que mostra muito a mulher e a bolsa, arrisca-se a emprestal-as. Um marido é sempre um homem de espirito; nunca lhe vem á cabeça o casar-se. A. Dumas. marido e o linho não é escolhido. Perda de marido, perda de alguidar; um que- brado, outro no poyal. Provérbio. Laura diverliu-se muito N'uma funcção menos mê B Qual foi o divertimento? -A. Não ter o marido lá. Bocage. Quanto és, Dido, desgraçada Com dois maridos no mundo! Foges, morrendo o primeiro, Morres, fugindo o segundo. Bocage. É pelas mulheres que os médicos ganham reputação; é pelos médicos que as mulheres fa- zem as suas vontades. Os homens só chamam os médicos quando se acham doentes; as mulheres mandam-nos buscar quando se sentem aborrecidas. Mad. de Genlis. Quando o enfermo diz ai; o medico diz, dai. Provérbio. Lavrou chibante receita Um doutor com todo o esmero; Era para certa moça, Que ficou sã corno um pêro. «Tão cedo! É milagre!» (assenta A mãe, que de gosto chora) «Minha mãe, não é milagre, Deitei o remédio fora.» Bocage. O amor 6 como o medo, faz-nos capacitar de tudo. Mad. iVAulnoy. As mulheres que amam estão sempre com medo de não serem amadas; as que não amam pensam sempre que o são. L. Desnoyers. medo é o defeito das mulheres. Mad. de Rieux. primeiro amor que entra no coração 6 o ultimo que sae da memoria. Petit Sem. As meninas aprendem mais depressa a sen- tir que os homens a pensar. Voltaire. Os homens e as mulheres gostam mais das meninas que dos rapazes; o homem vê já na menina uma amante para o futuro, a mulher vê no rapaz o amante futuro de outra mulher. Gretry. Uma esposa que o é contra a sua vontade, torna-se uma inimiga, diz Plauto; e uma me- nina obrigada ao casamento, mais tarde ou mais cedo appella para o amor. A belleza de uma menina deve dirigir-se á imaginação e não aos sentidos como a de uma mulher. A. Karr. Uma menina é um enigma que só se entende depois do casamento. 138 DICCIONARIO Um menino não ê um homem, mas uma me- | nina ê uma mulher em ponto pequeno. .4. Karr. Moça virtuosa, Deus a esposa. Provérbio. Nem de menina te ajuda, nem cases com viuva. Provérbio. Que ! De tão tenra edade nos verdores Ninguém te pôde ouvir, mimosa Isbella, Nem ver teus olhos sem morrer de amores ! Ah! fosses mais crescida ou menos bella : Para causares as feridas nossas Espera o tempo em que saral-as possas. Bocage. Em amor, quando uma mentira não é acre- ditada é só de temer para quem a diz. A infidelidade e a mentira nunca se devem perdoar aos amantes; porque se parecem com as creanças que não sendo severamente casti- gadas esquecem logo as suas faltas. Mad. de Rieux. As mulheres mentem com tanta graça, que nada lhes fica melhor que o mentir. Byron. Um estudante, ao passar por uma senhora, disse-lhe : —Eis a mais linda mulher que tenho visto. A senhora olhando para elle, e-aebando-o muito feio, respondeu: — Sinto não lhe poder dizer outro tanto. —Pois minha senhora, redarguiu o estudan- te vexado, faça como eu, minta. Não, não creio nos teus olhos ; Se eu já sei o que elles mentem í Se conheço á minha custa Que o que dizem não sentem ! Oh ! quem me dera ignoral-o Para ser feliz ainda... Era feliz com mentira, Mas se é mentira é tão linda. Garrett. Poupando votos A loira Isbella, Se Amor fatiasse Nos olhos d'ella : De almos prazeres Me pousaria Cândido enxame Na phantasia : Outros, que as almas Também têm presas Se regosijam De ouvir finezas : ÁLBUM 139 Eu antes quero Muda expressão; Os lábios mentem Os olhos não. Bocage. MILAGRE maior milagre do amor é curar do ga- lanteio. Rochefoucaukl. Os milagres do amor são tanto mais acredi- tados, que a maioria dos homens conservam no coração lembranças que justificam a sua credulidade. Ricarcl, Contae (disse) senhor, contae de amores As maravilhas sempre acontecidas Que ainda de seus fios cortadores No peito trago abertas as feridas, Ah ! Senhora, em quem se apura A fé do meu pensamento 1 Escutae e estae a tento, Que com vossa formusura Eguala Amor meu tormento. E, posto que tão remota Estejaes de m'escutar Por me não remediar, Ouvi, que pois Amor nota, í.filaíji-ps se hão de notar. D1CC10NARI0 MOCIDADE Não serve de nada ser moça scai ser bella, a sem ser moça. La Rochefoucauhl. 1'ica bem a um homem que já não é moro, i s pecer-se que o foi. Saint Evremont. impunemente que o coração conserva le quando o corpo já a não tem. J. J. Rousseau. Amue cedo se quizerdes amar tarde. Não ha amores que passem além do tumulo, senão os que principiaram no berço. Bcrnardin de Saint Pierre. Lamentarmos a nossa mocidade 6 quasi sem- ios saudade de uma mulher linda que ranou. Gigante tio porvir, oh mocidade. Erguei a fronte altiva Entre as brancas cabeças da velhice, Como ao sopro vital da primavera. O pimpolho gentil se desabrocha Entre os já serros e curvados troncos. D. J. G. de Magalhães. Ha tanta fraqueza em i em ostental-a. gir da moda como La Bruyère A moda, esse idolo da mocidade, ( ruinosa de todas as vaidades. Se ha maior louco que aquelle que segue as modas, é aquelle que d'ellas foge. Yowng. As mulheres gostam da moda porque lhes dá uma nova juventude cada mez. Mad. de Puisieux. As mulheres muitas vezes tiram das modas, agrados que seriam defeitos se lhes tivessem sido dados pela natureza. Rochpèdre. império da moda, torna imbecis todos aquel- les que a ella se curvam. Miss. Edgeworth. ÁLBUM A moda 6 um verniz que só tem acção so- | bre a mediocridade. Rochebrane. Andava um doido pelas ruas esfarrapado e quasi nó, trazendo debaixo do braço uma por- ção de panno que lbe chegava para se vestir. Porque te não vestes tendo esse panno, diziam - lbe. —Porque estou vendo em que param as mo- MODERAÇAO A temperança e a moderação servem de pas- saporte para uma feliz vclbice. Plutarco. A moderação 6 o mais fino e o mais deli- cado dos prazeres. Mad. Brisson. Em amor, a economia dos sentimentos e dos prazeres é a única metapbysica razoável. Ninem de Lenclos. Todos os prazeres estão no gozo e não no excesso do gozo. Mirabeau. A mulher que troca a modéstia por a ousa- dia, perde metade dos seus encantos. Mad. de Grafigny. A modéstia nas mulheres é o amor de todas as virtudes; o descaramento parece patentear todos os vicios. Richardson. As mulheres em coisa nenhuma devem estar nuas; é preciso que o véo da modéstia esconda até os dotes do espirito, Toung. Nas mulheres, a modéstia tem grandes van- tagens; augmenta a belleza e esconde a feal- dade. Fontenelle. A modéstia é uma virtude tanto mais preciosa nas mulheres, que fazemos tudo para que cilas a percam. A modéstia é uma salvaguarda para a mu- lher que quer ser recatada, é uma mascara de DICCIONARÍO prudência para a que o não é, e um artificio feliz para a quo já o não quer ser. A mulher é como o pyrilampo : brilha em quanto eslá na escuridão; logo que apparece ú claridade sõ se lhe acham defeitos. Em amor, basta um momento para tornar uma penitente peccadora. A dor conta os momentos, a felicidade esque- ce-os. Mad. Wottley. amor contrariado não vê obstáculos, e o amor feliz conta os momentos perdidos. Diderot. Deus não quíz conceder-nos o talento, Que possue a mulher: nós não achamos Uma phrase sequer em tal momento ! Será porque talvez mais adoramos, E debalde a expressão do que sentimos Exprimir em palavras procurámos ? Bulhão Pato. amor nunca morre de fome, mas sim ás vezes de indigestão. Ninou de Lenclos. Uma mulher que prefere a morte do amante á inconstância, ama-se mais a si do que a elle, e está mais presa ás doçuras do amor de que a quem lh'as dá. Rochebrune. Via -se em Roma esta inscripção sobre o tu- mulo de dois esposos : —Pára, viandante, admira esta maravilha; um homem e uma mulher que estão sem brigar. Mear d. Conhecemos a morte pela primeira vez quan- do ella accommette quem nós amamos. Mad. de Stael. Quando a alma d'aquelles que se amavam esqueceram a sua ternura, a morte tem pouco que nos roubar. Uma menina de dezeseis annos chamada Flora tendo morrido, o poeta Santeuil fez-lhe este epi- taphio : Fios fueram factus; florem fortuna fefellU Florentem florem florida flora fleat. Uma mulher linda deve morrer nova, uma mulher honrada deve morrer edosa. Joubert. A mulher nasce de nada, e morre de tudo. A. Karr. As mulheres rendem-se e não morrem. Ch. de Bernard. Ha um só momento em que as mulheres de- viam morrer, é quando deixam de ser amadas. Mad. Sophie Gay. Murchou da morte a mão mirrada e fria A mais viçosa flor da formosura. Morreu Filis ! mudou-se em sombra escura A luz que á das estrellas excedia. ÁLBUM Emmudeccu do canto a melodia Seccou-se a doce fonte da ternura ! Chorae, Nymphas. de fúnebre verdura Coroae as alvas testas n'este dia. E vós, cedros, que os ramos debruçando Parece que com voto reverente Sobre esta urna estaes sombra espalhando Não consintaes que nunca sol ardente Venha seccar o pranto, que chorando Sobre este jaspe estou tão descontente. D. dos Reis Quita. Nem bode sem canto nem morte sem pranto. Provérbio. Os olhos onde o casto Amor ardia, Ledo de se ver n'elles abrazado : O rosto, onde, com lustre desusado Purpúrea rosa sobre neve ardia ; O cabello que inveja ao sol fazia, Porque fazia o seu menos doirado; A branca mão, o corpo bem talhado Tudo aqui se reduz a terra fria. Perfeita formosura em tenra edade, Qual flor, que anticipada foi colhida, Murchada está da mão da morte dura. 143 Como não morre Amor de piedade? Não d'ella, que se foi á clara vida Mas de si que ficou em noite escura. Camões. A morte!... Sim a morte; ouvi-lhe o brado, Senti ranger-lhea formidável foice Com que as minadas mãos lhearmou o Eteru Porque, Senhor, do chãos tumultuario Tão bella e esperançosa ergueste a vida, Se ao pé da vida collocasie a morte? Ai! misero, que penso! E um dia, um dia Virá também, ó Júlia Em que os teus mimos, os teus dons celestes Devam ceder a um bárbaro destino ! Então teus lindos olhos, tua bocca Serão matéria informe ; Já não existirá teu brando riso, E, extincta a falia, guardarás silencio. DICCIONARIO Oh quem morro o feliz... Ai Jo que vive Entregue á negra dôr, dado ao martyrio, s da oppressSof... .! alma, Vende-se o pensamento.., a crença estala; /. 'm. Camões. Por teus olhos, negros, negros, Trago eu negro o coração De tanto pedir-lhe amores E elles a dizer que não. E mais não quero outros olhos, Negros, negros como são ; Que os azues dão muita esp'rança Mas íiar-me eu n'elles, não. Só negros, negros os quero ; Que em lhes chegando a paixão, Se um dia disserem, sim... Nunca mais dizem que não. 156 DICCIONARIO Dos lindos olhos de modesto brilho. K mineis, e tranças onde amor se enleia, Já toem por certo valioso preço Amam-se muito. F. E. Leoni. verdadeiro orgulho de uma mulher deve estar na energia do sentimento que elle inspira. orgulho é muitas vezes um obstáculo ao ciúme ; quem muito se estima não teme rivaes. Rochpèdre. ouro attrahe o amor, e sendo rico, até um Bárbaro agrada. ouro dá belleza mesmo á fealdade. Boileau. Não caseis com uma mulher que vos não ama, embora ella vos dê uma mina de ouro. Lope de Vega. amor sem liga é tão difficil de encontrar como o ouro puro. ouro e os presentes teem uma eloquência muda que transtorna o coração da mulher, me- lhor que os mais bellos discursos. Shakspeare. ÁLBUM Oiro, poder, encanto ou maravilha Da nossa edade, regedor da terra, Estatua colossal com pés d'argilla Que dás honra e valor, virtude e força, Que tens oífertas, oblações e altares, Embora teu louvor cante na lyra, Vendido Menestrel que pôde insano Do grande á porta renegar seu génio ! Outro sim que não eu... Gonçalves Dias. Aonde o ouro falia tudo calla. Provérbio. Cresce o ouro bem batido, como a mulher com bom marido. Provérbio. Podiam ser felizes meus 2mor- i Quando por oiro o amor se não vendia : Já de palavras Nize desconfia, Só crê ou em <1uiVJiro ou em penhores. Vui me assaltado d'ancias e temores Quando na porta irada me batia : Por costume infeliz ella sabia Que era algum dos cançados acredores. Foram-se os dias bemaventurados Em que só almas grandes, peitos nobres Eram do deus de amor agasalhados : Negro destino hoje preside aos pobres : Poz termo a bella Nize aos seus agrados, Vendo esta bolça condemnada a cobres. N. Tolentino. Devemos procurar uma mulher antes com os ouvidos que com os olhos. Provérbio. ouvido é o ultimo asylo da castidade. De- pois de afugentada do coração é para elle que corre. Retif de la Bretonne. 158 DICCIONARIO PACIÊNCIA A paciência necessária aos namorados. Com tempo e paciência tudo se alcança. Ovídio. Nada honra mais a mulher que a sua paciên- cia: nada a deve envergonhar mais que a pa- ciência do marido. Joubert. De todas as paixões violentas, a que fica me- lhor ás mulheres è o amor. La Rochefoacaukl. Jucundissimum cst in rebus humanis ama- ri, sed noa minus amare. Plinio. A paixão torna muitas vezes um homem sá- bio um louco, e um louco um homem sábio. La Rochcfoucauld . Quando nos tornamos brinquedo de uma pai- xão, também o somos d'aquelle que a inspira. Mad. de Stacl. Nada augmenta tanto uma paixão nova como os louvores que são retribuidos a quem è causa. Mad. de Sarlory. Nas primeiras paixões, as mulheres amam o amante, nas outras amam o amor e os praze- res. La Rochefoucaidd. Acontece ás vezes que uma mulher oceulte ao seu amante a paixão que sente por elle em- quanto elle finge uma que não tem. La Bruyère. Ha mulheres perdidas que nunca teriam sen- tido mais que uma paixão se essa fora dirigida a um homem honrado. Duelos. ie todas as paixões o amer é a mais forte porque a~commette a um tempo, o coração, o c? piri to e corpo. Voltaire. grande e cruel caracter das p.iV^õ^ é im- premir movimento em toda a vida, éyjJua fe- licidade a poucos instantes. Mad. de Stael. ÁLBUM Uma paixão occulta, defende melhor o co- ração de uma mulher que a própria virtude. Retif de la Bretonne. Homem apaixonado não admitte conselho. Provérbio. PARECENÇA Todas as mulheres são uma quando a luz es- tá apagada. Plutarco. Quanto mais a mulher differe de um homem no physico e no moral, mais agrada. Rochebrune. Fazermos por nos parecer com as mulheres não é meio de lhes agradar. Odeiam-se tanto umas ás outras que não podem amar o que se parece com ellas. J. J. Rousseau. Um pé pequeno n'uma mulher é o resumo de todas as graças. Retif de la Bretonne 160 O amor é o peccado de todos os homens. Yitiwn commune omnium est. P. du Bosc. Não ha homem por muito santo e virtuoso que seja que não seja teutado pelos attractivos tio peccado. Oxenstiern. A mór parte das mulheres acariciam o pec- cado antes de ahraçar a penitencia. Peccado confessado é meio perdoado. Provérbio. Dizia um hahitante de Rilbafolles, elogiando os peccados: —A soberba é a salvaguarda dos corações nobres. —A avareza é o conhecimento do valor do tempo e do trabalho. — A gula é o sentimento artístico do esto- | mago. —A luxuria é a expansão do amor. —A inveja é o conhecimento da injustiça da sorte. — A preguiça é a manifestação do descanço da consciência. —A ira é o motor das acções heróicas. Os pensamentos elevados são tão necessários ao amor como á virtude. Os prazeres do pensamento são tra as feridas do coração. Mad. de Stael. pensamento da mulher é um abysmo sem fundo. Th. Gaiitier. Se os homens soubessem o que pensam as mulheres, seriam vinte vezes mais atrevidos, e se as mulheres soubessem o que pensam os ho- mens, seriam vinte vezes mais namoradeiras. A. Karr. Onde porei meus olhos que não veja A causa de que nasce o meu tormento? A qual parte me irei co'o pensamento, Que para descançar parte me seja? Camões. ÁLBUM Calções, polainas, sapatos, Persevejos, pulgas, piolhos, Azeites, vinagres, molhos, Tigelas, pires, e pratos : Cadelas, galgos, e gatos, Pauladas, dores, tormentos, Burros, cavallos, jumentos, Naus, navios, caravelas, Corações, tripas, moelas, Almas, vidas, pensamentos! Bocage. Uma mulher tudo perdoa excepto o não a ama- rem. J. J. Rousseau. Em quanto se ama, perdoa-se. As culpas dei- xam de ser disculpaveis só quando já não ama- mos. Maã. iVArconville. Nunca são os homens mais ternos senão de- pois de se lhes perdoar uma infidelidade pas- sageira. Ninon de Lenclos. As mulheres raras vezes perdoam umas ás outras a vantagem da belleza. Fóntenelle. Ao que erra, perdoar-lhe uma vez e não três. Provérbio. Quem lastimas escuta, está perto de perdoar. Prove] Deíxa-me ver no teu rosto Os signaes do meu perdão, Occulla-mc o teu desgosto, Que é minha condemnaçiío. Por cada sombra que vejo Cobrir-te as rosas do pejo. Dos remorsos sinto a dór ; Oh ! perdoa meus ciúmes ! Não me ouvirias queixumes Se não fora o meu amor. É talvez grande maldade Atrever-me a murmurar, Do poder da divindade Que me pode castigar ; Mas que queres ? temo tanto Ver quebrar o doce encanto, Que teus olhos prende aos meus !... E se me não perdoares, A falta dos teus olhares Me fará descrer de Deus. Eu confesso o meu peccado; Doe-te do meu coração; Diz-me que estou perdoado, Por ter feito a confissão. Foi caso de consciência... DICCIONARIO Mas não me dês penitencia. Que juro de me emendar Sê hoje boa cómico, forem dobra-me o castigo Quando eu tornar a peccar. A mulher e o vidro sempre estão em perigo. Ha mais perigos a temer ao pé das mulhe- res que bons resultados a colher. Muliercs rnajori adeuntur periculo quam frucíu, S. Francisco Xavier. As mulheres que nasceram com um terno, deveriam evitar até a companhia dos ho- mens que lhes são indifferentes ; tudo para el- las é perigo. Mad. d'Arconville. Uma mulher está em perigo logo que é amada com extremo. que não ousara um amante apaixonado para conseguir os seus fins ? ForUenelk. As mulheres presentem o perigo que as amea- ça com tanta rapidez e com vista tão certeira, que se pode afíirmar que o perigo lhes não desa- grada quando ellas nada fazem para o evitar. Ricard. Provérbio. Quem vive contente Vive receioso : Mal que se não sente É mais perigoso. ÁLBUM 1G3 Ter o dom tamento para PERSUASÃO agradar, é já um grande adian- Fonienelk. As mulheres bonitas podem-nos persuadir até mesmo sem nos fallarem. Dupuy. Não é o sentimento que ellas inspiram, mas sim aquelle que lhes inspiramos que pode per- suadir as mulheres. Rochebrune. Deixa Marília, Deixa illusões, Que a paz arrancam Dos corações. As leis não sigas De atroz crueza, Em tudo oppostas Á natureza. Ouve só quanto Amor te inspira, Que o mais é tudo Error, mentira. | Deixa tyrannos Em vão fallar, Que o mundo é feito Só para amar. casamento é ás vezes um laço que prendo; o homem e a mulher á amargura. Nos grandes pezares, uma doença é ás vezes uma felicidade. coração de uma mulher nunca está tão cheio d'amargura que não haja n'elle logar pa- ra a lisonja e o amor. Não ha espectáculo mais perigoso que o do uma mulher pezarosa; a compaixão faz mui- tas vezes nascer o amor. Mad. de Sartory. amor consola de tudo, até das angustias que causa. Rochpèdre. DICCIONARIO Em amor. o confidente dos nossos pesares, j QOSSO consolador. Mulher bonita nunca 6 pobre. Provérbio. As riquezas alimentam o amor, mas a pobre- za não tem meios para o sustentar. amor não é para os reis, nem para os po- bres. Os reis tem muitos deveres, e os pobres demasiadas necessidades. Bernis. Nas casas pobres, a mulher é a economia, a ordem e a providencia. Pobreza nunca em amores faz bom el Provérbio. Quem não tem fazenda Não ame, não deseje, não pretenda. A pobreza de horror meus dias cobre, E o peito me domina amor tyranno ; Porem se a fome tolerar comsigo, De amor não posso resistir ao damno. F. E. Leoni. ÁLBUM 465 Deus creou as mulheres para civilisar os ho- mens. Voltaire. Junto ás mulheres é que se aprende bem a polidez. Saint Evremont. porvir, no amor, faz esquecer o passado. Mad. de Sévigné. teem como riqueza o porvir que sonham, os velhos teem por pobreza o passado que lamentam. Rochpèdre. discernimento 6 necessário a possessão do prazer. Epicurio. Todo o mortal deveu a sua existência ao pra- zer. Voltaire. Nocet empta dolore voluptas. Horácio. O prazer é como certas ílores que dão verti- gens quando as cheiram muito tempo. Rochebrune. prazer parece-se com certas terras panta- nosas em que se deve correr levemente sem nunca parar. Fontenelle. No amor, os grandes prazeres são visinlios dos grandes pezares. 3/. elle de l'Espinasse. DICCIONARIO O amor é um prazer que nos atormenta, mas esse tormento causa prazer. Scribe. maior prazer é causar o alheio. La Bruyère. O maior de todos os prazeres é causal-os a quem amamos. Boufflers. De todos os prazeres dos sentidos o amor é o mais vivo. Helvécio. A esperança do prazer vale o prazer mesmo. Fabre d'Eglantine. Uma forte inclinação para o prazer leva as mulheres á perda da virtude. Não ha prazer onde não ha mulheres, e em França o Champanha mesmo perde o sabor não sendo derramado por ellas. Romieu. Os prazeres são como os licores que só se devem beber em copos pequenos. Ah ! muitas vezes não descubras, Vénus, Magos encantos; ou verás que em breve Á força de prazer se extingue o mundo. A. Garrett. Oh ! que famintos beijos na floresta! E que mimoso choro que soava Que aífagos tão suaves I que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava 1 O que mais passão na manhã e na sesta, Que Vénus com prazeres inflammava, Melhor é experimental-o que julgal-o Mas julgue-o quem não poder experimental-o. Camões. Não ha prazer que não enfade e mais se s( houver debalde. Provérbio. Ama os prazeres o loução menino, Qu'inda não bem nas plantas se equilibra. Tremulo mal se move, mas estende A mão a qualquer brinco. Ama os prazeres o curvado velho ; E ainda soltará jucundo riso Ante a amável donzella, que o namora, E zomba á sua vista. F. E. Leoni. ÁLBUM PRECAUÇÃO As pequenas precauções guardam as grandes virtudes. J. J. Rousseau. As precauções de nada servem contra as in- fidelidades, e muitas vezes uma mulher que se comportaria bem se a deixassem em socego, vê-se reduzida a andar mal por vingança ou por necessidade. Hamilton. Os amantes são como os ladrões ; tomam de- masiadas precauções, depois vão as abando- nando, esquecem por fim as mais necessárias e são apanhados. Duelos. Não serás amado se de ti só tens cuidado. Provérbio. Se não fores casta sé cauta. Provérbio. Dai-me mãe acautelada, dar-vos-hei filha guar- dada. Provérbio. Gomtanto que seja preferida, nunca uma mu- lher nos quer mal por agradar-mos a umas pou- cas; são outros tantos triumphos para ella. Ninon de Lenclos. Os corações sensíveis querem ser amado?, os vaidosos querem ser preferidos. A presença de quem amamos consola-nos até da sua frieza. Não é pela ausência, mas pela presença de quem amamos que nos podemos curar do amor. que se vê muilo a miúdo perde o prestigio. Mad. dArconville. A presença de uma menina é como a de uma flor. Uma dá graça a quanto a rodeia, outra dá perfumes a tudo que d'ella se aproxima. L. Desnoyers. São pequenos amores aquelles que necessi- tam de presentes para se recordarem. Duflol. Nunca é feio acceitar de quem se ama. que o coração dá não pôde envergonhar o co- ração que recebe. J. J. Rousseau. A mulher que acceita presentes de um ho- mem contrahe uma divida que se arrisca a pa- gar com a sua pessoa. i/. el,e de VEspinassc. presumido é um composto do estúpido e do insolente. La Druyère. A natureza faz os estúpidos, as mulheres é que os tornam presumidos. Dupuy. Não ha coisa mais miserável que o papel de namoradeira a não ser o de t j!/. clle de Sommery. O presumido é um tolo cheio de admiração por si mesmo; e animado a este ridículo sen- timento por mulheres ainda mais tolas que elle. PRESU1IPÇA0 À presumpção dos homens agrada ás mulhe- res porque attrahe a attenção. Latem. A presumpção de serem moças faz parecer certas mulheres ainda mais velhas. Jouij. Em todos os tempos as mulheres podem amar, mas não agradar. amor, como as flores, só tem attractivos na primavera. Rochebrune. Uma corte sem mulheres é um anno sem primavera, é uma primavera sem rosas. Francisco I, rei de França. amor é similhante ao anno, a sua mais linda estação é a primavera. Legouvè. Primavera! Primavera! Brada o homem, brada a fera, Vendo-a na terra e no céo, Tudo é gala, tudo é riso, 1 Que um risonho paraíso Nos amostra o erguido véo. João de Lemos. Eil-a que chega a amante Primai era ! Logo ao romper do dia susurrando, Vós, favonios azues, a annunciaveis. Chega... Chegou! as aves a festejam Desatinadas, doidas; já com verdes Braços lhe acena o bosque; estão-se os rio A retratal-a; as fontes a murmuram : Traz gala o monte; os valles se alcatifam Bi-lhe o céo todo, a Natureza é d'ella. A. F. de Castilho. D'entre as folhas novas Ri na flora fruta? Vê, respira! escuta! Festa universal. A. F. de Castilho. DICCIONARIO PR0UCHUIEN10 Devem-se escrever os prometimentos das mu- lheres sobre as azas do vento e a supcrGcie das ondas. ...Mulier cupido quod dicit arnanti, In vento, et rapidâ scribere oportet aquã. Calullo. Não somos obrigados a amar todos os que nos amam. Quem nada prometteu, nada deve. Mad. de Sartory. Em amor, as mulheres dão sempre mais que o que promettem. Dcsnoycrs. yuem segura a enguia pelo rabo e a mulher pela palavra pode dizer que nada segura. Prov. francez. Fé de mulher é penna sobre a agua. Prov. francez. As graças perdem quem se detém no que promette. PROVOCAÇÃO Provocar, é um jogo de namoradeira em que a virtude sempre perde. Lingrèe. As provocações da mulher são p mo as aranhas só fiam para apanhar as mos- cas, assim as mulheres se tornam amáveis pa- ra enredar os homens. P. de Bosc. PRUDÊNCIA ÁLBUM A prudência e o amor não foram feitos um para o outro. Á medida que o amor cresce, a prudência vae diminuindo. La Rochefoucauld. A verdadeira prudência está em desconfiar- mos de nós mesmos mais que dos outros. Mad. de Lambert. amor é um sentimento independente que a prudência pôde evitar, mas que não sabe vencer. Lados. D1CCI0NARI0 QUEIXA Como não temos a liberdade de amar ou não, amante não se pôde com justiça queixar da inconstância da sua amante, nem ella da le- viandade d'elle. La Rochefoucauld. Não se queixem as mulheres dos homens; são o que os fizeram. Duelos. Vi queixosos de amor mil namorados, E nenhuns inda vi com seus louvores ; E aquelle que mais chora o mal de amores, Vajo menos fugir de seus cuidados. Camões. Míseros gostos! Mísera ternura! Que sempre, injusto Amor, teus servos tenham Queixumes que formai- contra a ventura ! 1 ns, adorando ingratos, que os desdenham Tarde no escuro abysmo, em que descança ■ ) desengano horrível, se despenham : _ Outros, chorando a pérfida mudança De uma alma desleal, enfurecidos Co'a morte arrostam, que no inferno os lança. Outros, emtim, como eu, correspondidos Depois em longa ausência amarga e crua Arrancam das entranhas mil gemidos : Tal fraudulento amor, 6 a lei tua, Lei, que o Fado approvou para que a terra A si mesma se entregue, e se destrua. ÁLBUM R RAZÃO O amor é uin esquecimento da razão. S. Jerónimo. A razão para os namorados é uma tocha que brilha nas trevas sem as poder dissipar. A razão contraria o coração e não o con- vence. Mad. Riccoboni. A razão é o ultimo recurso do amor. Helvécio. A razão está para as mulheres, como a agua para o vinho, tira-lhes as suas propriedades embriagantes. C. Lemesle. Às mulheres roubam á razão o que dão ao | amor. Dupuy. Sempre a Razão vencida foi de_Amor. Camões. Affeição cega razão. Provérbio. A mulher deve receiar mais o que ama de que o que odeia. Quando o amor falia, calam- se a razão, o dever, a honra e o receio. Um extremo receio dispõe os espíritos ao erro e o corpo á doença. P. du Dose. amor como fogo, não pode existir senão em continuo movimento de espirito. Acaba de viver quando já não espera ou não receia. La Rochcfoucauld. DICCIONARIO RECONCILIAÇÃO Com a reconciliação augnienta o amor. 3Iad de Sartory. A maioria dos namorados fingem desconten- tamentos e contestações para encontrar novos prazeres na reconciliação. Rochebrune. Km amor, a reconciliação deve ser firmada com um beijo seguido de um quarto de hora de silencio. As mulheres recusam com altivez o que de- sejam. Quod rogat illa temet, quod non rogat, optat. Ovidio. Acontece quasi sempre que a mulher não gosta de ver outra aproveitar-se do que ella mesma recusou. Shakspeare. A mulher que escutou uma vez, escuta se- gunda; o seu coração não é de gelo, e sem- pre podeis apellar da sua primeira recusa. As mulheres attrahem pelo prazer, mas só pela recusa è que podem reter os homens. Saint Prosper. amor 6 uma religião que não cae. Perret. A religião das mulheres consiste ordinaria- mente em servir a Deus sem desgostar o diabo. Oxenstiem. Ha tempos em que lastimamos os peccados commettidos, e outros em que lastimamos os prazeres perdidos. Saint Evremont. ÁLBUM REPUTAÇÃO Para as mulheres cuja reputação está bem estabelecida, a virtude torna-se a salvaguarda do prazer. Duelos. É mais fácil uma mulher defender a sua virtude contra os homens que a sua reputação contra as mulheres. Rochebrune. A reputação das mulheres depende mais da prudência dos maridos que da discrição dos amantes. Champforí. A mulher que ama pouco, zela a sua repu- tação e teme perdel-a; a que com extremo ama, sacrifica facilmente a reputação ao amor. Poinicelot. Digna é de nome e fama a mulher que não tem fama. Em amor, quem dá o retrato promette o ori- ginal. Dupuy. Concluiu pintor famoso Um certo retrato humano, E a taful sequaz de Apollo O foi mostrar muito ufano. Para o painel apontando Lhe disse «Amigo, que tal? Deveis gaval'o, que vós Conheceis o original. Foi ditosa a pincelada ; Nunca retratei tão bem, Nunca pintei como agora ! Pergunta o poeta: «A quem?» As mulheres prezam os nossos maiores ridí- culos quando é o nosso amor por cilas que os fazem nascer. CrébUlon. amor tem vinte maneiras de tornar ridículo um homem de bem. Massias. Os reis e os maridos enganados são sempre os últimos que percebem o engano. Napoleão I. Uma mulher pode ser feia, mal feita, má, ignorante, estúpida; mas ridícula, quasi nunca. Desnoyers. mais inimigo do amor é o ridículo. Para que amor lhe resista é preciso que seja como a poesia que resiste á tragedia, isto é, sublime. A. M. de Castilho. DICCIONARIO l"m amante, e principalmente amante infeliz, considera como um favor o rigor que se tem [>s seus rivaes. Em todos os tempos os rigores foram o agui- lhão do amor. Ninon de Lenclos. .Não creio n'csse rigor Que nos olhos se desmente : É traidor O deus d 'amor Mas em teus olhos não mente. Deixa pois tanto rigor, E na verdade consente Que é traidor O deus d'amor E nos olhos te desmente. RIQUEZA A mulher rica é um mal insolente. Intolerabttius nihil est quam feemina dives. Juvenal. que não vê mais n'uma mulher bonita que a riqueza do seu aderece, é um homem sem gosto. Raynal. É inpossivel entregar-se a uma grande pai- xão e fazer fortuna. amor fecha todos as por- tas á opulência. Mad. de Rieux. amor só pode dar amor, e quem quer d'elle outra coisa não merece ser amado. A mulher quando finge rir de amor, parecc-se com as creanças que cantão de noite quando tem medo. J. J. A alegria è mãe de numerosas loucuras ; rin- do-se é que as mulheres se perdem. Richardson. A mulher que ri do seu marido, não o pôde amar. Um homem deve ser para a mulher que ama, um ente cheio de força, de grandeza e sempre imponente. Balzac. Não ha nada mais difficil para uma mulher que rir e ser recatada. Legouvé. nympha a mais formosa do Oceano Já que minha presença não te agrada Que te custava ter-me n'este engano Ou fosse, monte, nuvem, sonho, ou nada? D'aqui me parto irado e quasi insano Da magoa e da deshonra alli passada, A buscar outro mundo onde não visse Quem de meu pranto e de meu mal se risse. Camões. ÁLBUM Onde ha muito riso ha pouco siso. Provérbio. inda saudoso ! Seecae-vos, minhas lagrimas, scccae-vos Que prantos d'homem não os vale nunca No mundo, uma mulher... que os paga... em risos. João de Lemos. Nada obriga tanto a mulher a tratar bem um amante como seja a concorrência de uma rival Ninon de Lenclos. A mulher não olha a nada para se vingar de uma rival. Louvei. A melhor maneira de vencermos os nossos rivaes é sermos mais amáveis que elles. Mad. de Sarlory. Por muito linda que seja uma rival, nunca a mulher viu coisa mais feia. Dupuy. Nas mulheres, acaba a amizade onde começa a rivalidade. Provérbio. Uma mulher só deve ler romances quando já não possa ter o desejo de os pôr em prática. A agulha perdeu mais meninas que os ro- mances. Richter. Ás mulheres agradam mais os romances que fazem do que os que lêem. Se as mulheres não tivessem os homens para as perder, bastavam-lhes os romances. DICCIONARIO Um rosto lindo é u;n traidor que olhamos com prazer. Plutarco. rosto é o espelho da alma, os olhos des- cobrem os segredos. 5. Geronymo, Um lindo rosto é o mais lindo dos espectá- culos, e a mais doce harmonia é o som da voz de quem amamos. La Bruyère. As mulheres escondem-se no seio de Deus, quando já teem vergonha de mostrar um rosto envelhecido que não agrada. Cara, cara, cara, eara, Cara, cara, e continua !.. Que revolução é esta ? Anda pela terra a lua? Bocage. A uma dama que chamou a Camões cara sem olhos. Sem olhos vi o mal claro, Que dos olhos se seguiu: amor das mulheres e a rosa, passam com o bom tempo. Provérbio. Ô flor creada nos jardins de Paphos, Suave, ingénua, delicada rosa! Tu és de amor, em divinaes mysterios Symbolo d'alma. Tu tens as graças da amorosa Vénus ; Turba de amantes desvelada te honra : E para as tranças adornar, e o seio, Buscam-te as bellas. F. E. Leoni, Tu, flor de Vénus, Corada Rosa, Leda, fragrante, Pura, mimosa; Tu que envergonhas As outras flores, Tens menos graça Que os meus amores.. Tanto ao diurno Sol coruscante Cede a nocturna Lua inconstante; ÁLBUM Quanto a Marília "Té na pureza Tu, que és o mimo Da Natureza. O boliçoso Cândido Amor Poz-lhe nas faces Mais viva côr ; Tu tens agudos Cruéis espinhos; Ella suaves Brandos carinhos ; Tu não percebes Ternos desejos, Em vão Favonio Te dá mil beijos : Marília bella Sente, respira, Meus doces versos Ouve e suspira. A mãe das flores, A Primavera Fica vaidosa Quando te gera : Porém, Marília No mago riso Traz as delicias Do Paraíso. Amor que diga Qual é mais bella, Qual é mais puni. Se tu ou ella : Que diga Vénus... Ella ahi vem... Ai! enganei-me Que é o meu bom. Bocage. Rosas, oh como um coração que adora. Vos conhece o valor, vos crê felizes ! Nasceis no seio da benigna Flora, Morreis no seio da benigna Lizes. Bocage RUGA As rugas são o tumulo do amor. Sarra Pelas rugas se contam os annos n'um rosto, como as horas n'um mostrador. P. clu Bosc. coração não tem rugas. Mad. de Sévignc. A belleza e a fealdade desapparecem egual- mente com as rugas da velhice; uma perde -se, outra oceulta-se. Pão molle e uvas, ás moças põe mudas, e aos velhos tira as rugas. 180 Traidora ruga em tua fronte bella As \ ezes ao curioso circumstante Revela», mas etafim o que revela? A edade ? e porque não ha acção constante Do profundo pensar d'esta cabeça, Onde o génio trasborda a cada instante? Bulhão Paio. ÁLBUM 181 Uma mulher que julga ter saudades de um amante, muitas vezes só do amor as tem. Mad. d'Arconville. Não temos saudades de quem nos ama se o não amamos, e sempre as temos do que nós amamos ainda que nos não ame. Mad. de Sartory. Perguntando alguém á joven mad. de Hou- detot poucos dias antes da sua morte, qual a causa da tristeza que se lhe lia no rosto, res- pondeu-lhe a espirituosa senhora: —Sinto saudades de mim. Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente! Repousa lá no céo eternamente, E viva eu cá na terra sempre triste. Camões. Que me quereis, perpetuas saudades? Com qu'esperança inda me enganaes? O tempo, que se vae, não toma mais, E se torna, não tornam as edades. Camões. Saudade é fraco remédio, mas é doce engano. Provérbio. As saudades são filhas do amor e enteadas do engano. Provérbio. Já no meu coração nova ferida Abrem os duros golpes da saudade, E já vive outra vez minha vontade De esperanças aerias revestidas, D. dos Reis Quita. Oh I saudade ! oh martyrio d' alma nobre ! Máo grado o teu pungir, como és suave ! Como a rosa de espinhos guarnecida, Aguilhoa, e apraz co'o doce aroma, Tu feres, e mitigas com lembranças, Mas oh! o teu espinho inda é maisjduro, E essas tuas lembranças são fallaces, Flores são, que o punhal de Harmodios cobrem. D. J. G. de Magalhães. A saudade! que sentimento, e que palavra! que doçura e que fel exprime! que suave me' lancolia c que pungente desesperação revela ! Não haverá talvez na língua humana, palavra que melhor exprima as ultimas gotas da seiva que nutrem o coração arado pelos desenganos, c descrido da esperança em venturas d'estc des- terro! Nem para o desgraçado ha outra seiva que lhe faça abrolhar no coração a cândida flor da fé, pallido reflexo do formoso jardim de flores esperançosas, esfolhadas pelos ventos tem- pestuosos das paixões. Castello Branco. 188 SLDCCÇAO lis prazeres e os divertimentos são as mais locçOes para as mulheres. Ph. de Var&nne. As mulheres mais lindas são seduzidas pri- meiro que as outras, peque não podem resistir a uma assiduidade e a uma lisonja continuas. Joly. A maior parte das mulheres seduzidas pelos homens só desejam casar com elles. É um modo de vingança como qualquer outro. SENSIBILIDADE É mais fácil encontrar uma mulher sensível que um bife tenro. Grimod de la Reynière. Quando o coração está enternecido, encontra prazer em tudo que lhe mostra a própria sen- sibilidade. Mad. de Tencin. Não pode haver sensibilidade sem dôr, nem prazer sem sensibilidade. Gralian. Quando perdemos a sensibilidade para o amor, temos menos vida e mais descanço. amor desenvolve com rapidez a intelligen- cia e a sensibilidade das mulheres. Quando aos sentidos se quer recusar alguma coisa, nada se lhes deve permittir. J. J. Rousseau. amor dos sentidos só quer agradar e gozar. Ségur. Os prazeres de alma tornam a vida tanto mais duradoira quanto os dos sentidos a tornam curta. Cabanis. Quanto mais o amor sensual obteve, mais perto está de ser ingrato. Latèna. Não ha loucura mais furiosa que a dos sen- tidos. Nulla capitalior pestis quam corporis volu- ÁLBUM m Vencer os desejos dos sentidos é a maior das victorias. Máxima cunctarwtn viciaria, viciaria volu- ptatis. Oxenstiem. SENTIMENTOS amor ê" o mais madrugador dos nossos sen- timentos. Fontenelle. amor nada é sem sentimento, e o senti- mento sem amor ainda é menos. Todos os raciocínios dos homens não valem um sentimento de mulher. Voltaire. tempo, que enfraquece os sentimentos cri- minosos, reconcilia com os affectos legitimos. Mad. de Stael. Em sentimentos, o que pôde ser avaliado não tem valor. Champfort Raras vezes o sentimento está interessado no nosso trato com as mulheres; quasi sem- pre é o prazer. Duelos. As mulheres não se prendem á vida senão pelos laços do coração e quando se desenca- minham, ainda é um sentimento que a arrasia. Mad. de Stael. impor silencio aos sentimentos mas ; limites. Mad. Necker. A mulher sentimental passa a vida entre as saudades do passado e o temor do porvir. Jouy. DICCI0NAR10 SEPARAÇÃO Corações bem unidos não se separam, des pedaçam-se. Dupuy. Eu me aparto de vós. Nymphas do Tejo, Quando menos temia esla partida, E se a minha alma vae entristecida Nos olhos o vereis com que vos vejo. Camões. Ainda que estejas mal com tua mulher, não é Lom conselho que cortes o apparelho. Provérbio. Se eu a amei? como esconder Este vivo sentimento Que me ficou de a perder ? Meu anciado pensamento, Noite e dia a vae seguindo Por me dar maior tormento! Se eu a amei? no corarão Diz-me que sim a saudade, Se o orgulho diz que não. E fui amado é verdade ; Mas paguei por alto preço Esta iiinocente raídadej Não quero agora mentir, Não quero dar o castigo A quem só sabe fingir, Eu vejo ainda o perigo, E o coração com que amava Tornou-se meu inimigo. É mais d*ella do que meu, Vivendo da minha vida ! Mas coitado! enlouqueceu Sentindo a viva ferida Que lhe fez com mão traidora Quem d'elle vive esquecida Amei-a, dizer que não É dar virtude á mentira Para negal-a á paixão ; Se a minha alma inda suspira, É por saber que ventura N'outra alma lhe fugira. Se eu a amei ? Pois não o diz Este amor próprio fingido Que me fez tão infeliz ? Mesmo apezar de oíTendido Se elle voltasse de novo, Achava-me arrependido... Se eu a amei? Oh ! se eu a amei! Pois estes olhos pisados Não dizem quanto cu chorei? Por seus olhos namorados Não dizem que ainda choram Estes meus desconsolados? Sc eu a amei? Pois esta dôr Nos meus versos traduzida Não repete ainda — amor? Pois esta queixa sentida, Não è a dôr da saudade Pela ventura perdida ? Se eu a amei? com tal amor !... Foi sonho de pouca dura... Despertei achando a dôr, No que tomei por ventura ! Sumiu-se a única estrella Que no céo cuidei segura. Amei-a de mais, se amei ! Segui-a sem conhecel-a, Quando em meu caminho a achei Foi grande a dôr de perdel-a Mas é maior o castigo De nunca tomar a vel-a. Amorim. O silencio é tão difficil para as mulheres, que, apezar de não perceberem o que dizem, conversam com Deus, quando estão caladas. Young. silencio foi dado á mulher para melhor expressar o seu pensamento. Desnoyers. Quando as meninas estão em edade de casar, o seu silencio pede um marido. Filia nubilis elsi plane nil loquatur, Ipso tamen silentio plurimum de se praedicat. Não se pôde occultar o amor, elle se paten- teia. Ovidio. Não ha disfarce que possa occultar o amor onde elle está, nem fmgil-o onde não existe. La Rochefoucauld. ÁLBUM Não falles senão no que pôde ser útil a ti ou aos outros. Franklin. Silencio grato da noite Quebrão sons d'uma canção, Que vae dos lábios d'um anjo Do que escuta ao coração. 18o Esta palavra, que forma os casamentos, é curta talvez com o propósito de não dar tempo a re- flexões. Dupuij. As duas palavras mais breves de proferir, sim e não, são seguramente as que pedem o mais serio exame. Pyíhagoras. Sim, é uma palavra que as mulheres nunca proferem, porque a temem; mas, á falta dos lá- bios dizem-na os olhos. Rkard. DICCIONARIO SOFFRUIENTO Quando soffremos, temos poucos desejos, uma paixão infeliz é um bom caminho para a sabe- doria. J. J. Rousseau. O amor só pode viver pelo soffrimento; acaba quando principia a felicidade, porque o amor feliz c o aperfeiçoamento dos mais bellos so- nhos, e tudo que ê perfeito ou aperfeiçoado está perto do seu Gm. Mad. de Girardin. A cama do soffrimento é o posto de honra das mulheres. Mad. Fée. Meu Deus, senhor meu Deus, o que ha no mundo Que não sejasoilrer? ( ) homem nasce, e vive um só instante E soffre até morrer ! Gonçalves Dias. Lei da Humanidade e não do acaso ; Soffrer, sempre solírer é seu destino. D. J. G. de Magalhães. A solidão não pôde apaziguar os tumultos do coração sem a ajuda da razão. M. cha de rEspinasse. A solidão é a consolação dos corações enga- nados. Zimrnerman. ívse mais forte contra o amor no meio da chusma que na solidão. sonho de felicidade é uma felicidade real. Fontanes. amor no casamento seria a effectuação de um bello sonho, se não fosse quasi sempre o seu fim. A. Karr. Não sabes tu, foi n'um sonho Que eu te vi, céos de ventura? No teu semblante risonho Não sei que luz scintillava; Nos olhos, onde a ternura Languidamente assomava, Havia tanta eloquência, Tanto amor, tanta innocencia, Foi num sonho, um sonho embora Mas amei-te desde ess'hora, Adorei-te, anjo de Deus, Ai, porque foges agora D'estes tristes olhos meus? ÁLBUM 187 Sonhei que nos meus braços inclinado Teu rosto encantador, Gertruria, via, Que mil ávidos beijos me soffria Teu niveo collo, para os mais sagrado : Sonhei que era feliz por ser ousado, Que o siso, a força, a voz, a côr perdia N'um extasis suave, em que bebia O néctar nem por Jove inda libado : Mas no mais doce, no melhor momento Exhalando um suspiro de ternura Acordo, acho-te só no pensamento : Oh! destino cruel! oh sorte escura! Que nem me dure um vão contentamento : Que nem me dure em sonhos a ventura ! Mas ah ! se o negrume O sol dissipara Calmara Seu nume O horror do tufão. Assim a minha alma A calma Daria D'Armia • Um sorriso. Um raio d'esp'rança Do paraíso Traria A bonança Ao meu coração. Solta dos lábios um sorriso ao menos A fluctuar nos lábios distraindo, Que me faça esquecer quanto hei soffrií Lacerado de incógnitos venenos. Th. Braga. Oh! quando em sonhos eu me enleio apini, Porque não vens de novo ao lado meu, Anjo d'amor, sorrindo como outi'ora Esse brando sorriso que enamora Que vem do céu ? E. A. Vidal. Quando é noite, mimosa, vens sorrindo, Ao erguer do teu véu, já eu, saudoso, Com a face na mão, do rio á beira, Te espero ha muito, para colher-te sofreg Teu límpido sorriso João de Lemos. A minha imaginação Escura sempre e funesta, Males sobre males me empresta Ao misero coração : As amarguras estão Com o dente roedor Cercando esta alma de horror ; Eu morro, acabo infeliz, Se acaso não me acudis «Meigos sorrisos de amor.» Bocage. DICCIONARIO d amor é urna paixão que não se curva a | oisa alguma, e á qual tudo se submette. Ima mulher agrada-nos porque nos domina, e nós agradamos-lhe porque lbe somos submis- O CANTO DO SUICIDA Anjo, silencio !... não chores... Amei-te muito... que importa? Vem beijar-me a face morta, Ouvirás sons do teu nome. Quando a luz da vida escassa, N'estes olhos já não brilhe, Não chores, anjo, não chores... Foi um destino... cedi-lhe. Escuta o hymno, que extremo Sinto aqui no coração... Ouves gemer a paixão JN'este adeus ao mundo ingrato? Lucto... mal sabes que lucto Sinto aqui dentro ferver... N'esta edade em que me mato Oh ! tanto custa morrer ! Sempre a desgraça!... delicias Nem uma tive em partilha... Vi-te, tarde, oh casta filha De meus sonhos delirantes... Olha... eu devo ter dos homens Uma loisa... pobre sim... Se m'a derem... vae de lucto Uma vez chorar por mim. Uma só... não te crimino, Se depois o esquecimento For, no pobre monumento, O epitaphio que tive... Mulher, amada na morte, Levo saudades de ti... Extrema crença d'um vivo Eras tu... não te perdi ! Se tivesse esfaima um vôo, Foras comigo... irias D'este ecúleo d'agonias Onde vivi, e viveste !... Estas coroas borrifadas Do sangue do coração, Despe-as a fronte pendida... Deu-m'as o mundo... ahi estão ? Venha o mundo e d'este sangue Que innunda a face ao precito... Escreva, cuspa na campa, Esta legenda — é maldito! ÁLBUM 180 Anjo ! silencio ! não chores... Amei-te muito, que importa? Vem beijar-me a face morta, Ouvirás sons do teu nome t C. Castello Bra Um amante sonha acordado com o que sus- peita. Amam quocl suspicatur, vigilam somniat. Publio Siyro. Devemos fugir das tristes verdades. Prefiro um erro que me torna feliz a uma realidade que causa o meu desespero. Dupuy. As suspeitas convidam á traição. Voltaire. Suspeitas, que me quereis? Qu'eu vos quero dar logar Que de certas me mateis, Se a causa de que nasceis, Vós quizesseis confessar Que de não lhe achar desculpa, A grande mágoa passada Me tem a alma tão cansada, Que se me confessa a culpa Tel-a-hei por desculpada. Suspiro que nasce d'alma, Que a flor dos lábios morreu... Coração, que o não entendo Não no quero para meu. Fallou-te a voz da minha alma A tua não na entendeu, Coração não tens no peito Ou é diffrente do meu. Queres que em lingua da terra Se digam coisas do céu? Coração que tal deseja Não no quero para meu. A lympha que suspira, não exprime O som mavioso d'um faminto beijo. Th. Braga. Suspiros inflammados que cantaes A tristeza com que eu vivi tão ledo. Eu morro e não vos levo, por que hei medo Que ao passar do Lethéo vos percaes. Camões. 190 DICCI0NABI0 Doa suspiros d"Ignez inda lembrados (Is echos pelo monte, ás horas mortas, Suspiram brandos ais, e aos sons da lyra Respondem gemebundos. João de Lemos. SYMPATHIA A sympathia é um parentesco do coração e do espirito. Entre pessoas de sexo diferente, os sentidos também pertencem á família. Só a conformidade dos sentimentos pôde tor- nar as relações duradoiras. A sympathia apro- xima os corações e une os laços do amor e da amizade. Bignicourt. Sympathia — é o sentimento Que nasce n'um só momento Sincero, no coração ; São dois olhares accesos Bem juntos, unidos, presos N'uma magica attracção. ÁLBUM 19 i T TEMPO Não è a razão, mas sim o tempo que mata o amor. Amori finem tempus, non animus facit. Publio Syro. Todo o tempo que não é empregado no amor é tempo perdido. Perduto é tutto il tempo che in amar non si spencle. T. Tasso. tempo vence o amor, a amizade só vence o tempo. Mad. d'Arconville. As amantes e as moscas desapparecem quan- do chega o mau tempo. Lamothe Levayer. O tempo vôa, as horas d Tão ligeiras decorrem, Murcham tão breve e morrem Rosas que do prazer não são colhidas. Garrett. homem não tem senão o passado e o fu- turo; o passado para chorar, o futuro para te- mer. presente não é nada, e é só o que elle sabe. Já se esquecem do passado, e o futuro não lh'o disse Deus. Garrett. tempo do amor é não tel-o. Provérbio. ttj^ r>:E ser Como é bella a virgem meiga. É linda rosa em botão!... Como sorri de contente !... E descanta alegremente Descantes, que virgens são!... Tem dez annos!... em seus olhos Terá magia e poder, Ha de ser alta e formosa, Ha de ser terna e bondosa, Porem, meu Deus!... ha de ser! Sua trança fina e loira, Até ao chão descerá Será das salas rainha, Alegre, chistosa, minha!... Mas nem foi, nem é... será... Eu no futuro não creio, Que mente mais uma vez. Se me quizerem damnado, Vingativo, desesperado, Édizer-me— talvez!... Eu quero um não positivo, Poeta, nem fui, nem sou, Quero o «sim- de um lábio altivo Quero tomar-me captivo, Aos ferros sempre me dou. Demais... Eu creio que a virgem Ha de formosa crescer, Mas aterram-me as lombrigas, E podem vir as bexigas, E foi-se o tal— Ha de ser. Seus lisos cabellos loiros, Prendidos n'um rolo estão, Alta a fronte, olhar fagueiro, Sorrir vago e feiticeiro, Nivio braço, linda mão. DICCIONARIO Os olhos tem de berylo, Dabelha a cinta gentil, Doce a falia harmoniosa, Leve, é como a mariposa, E como a brisa subtil. Esta é. mas eu não quero, ('Stou cançado de carpir!...) Não quero mais captiveiro, Acho mau, ser prisioneiro De quem me pôde fugir!... FOI Como tu serias bella Velha do meu coração Se com trinta annos de menos Com esses olhos serenos Me faltasses de paixão!... Como tu serias bella Tornando os homens desmentes, Se esses sons apaixonados, Fossem ao menos passados Por meia dúzia de dentes ! Como tu serias bella, Das mais bellas a primeira, Se em tua fronte constante, Xão se moldasse, elegante, Uma linda cabelleiral Assim mesmo, encanto d'alma, Eu vivo e morro por ti, Em tuas faces rugadas, Vejo as paginas marcadas, De um livro que jamais li. N'esse todo eu vejo as obras Do tempo destruidor!... Em teus requebros ligeiros Vejo em sonhos feiticeiros O nascimento d'amor! De tua bocca deserta Inspira-me a solidão, Eu quero tudo comtigo, Tudo sim, (por meu castigo) E dou- te o meu coração. /. d' Aboim. trabalho é a sentinella da virtude. Hesiodo. Entregar-se ao trabalho é tirar ao amor o arco e as frechas. Otia si tollas pericre cupidinis arcus. Ovídio. Pelo trabalho do espirito, seguramos o des- canço do coração. Jaucourt. ÁLBUM O amor é triste, fecha o nosso coração até aos prazeres que não dá. Mad. Riccoboni. Os corações tristes são ternos, a tristeza dá vida ao amor. J. /. Rousseau. Póde-se classificar como prazer a tristeza que nos causa o primeiro amor. Duelos. Porque te privas de gozar, em quanto Em turbas folga a leda mocidade, E mil publicas festas de alegria Nossos ritos nos trazem? Foge á tristeza, que te oprime, foge, Meu amado Salicio, que é loucura Deixar immurchecer os flóreos dias, Que tão breve se apartam. F. E. Leoni. É mais doce que a alegria Mais que do riso a impressão, É mais doce ao coração A doce melancolia ! Quasi sempre ao fim do dia, Vem minha alma procurar, E sinto o que não sentia, E gosto de a ver chegar. Entra, não sei com que chave, Mas sabe-me n'alma entrar ; Entra meiga, entra suave, Sem amargura, nem dôr, Fallando sempre d'amor, Do encanto da soledade Do céo á noite, da flor Que traz ao peito, a saudade ! E eu sinto n'essa hora, então, Que é mais doce que a alegria, Que é mais doce ao coração A doce melancolia. DICCIONARIO A vaidade perde mais mulheres que o amor. Mad. du Dcfíand. A vaidade causa mais galanteios que o de- boche ou o prazer. Não amaríamos pessoa alguma se nos não amassemos a nós mesmos. Rochebrune. A vaidade é o primeiro dos sentimentos das Mad. dWrconville. i.ulh. A vaidade nas mulheres torna a mocidade criminosa, e a velhice ridícula. Mad. de Flahaut. l"m amor ridículo desagrada mais ás mulhe- res que um amor insultante. VELHICE Pouca gente sabe ser velha. La Rochefoucauld. Uma velhice confessada é menos velha. Mad. de Lambert. Para as mulheres que só são bonitas, a ve- lhice é o inferno. Saint Evremont. Na velhice do amor, como na velhice da edade, ainda se vive para as dores, mas não para os prazeres. La Rochefoucauld. A felicidade ou a infelicidade da nossa ve- lhice é, muitas vezes, o resultado da nossa vida passada. Mad. Necker. De todas as ruínas do mundo, as que offere- cem o mais triste espectáculo são as ruínas do homem. Th. Gautier. As arvores, e as mulheres Correm quasi a mesma sorte, Pendem ambas com o vento, Já ao sul, e já ao norte. Sendo novas egualmente Á vista se ostentam bellas; E se acaso estas dão fruetos, Também fruetos dão aquellas. Das arvores a velhice As lança emfim ha fogueira ; Ter deviam as mulheres N'isto a sorte inda parceira. Ao velho recem-casado rezar-lhe por finado. Provérbio, Um velho alegre me apraz, E apraz-me um rapaz bailando. Das cans a côr pouco faz ; Velho, que baila cantando Parece velho e é rapaz. A. F. de Castilho. ÁLBUM Longa foi a viagem, Assas lutastes, descançae agora. Depois de haver vingado alpestre monte. Desde o albor da manhã, o peregrino Afadigado desce, E, envolto em trevas, vae pousar no valle. P'ra vós assas auroras madrugaram, P'ra vós luas assas alvas luziram, Assas de flores se esmaltou a terra, E de fructos, as arvores copadas Sim, sim assas gozastes; Mas uma voz vos chama, e vos diz — basta. D. J. G. de Magalhães. As mulheres tragam com avidez a mentira que as lisongeia, e bebem gota a gota a ver- dade que lhes é amarga. Diderot. amor, o prazer e a inconstância não são mais que o desejo do conhecimento da verdade. Duelos. A verdade não quer enfeites. Provérbio. Se queres fallar verdade, não affirmes que não has de tornar a amar. verdadeiro jejum (t a abstinência do vicio. S. Agostinho. A inclinação por uma só pessoa é o que se diz amor, por muitas é o vicio. esconder das acções innocentes é dar o primeiro passo para o vicio; e quem gosta de disfarçar, cedo ou tarde o faz com motivo serio. J. J. Rousseau. vicio altera as feições dos homens e mais depressa ainda estraga a belleza das mulheres ; podiam ellas pois achar na garridia lições de virtude. Beauchène. Não é ás vezes a virtude corajosa, mas sim o vicio timido que salva as mulheres. seu coração é então similhante a um covarde que teme de render-se. Beaumanoir. DICCIONARIO A vida das mulheres é uma doença demo- rada. Hippocratcs. capitulo mais comprido da vida das mu- lheres é o das contradicções. Na mocidade, vivemos para amar, n'uma edade mais avançada amamos para viver. Saint Evremont. A vida é um fio que Deus segura pelas duas pontas. Dancourt. Póde-se dividir a vida das mulheres em três épocas: na primeira sonham com o amor, na M^unda põem-no em pratica, na terceira las- tinram-no. Saint Prosper. Na ordem elevada, a vida do homem é a gloria, a vida da mulher é o amor. Na vida, o amor õ uma pagina escripta em hehraico. A. Houssaye. A vida está completa quando uma vez se amou. Ch. Nodier. A vida é uma flor cujo mel é o amor. V. Hugo. Na vida, uma mulher deve esperar que a convidem para o amor, como n'uma sala deve esperar que a convidem para dançar. A. Karr. Um gosto que hoje s'alcança, Amanhã já o não vejo : Assim nos traz a mudança D'esperança em esperança, E de desejo em desejo. Mas em vida tão escassa Qu'esperança será forte? Fraqueza da humana sorte Que quanto da vida passa Está recitando a morte. Camões. A vida é a ponte que une os dois precipí- cios do que nada foi para o que nada ha de ÁLBUM 197 VINGANÇA Ninguém mais que a mulher é inclinado á vingança. Vindicta nemo magis gaudel quam fcemina. Juvenal. As mulheres, como as creanças, quando se não podem vingar, choram. Carãan. Vingar-se de uma amante culpada, é mos- trar que ainda se lhe tem affeição. E necessário ser mulher para saber vingar-se. Mad. de Rieux. Uma dama, de malvada, Tomou seus olhos na mão : E tirou-me uma pedrada Com elles ao coração. Armei minha funda então, E puz os meus olhos n'ella, Trape, quebrei-lhe a janella. A mulher mais virtuosa é aquella em que menos se falia. Thucydides.- Toda a mulher que se fia demasiadamente na sua virtude corre risco de a perder. A virtude nas mulheres é uma religião que tem numerosos pregadoras e poucos martyres. Helvécio. Uma mulher virtuosa que teve só um amante é mais virtuosa ás vezes que uma feia que não teve amante algum. Lingrée. A mulher virtuosa tem no coração uma fi- bra mais ou menos que as outras mulheres; ou é estúpida ou sublime. Balzac. A virtude e o amor são dois papões, é ne- cessário que um coma o outro. Da Divindade o culto é a virtude, São leis da natureza as leis divinas, Disse a palavra d'Elle, Diz-no-lo a voz do coração que é sua. O incenso que se queima nos altares Não vae tão alto, que o receba o Eterno. Garrett. A virtude 6 como a belleza, porque de ne- nhuma d'ellas se pôde dizer onde principia nem onde acaba. Houssaye. Se soubesse a mulher a virtude da arruda, buscai-a-hia de noite á lua. Provérbio. Feliz quem assoberba a iniqua sorte; E, para o consolar, acha o virtude, Que benéfica brilha, Como em negra solidão plácido lume Alma esperança gera, prometlendo Asylo ao peregrino afadigado. D. J. G. de Magalhães. Ha quem diga que a virtude Pôde sem mancha viver... É mentira ! Eu nunca pude, Por mais que este mundo estude, Combinar «honra» e «prazer». 108 DICCIONARIO O «prazer» exprime agora A «deshoiira» d'outros dias : Unia nobre acção outr'ora Era sempre a precursora De singelas alegrias. Hoje não ! Chama-se gozo «Vida fértil de emoções» : — Quem na paz busca repouso Diz o mundo, é desditoso... Só ha vida nas paixões!— Castello Branco. A viuva rica, casada fica. Nem de menina te ajuda, nem cases com viuva. Provérbio. A viuva com o lucto e a moça com o moço. Provérbio. Quiz inda fresca viuva Casar, mas tinha esquecido No alfarrábio dos enterros Pôr o enterro do marido. «Leve este papel ao cura,» (Lhe aconselha um maganão.) Era excellente receita Das que importam n'um milhão. «Padre (diz ella entregando O papel que se lhe deu) O meu homem tomou isto...» Torna o cura: «Então morreu 1» A UMA VIUVA Se de dó vestida andaes Por quem já vida não tem, Porque não o haveis de quem Vós tantas vezes mataes? Que brado sem ser ouvido E nunca vejo senão Cruezas no coração E grande dó no vestido. Camões. ÁLBUM 199 O que a mulher quer, Deus o quer. Provérbio. Se quereis mal a uma mulher deixae-lhe fa- zer as vontades. loung. que a mulher quer está escripto no céo. La Chaussée. amor é como a febre, nasce e acaba sem participação da nossa vontade. Stendhal. Os astros não violentam vontades. Provérbio. VOZ Dizem que o espirito faz esquecer a fealda- de; parece-me que também uma voz maviosa faz esquecer as falias ordinárias. Mad. de Rieux. A mulher modesta não encontra voz mais maviosa do que a que canta os seus louvores. Dupuy. Uma voz rouca saindo de uma bocca linda faz cuidar que a alma não se assimilha ao rosto. Thoré. Ha mulheres que são poderosas unicamente pelo som da sua voz. Saint Prosper. LISTA DOS AUTORES, CUJOS NOMES FIGURAM NESTA OBRA Aboim. (João d') Abouisse. Abrantes, (mad. d') Adanson. Addison. Affonso d'Aragão. (D.) Alphonse Karr. Amorim. (F. Gomes de) Anacreonte. Apelles. Arcorrville. (mad. d') Argens. (d') Aristóteles. Arlincourt. (d') Arsénio Houssaye. Aulnoy. (mad. d') B Bacon. Balzac. Barthe. Beauchène. Beaumanoir. Beaumarchais. Beaumelle. Beaumont. (mad.) Bellegarigue. Bernard. (Ch. de) Bernardim Ribeiro. Bernardin de Saint Pierre. Bernis. Bertinazzi. Bignicourt. Bion. Blondel. Bocage. (M. M. de B. du) Boileau. Bonald. Bosc. (P. du) Boufflers. Boussanelle. Brantôme. Brisson. (mad.; Bruys. Bugny. Bulhão Pato. Bussy Rabutin. Byron. DICCIONARIO C Cabanis. Calderon. Camões. (Luiz de) Cardan. Carneadas. Casimiro d'Abreu. ' Castello Branco (C.) Castilho. (À. M. de) Castilho. (A. F. de) Catalani. Catão. Catullo. Chabanon. Cbampfort. Cbateaubriand. Châtelet. (mad. du) Cbaumette. Chillon. Cícero. Clemente xiv. Codro. Commerson. Condorcet. Corneille. (P.) Crébillon. Cujas. D Danchet. Dancourt. Daniel Stern. Daumas. (C.) Deffand. (Mad. du) Deshoulières. (mad.) Desmahis. Desnoyers. (L.) Diderot. Diógenes. Dorat. Droz. Dubay. Duelos. Duflot. Dufrenoy. (mad.) Dufresne. Dufresny. Dumas. (Alexandre) Dunoyer. (mad.) Dupont. (Pierre) Dupuy. ÁLBUM E Edegworth. (miss.) Emile de Girardin. Epi curió. Erasmo. Espinasse. (M. elle de 1') Euripides. P' Fabre d'Eglantine. Faulcon. (F.) Favart. Fée. (mad.) Feuchères. Ferrière (Gh. de la) Flahaut. (mad. de) Fontaines. (m. elie de) Fontanes. Fontenelle. Fourier. (C.) Francisco I. (rei de França) Franklin. Frederico II. Frederico Thomas. O Garrett, (visconde de Almeida; Gautier. (Th.) Genlis. (mad. de) Geoffrin. (mad. de) George Sand. (mad.) Girardin. (mad. de) Godwin. Goethe. Goldoni. Goldsmith. Gonçalves Dias. Gozlan. (Léon) Grafigny. (mad. de) Gratian. Grégoire. Gregory. Gresset. Gretry. Greuze. Grimod de la Regniòrc. Grun. Guibert. (mad.) Guizot. (mad.) Guyard. (A.) D1CCI0NARI0 H Hamilton. Harleville. C. d') Heloise. Helvécio. Herculano (À.) Herder. Hesiodo. Horácio. Houdetot. (A. d') Janin. (J.) Jaucourt. João de Lemos. Joly. Joubert. Jouy. Junqueira Freire. (J. J.) Juvenal. Labouisse. Laboulayc. (E.) La Bruyère. La Chaussée. Laclos. La Fontaine. Lallemand. (D.) Lamartine. Lambert, (mad.) Lambert. Lamennais. La Mettrie. Latena. La Roche. La Rochefoucauld. L. de C. Lecomte. (J.) Legou vé. Lemesle. Lemontey. Leoni. (F. E.) Leroux. (P.) Lesage. ÁLBUM 205 Levis. Ligae. (o príncipe de) Limayrac. (P.) Lingrée. Lope de Vega. Luiz xiv. (rei de França) Lutherio. Lycurgo. M Macedo. (L. de) Mafoma. Magalhães. (D. J. Maistre (X. de) Malherbe. Manon. Marechal. (S.) Marivaux. Marmontel. G. de) Massillon. Maurício de Saxonia. Meilhan. Menandro. Mercier. Méré. Michelet. Miguel Angelo. Milton. Mirabeau. Molière. Moncrif. Montaigne. Montaran. (mad. de) Montesquieu. Motteville. (mad. de) Musset. (A. de) Musset. (P. de) 200 DICCIONARIO N Napoleão I. Xecker. (mad.) Nicolau Tolentino. Nicole. Ninoa de Lenclos. .Nodier. (Gh.) Ovídio. Oxenstiern. Pascal. Paulo de Kock. Perret. Petiet. Petit Semi. Petrarca. Petrone. Plinio. Plutarco. Poincelot. Pompadour. (mad. de) (G.) Propercio. Prevost. Publio Syro. Puisieux (mad. du) Pythagoras. ÁLBUM 207 Q Quintiliano. R Regnier Détourbet. Reis Quita. (D. dos) Remusat. (mad. de) Retif de la Bretonne. Reveroni. Ricard. (A.) Riccoboni. Ricbardson. Richter. Rieux. (mad. de) Rivarol. Rochebrune. Rochpèdre. Rochester. Roland.j![(mad.) Romainville. Romieu. Rousseau. (J. B.) Rousseau. (J. J.) Santo / S. Bernardo. S. Francisco. S. Francisco Xavier. S. Gregório. S. Jerónimo. S. Pedro. S. Thomas. Santa Tbereza. Saint Beuve. Saint Gyprien. Sainte Foix. Saint Evremont. Saint Prosper. Salle. (A. de la) Salm. (mad. de) Salamão. Sarrazin. Sartory (mad.) Say. (J. B.) Schiller. Scribe. Scudéri. (m. elle ) DICCIONARIO Sénancourt. Séneca. Sevignt?. (mad. de) Shakspeare. Sócrates. Sommery. (m. elle de) Sophie Arnoud. Sophie Gay. (mad.) Staal Delaunay. (mad.) Stael. (mad. de) Statal. Stendhal. Sterne. Stobée. Suard. T Tácito. Tasso (T.) Tendia, (mad. du) Terêncio. Thales. Theocrito. Theophilo Braga. Tuoré. Thucydides. TiJly. Tobin. Tour. (mad. de la) Trublet. Turenne. Valmore. (mad.) Varenne. (Pb. de) Vauvenargues. Victor Hugo. Vidal (E. A.) Vigny. (A. de) Villemot. Virey. Virgílio. Vives. Voisenon. Voltaire. ÁLBUM W Walsh. Wieland. Woillez (mad.) Young. ÍNDICE A Abandono 9 Acaso 9 Acção 9 Aceio 10 Acommettimento 10 Adivinhar 11 Admiração 11 Adorador 11 Adulação. . 12 Adultério 12 Afagos 13 Affectação 14 Affecto 14 Afouteza 14 Agradar 15 Agrado 16 Alegria 16 Aleivosia 16 Alma 17 Amabilidade 17 Amanhã 18 Amante 18 Ambição 20 Amigo 21 Amizade 22 Amor 23 Amor-proprio 30 Ancião 30 Annel 32 Animaes 32 Anjo 33 Anno 34 Apparencia 34 Ardil 35 Arrojo 36 Arte 36 Asneira 36 Assiduidade ...... 37 Atavio 37 Atrevimento 38 Attenção 38 Auctoridade 38 Ausência 39 Avareza 40 Aversão 40 Aza 40 D1CCI0NARI0 Baile 41 Banho 42 Barba 42 Beijo 42 Belleza 43 Bem 45 Bondade 45 Cabeça 46 Cadeia 46 Campo 47 Candura 47 Canto 48 Caridade 49 Carinhos 49 Carnaval 49 Carta 50 Castidade 50 Casamento 51 Cegueira 53 Celibato . 53 Character 54 Circumstancia 55 Ciúme 55 Cocheiro 57 Cólera 57 Combate. . . 57 Começo 58 Commercio 58 Compaixão 58 Comparação 59 Concórdia 59 Condescender 59 Confiança . . 60 Confidencia. 60 Confissão. . 60 Conhecimento 61 Conquista . 61 Consciência. 61 Consideração 62 Consolação . 62 Constância . 62 Constrangimen 63 Contradicção 63 Contentamento 64 Contestação. 64 Conversação 64 Coração . . 65 Coragem. 66 Corar. . 67 Corpo . 67 Correcção 67 Costumes 68 Cousa. . 68 Credulidade 69 Criança . 69 Crime. . 70 Cura . . 70 Curiosidade 71 D Dança 72 Dar 74 Declaração 74 Defeito 75 Delicadeza . 76 Depravação 76 Desafio 77 Desavença 77 Desconfiança 78 78 78 80 80 Dever 81 Devoção 82 Dia 82 Diabo 83 Diffamação 83 Dinheiro 84 Discrição 85 Distracção 85 Divorcio 86 Doçura 86 Doença 87 ÁLBUM Dor . . Duração. Duvida . 213 E 90 Egoísmo 90 Elogio 91 Emoção 91 Encanto 92 Enfado 93 Engano 93 Entrevista 94 Erro 95 Escolha 95 Escravidão 96 Escrever 96 Espelho 96 Espera 97 Espirito 98 Esposo 99 Esquecimento ...... 100 Exemplo 100 Exigência 100 Experiência 101 p Fallar 102 Falsidade 103 Favor 103 Feialdade 103 Felicidade 105 Fita 105 Flor 106 Força 107 Fortuna 107 Franqueza 108 Fuga 109 Fúria 111 (i Galanteio 112 Gozo 112 Gratidão 113 Gracejo 113 H Habito ........ 114 Historia 114 Homem 115 Honestidade 116 Honra 117 ÁLBUM Idade 118 Igualdade 119 Alusão 119 119 . . . ... 120 Inconstância 120 Indiferença 121 Indiscrição. . . ... . 121 Indulgência 121 Infelicidade 122 Inferno 122 Infidelidade 122 Ingratidão 123 Innocencia 124 Jogo 125 Juízo 125 Juramento 125 Lagrimas 127 Lembrança 128 Leque 129 Leviandade 129 Liberdade 130 Libertinagem 130 Lisonja 131 Livro 131 Loucura 132 Louvor 133 Lua 133 M DICCIONARIO N O Macrreza 134 Mal 134 Maldade 134 Mão 135 Marido 135 Medico 136 Medo 137 Memoria 137 Menina 137 Mentira 138 Milagre 139 Mocidade 140 Moda 140 Moderação 141 Modéstia 141 Momento 142 Morte 142 Mulher (contra) 144 Mulher (pró) 146 Musica 148 Mysterio 148 Namoro 149 Não 149 Natureza 149 Nome 150 Noite .150 Novidade 151 Obstáculos 152 Occasião ,. , 152 Ociosidade 153 Ódio 153 Olhar 154 Olhos 155 Orgulho . 156 Ouro 156 Ouvido 157 ÁLBUM Paciência 158 Paixão 158 Parecença 159 Pé 159 Peccado 160 Pensamento 160 Perdão 161 Perigo 162 Persuasão 163 Pezar 163 Pobreza 164 Polidez 165 Porvir 165 Prazer 165 Precaução 167 Preferencia 167 Presença 168 Presente 168 Presumido 168 Presumpção 169 Primavera 169 Promettimento 170 Provocação 170 Prudência 171